É difícil a um estado sobreviver incólume a um conjunto de governadores montados numa soma de incompetência, corrupção e todo um jogo político capaz de transformar uma das mais importantes unidades da Federação num caos que sobrevive por conta do que restou e luta para resgatar todo o esplendor que Estácio de Sá enxergou na primeira vez que chegou ao Rio de Janeiro.
Desde o fim da ditadura o Estado do Rio de Janeiro teve um governador identificado com o epíteto – digamos assim – de Cidade Maravilhosa, que pode ser aplicado ao resultado Guanabara mais Rio de Janeiro, invenção do general Ernesto Geisel. Falo de Leonel Brizola.
No período ditatorial, a exceção de Francisco Negrão de Lima, ainda Guanabara, todo o resto era resto mesmo. Uma espécie de rebotalho de um período sombrio da história do Brasil. E olhe que Faria Lima tinha um handicap. Não metia a mão no bolso de ninguém. Falo da turma do poder, tinha a turma do lado de cá que guardava a sete chaves a beleza da vida (Milton Temer, Max da Costa Santos, Ruben Paiva, Ruben Moreira Lima, muitos, muitos mais).
Moreira Franco, Marcelo de Alencar, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e agora Sérgio Cabral, de permeio um período de Benedita da Silva.
Correndo por fora todo um aparato de casas no paraíso vendidas por Edir Macedo, sicários e assemelhados.
O BOPE é conseqüência natural disso daí.
Uma excrescência que surgiu nos EUA – tolerância zero – e foi aprimorada por técnicas de barbárie desenvolvidas em Israel e que eletriza multidões. Como está, corre o risco de inaugurar, em breve, estátuas do ex-deputado Sivuca em todas as praças públicas como exemplo a ser seguido. Jair Bolsonaro vai cortar as fitas nos atos de inauguração.
O tenente Wolney de Paulo arvorou-se em governador do Batan, um complexo residencial da cidade do Rio de Janeiro. Controla a funcionária da associação dos moradores que é sua nora e o Centro de Educação Tecnológica através de sua mulher, ambas com salários razoáveis. Mas razoável mesmo, prá lá de razoável é o poder do tenente.
Candidato a deputado estadual pelo PSB sofreu forte e contundente derrota, não permitiu campanha para outros candidatos na região (as ameaças foram garantidas pelas chamadas UPPs – UNIDADES DE POLÍCIA PACIFICADORA) e se declara agora disposto ao “sacrifício” de vir a ser candidato a vereador nas eleições municipais do próximo ano.
Em Minas Gerais, de Belo Horizonte para baixo, é comum as famílias abastadas ou de classe média exportarem seus sociopatas para o Rio de Janeiro. A presunção que uma substancial mesada e a distância resolvem o problema e os inconvenientes criados em suas cidades de origem.
O volume de histéricos e histéricas exportados para o Rio é incalculável. E curiosamente ou são bebuns (inofensivos, alguns até brilhantes) ou são “guerrilheiros” da histeria que toma conta de mineiros que entendem que o mar é um piscinão e sonham com uma vereança representando Ipanema. Tudo com sotaque, puxando no “x”.
Sonho de alguns mineiros nas décadas de 50, 60, 70 e 80 do século passado era Copacabana. Hoje, dada a origem – classes altas e médias – é Ipanema. Muitos e muitas ameaçam querer ser vereadores.
Ari Barroso, o notável compositor, mineiro de Ubá, foi vereador à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, ainda capital da República, eleito pela antiga UDN e desistiu de ser candidato à reeleição com o argumento que “é um trem muito chato esse negócio”.
O fato é que o Rio, a despeito de dois extraordinários mandatos de Leonel Brizola, não consegue sobreviver à soma de Moreira Franco (ministro de Dilma), Marcelo Alencar, Benedita da Silva, Anthony e Rosinha Garotinho e agora Sérgio Cabral Filho, o amigo de Luciano Huck (que já manifestou vontade de ser presidente da República para ajudar as pessoas a consertarem seus automóveis antigos e quebrados).
Inveja de Alagoas que produziu Collor de Mello. Ou de São Paulo que gerou FHC.
Mas nada disso, ou esses transformam o Rio num inferno. Pelo contrário. Falo da cidade que abrigou Sérgio Porto, os pernambucanos Antônio Maria, Vinícius de Moraes e Nelson Rodrigues, o gaúcho Leonel Brizola, tantos outros, a cidade sobrevive no espírito e vontade recôndita e explícita de cariocas.
Existe gente como Sílvio Tendler, Ana Helena, que transcendem como se nuvem fossem a toda e qualquer espécie de Sérgio Cabral e do tenente Wolney de Paula.
À época do Ita – “tomei um Ita no norte...” –, Carlos Drumond de Andrade veio de ônibus mesmo e com ele Rubem Braga, Fernando Sabino, a despeito da invasão da mediocridade de hoje, histéricos e histéricas. Braga era capixaba.
E olhe que o conceito definitivo de histéricos e histéricas é ainda incompleto, objeto de debates, variou ao longo dos séculos, mas foi associado, num determinado ponto, ao narcisismo.
O diabo é que Narciso, à época, não transformava a beleza absoluta em copos de chope e quejandos (não confundir com queijo) e nem tinha pretensões inconscientes de integrar o Exército da Salvação tocando trombone em Ipanema.
Não era nada disso, Freud, entre 1998 e 1893 transformou e associou o conceito de histeria à idéia de Charcot, origem traumática, abusos sofridos na infância.
Pode ser entendido como uma Lady Godiva que ao invés de percorrer o vilarejo nua e montada num cavalo como forma de punição, sai carregando bandeiras com uma porção de bolinhos de bacalhau e copos de chope nos gritos de liberdade, mas naquele negócio soldadesco de ter que marchar para não pensar.
Godiva ao contrário.
Kulbrick fala disso, ou mostra isso em DOUTOR FANTÁSTICO, quando a verdadeira mão, a direita, escapa por falta de controle.
O Rio como um todo, para voltar a ser o que Brizola dizia – a caixa de ressonância da vontade do País – precisa urgentemente de união dos cariocas/fluminenses, agregados lúcidos, responsáveis, para reencontrar-se com sua história e sua fantástica beleza para não se resumir a um tenente do BOPE querendo ser vereador enquanto pratica o mais deslavado nepotismo, ou o bando de histéricas/histéricos que acreditam que a verdade está em São Paulo.
E antes que seja tarde.
Eu mesmo há uns vinte anos atrás vi um beija-flor na casa de uns amigos.
Sinal que tem salvação.
Não pode virar DORIL. A fórmula é laboratórios estrangeiros.
E nem falei de Aécio Neves.
Só da tropa rasa.
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