sexta-feira, 8 de outubro de 2010

ABORTO - O QUE ESSA DISCUSSÃO ESCONDE - Laerte Braga

Quando era candidato a prefeito de São Paulo (2004) o candidato José Arruda Serra foi desafiado pelo jornalista Boris Casoy (seu aliado) a assinar um documento comprometendo-se a cumprir o mandato até o final caso fosse eleito. Foi eleito e não cumpriu o mandato, nem honrou, lógico, o compromisso assinado.
Arruda Serra tem pânico de discutir programa de governo. Prefere falar sobre saúde de maneira superficial, o que faz sobre qualquer outro tema que seja objeto de debate. Tem ojeriza a discutir idéias, princípios.
Idéias e princípios variam de acordo com a eleição que estiver disputando. Pode ser contra um determinado ponto hoje, a favor amanhã, vai depender das conveniências eleitorais.
É o caso do aborto. O que se esconde por trás de um debate estéril e histérico em torno do assunto?
Por que não perguntar a José Arruda Serra o que será da PETROBRAS (e do pré-sal) caso venha a ser eleito?
Ou do Banco do Brasil? Das políticas sociais do governo Lula?
Quando critica a política externa do atual governo o candidato tucano propõe o que? O Brasil hoje é protagonista no cenário mundial. Arruda Serra esconde que seremos coadjuvantes num eventual governo tucano. A exemplo do que aconteceu com FHC a política externa será de alinhamento com Washington.
É conveniente a Arruda Serra discutir a questão do aborto.

Há duas formas, pelo menos, de você mostrar-se diferente do que é quando disputa uma eleição.
A primeira delas a mentira. Arruda Serra usa e abusa dessa. Há poucos anos atrás sua posição sobre aborto era diversa da de hoje.
Impor o medo. A segunda e o jeito mais perverso de dominar as pessoas, escravizar e atingir seus objetivos.
Ao tentar imputar a sua adversária Dilma Roussef declarações que Dilma não fez, por ele ou pelos seus, Arruda Serra desloca o eixo do debate principal, o Brasil, os rumos que o País tomará em seu futuro e assim mente e cria o medo em determinadas camadas da população.
Vejamos o que aconteceu em Minas Gerais no primeiro turno das eleições deste ano. O ex-governador Aécio Neves elegeu dois postes. O atual governador Antônio Anastasia e o ex-presidente Itamar Franco. Exceto em atos de campanha oficial do PSDB, seu partido, em toda a campanha o nome Arruda Serra foi evitado, inclusive em material de divulgação.
O lema em Minas era DILMASIA, junção de Dilma com Anastasia. Arruda Serra era o demônio para tucanos mineiros inconformados com o fato do próprio Aécio não ser o candidato a presidente.
No caso específico do ex-governador e agora senador eleito, as palavras com que Aécio brindava Arruda Serra eram aquelas que normalmente são chamadas de impublicáveis.
É que em disputa interna dentro do PSDB para obter a indicação presidencial Arruda Serra através do jornalista Juca Kfhory sugeriu que Aécio era viciado em drogas e num evento no Rio de Janeiro estapeou uma namorada em estado deplorável, ele, Aécio.
Foi ali que Aécio saiu do páreo.
O ex-presidente Itamar Franco, que em determinado momento de sua vida pública por pouco não vira prefeito de Aracaju passando por Niterói, não mete a mão no bolso de ninguém, mas também é apenas um projeto pessoal, o ex-presidente quer que Arruda Serra entregue a coordenação de sua campanha no segundo turno a Aécio.
Itamar apoiou Marina em sua região no estado de Minas, acusou Arruda Serra de apropriar-se dos genéricos lei gerada a partir do ministro Jamil Haddad em seu governo, FHC de apropriar-se do real que foi implantado em seu governo e neste momento lambe botas paulistas posando ao lado de Arruda Serra.
A memória é curta e o caráter nem se fala.
Discutir questões como o aborto é conveniente a essa gente. Afasta os temas outros da campanha, arrasta fanáticos religiosos (vale dizer introduz na disputa eleitoral um ingrediente perigoso para a liberdade de expressão), ajuda aproveitadores que se valem desses fanáticos e cria uma sensação artificial de terror gerada pelo medo que permite a Arruda Serra, além de não debater temas importantes, passar incólume diante desses mesmos temas.
Ou seja, ir levando a campanha sem ter necessidade de dizer o que de fato significa para o País. Um retrocesso sem tamanho e a volta ao estágio de colônia.
As eleições no Brasil transcendem ao nosso País. Há uma expectativa mundial por quem vai ser o próximo presidente da República de um País com dimensões continentais, que em oito anos se transformou em uma das economias mais pujantes e promissoras de todo o mundo. Que passou sem sustos maiores pela crise que afetou os chamados grandes e ocupou um espaço na nova geopolítica mundial, a chamada nova ordem, até então vazio.
No governo de FHC o ministro das Relações Exteriores do Brasil era revistado no aeroporto de New York, chegava a tirar os sapatos.
Que tal perguntar a Arruda Serra sua opinião sobre bases militares norte-americanas no Brasil?
Sobre a ALCA – ALIANÇA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS – que transformou o México (NAFTA, acordo que une EUA, Canadá e México) em terra de ninguém?
Todas as vezes que é questionado sobre o governo FHC, o que significa sua candidatura o candidato tucano diz que não se pode ficar olhando para o passado. Mas, para o futuro.
Essa resposta comporta duas leituras. Não se deve olhar para o passado subentende-se que o passado foi ruim. Para o futuro, mas que futuro?
Não se constrói o futuro sem o passado e sem o presente. Do contrário sequer existiríamos.
Um, o futuro, é conseqüência do que se construiu no passado, ou do que se corrigiu, outro, o presente, é opção exatamente por um futuro de fato ou um futuro igual ao passado.
Por trás da discussão histérica e estéril sobre o aborto o que se esconde é isso. Gerar o medo, deslocar o eixo das discussões sobre grandes temas nacionais e esconder as reais intenções de gente como Arruda Serra, Itamar Franco, Aécio Neves, FHC, etc.
Breve um código de posturas para os brasileiros. Não pode ir à rua assim, ou assado, mas tem que ser desse jeito.
E por trás disso um detalhe. Se atentarmos para os temas que Arruda Serra direta ou indiretamente coloca, caso do aborto, vamos perceber que a mulher é a grande vítima, aquela que é estigmatizada no machismo brutal de políticos destituídos de respeito por quem quer que seja.
Olhe, depois de ser chamado de “drogado” por Arruda Serra, Aécio, se coloca à disposição de Arruda Serra para o segundo turno.
Isso não é só falta de vergonha, é de tudo. Dizem, aliás, que os viciados se prestam a qualquer papel em troca da droga.
Engolir Arruda Serra, depois de tudo o que disse sobre genéricos, plano real, é típico de figuras patéticas como Itamar Franco. Foi assim quando decretou a moratória das dívidas de Minas quando governador. Trovejou, relampejou e depois sentou em cima.
“Guampada de boi manso” como dizia Getúlio Vargas
Jogo de cena para a platéia enquanto o rio corre um curso diverso daquele que buscam fazer com que o povo acredite.
O retrocesso não tem tamanho com essa gente.
Um ex-líder da bancada tucana na Câmara dos Deputados, prefeito de uma cidade mineira, no seu primeiro mandato de prefeito foi informado da morte de uma pessoa numa fila por falta de atendimento médico. Preocupado com o impacto da notícia nas eleições (à época) disse o seguinte – “e daí, morre gente todo dia”.
É o tamanho do respeito de tucanos pelos brasileiros e pelo Brasil.

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