sábado, 5 de novembro de 2011

FAROESTE CABOCLO - A VIDA NO ESPÍRITO SANTO NÃO VALE UM CENTAVO - Laerte Braga

Um dos mais belos estados brasileiros, o Espírito Santo, ganhou fama nacional e internacional por conta da violência gerada pelo crime organizado. E não foram poucas as vezes em que esse se instalou no Palácio do Governo.
O ex-governador Paulo Hartung, do PMDB, é um desses criminosos. Passeia desde a corrupção plena e absoluta ao assassinato – é mandante da morte do juiz Alexandre Martins – e, lógico, como todo chefão do crime organizado, no caso o maior do estado, com profundas ligações com quadrilhas menores, mas nem por isso menos perigosas.
O resultado é simples. Hartung (e alguns dos seus antecessores) conseguiram transformar o Espírito Santo, suprema ironia, num porto seguro para bandidos, sejam eles criminosos puros e simples (ladrões, assassinos, etc), sejam eles os empresários que controlam a máquina pública, a instituição governamental, incluindo aí boa parte do Judiciário, Assembléia Legislativa (a imensa maioria) e que, no frigir dos ovos transformaram tudo num grande latifúndio da bandidagem ampla, geral e irrestrita.
O prefeito de Vitória, João Coser, PT, por exemplo, não dorme. Tantas foram as que fez – entrou pobre remediado e vai sair milionário da Prefeitura – que Hartung, no velho esquema da chantagem, é óbvio, colecionou provas materiais contra Coser e o tem em suas mãos. Dentro do seu partido boa parte dos petistas querem ouvir falar no diabo, mas não querem saber de Coser, um pilantra pego com a boca na botija e no bolso de Paulo Hartung.
Hartung tem cúmplices poderosos e é inexplicável que diante de tantas trapaças, tantos crimes, todo esse complexo, digamos assim, de violência e corrupção não tenha sido ainda federalizado, já que é impossível a Justiça do Espírito Santo dar fim à seqüência de crimes contra o povo e especificamente contra os que se opõem ou tentam levar adiante investigações, inquéritos e processos contra o todo da quadrilha Hartung. PSDB e DEM, além de outros, são cúmplices no Espírito Santo e aliás, a filiação partidária perdeu sentido na maioria dos casos, pois se presta apenas a situações de momento em função dos interesses do crime organizado.
O atual governador Renato Casagrande é um banana. Faz que governa, assina portarias dispondo sobre o uso dos banheiros do palácio, enquanto Hartung mantém o controle de todo o resto do aparelho estatal.
Há indignação entre setores íntegros do Ministério Público, da Justiça, da Polícia, na infinitesimal parcela de políticos decentes, numa parte da mídia, entre os cidadãos que não se deixam levar pela parte da quadrilha no setor – REDE GAZETA, afiliada da GLOBO, evidente – enfim, entre aqueles que se recusam a crer que o Espírito Santo seja um antro de bandidos.
Um só caso para se ter idéia de como funciona a “coisa”.
Édson Barcellos era um servidor público no município de Conceição da Barra. Filiado ao DEM, foi eleito presidente do Sindicato dos Servidores Públicos daquela cidade. Cismou de trazer a público denúncias de corrupção envolvendo o prefeito Jorge Donati – latifundiário, fabricante de pesticidas, assassino, corrupto –. Tiro e queda. Donati contratou um pistoleiro de alcunha – como se dizia nas antigas reportagens policiais – de nome Porquinho e encarregou-o de eliminar o incômodo, Édson. Porquinho contratou três outros “ajudantes” e o sindicalista foi morto. Para descaracterizar qualquer suspeita de crime político, deram ao assassinato a aparência de latrocínio.
Édson havia denunciado improbidade administrativa, compra de votos, utilização indevida de recursos do FDNE – Fundo Nacional da Educação – e a transferência irregular do centro administrativo de Conceição da Barra para o distrito de Braço do Rio. Isso, entre outros feitos do marginal Jorge Donati.
Versão de Hildebrando Paschoal no Espírito Santo.
A família do sindicalista não engoliu a versão de assalto seguido de assassinato. Contratou dois advogados, os doutores Carlos Pagiola e Luís Roberto. Começou a “desencravar” todas as malfeitorias do prefeito Jorge Donati.
Começa aí a trajetória abafa caso. Delegados e juízes que não aceitavam a tutela do criminoso Jorge Donati eram “promovidos” e retirados de Conceição da Barra. Foi o caso do delegado Fabrício Dutra. Saiu de Conceição da Barra para uma delegacia em Vitória, capital do estado.
O promotor de nome Bruno, que incriminava Donati no seu relatório, apontava-o como mandante do crime, foi “promovido” para Linhares. Foi a maneira que entenderam de silenciá-lo, colocando-o sob a tutela de Carlos Elias, ex-prefeito e ex-deputado federal, isso em Linhares. Esteve envolvido na CPI dos sanguessugas e é latifundiário e fabricante de agrotóxicos (esse tipo de quadrilheiro tem ramificações internacionais).
Num trajeto um tanto estranho o processo contra Donati e os executores do crime foi levado ao Tribunal de Justiça do Estado (vários desembargadores foram presos dois anos atrás por corrupção) por um detetive e estranhamente o funcionário do TJ recusou-se a assinar o conhecimento, o simples recibo do processo. Consta de relatório do policial feito ao juiz doutor Madeira.
O procurador Fábio Vello prometeu à família que até o dia 31 de outubro iria “colocar o processo para a frente”. Se pôs, não sei e se o fez, com certeza, foi milagre.
Três dos quatro acusados do assassinato de Édson ao serem transportados para Vitória, capital do estado, Porquinho, o quarto, foi assassinado três dias após a morte de Édson, confessaram que Jorge Donati era o mandante. No percurso foram induzidos por Oséias a não falar nada, a não abrir a boca. A denúncia é do delegado Fabrício Dutra e a confissão consta do depoimento que prestaram na fase inicial do inquérito.
Existe um vídeo em um dos processos onde os assassinos confessam que mataram Édson a mando de Jorge Donati, o prefeito (cúmulo da esculhambação).
Jorge Donati responde a processo pelo assassinato de sua mulher. Mandante (esse tipo de criminoso é covarde por natureza, ou seja, valente quando cercado de seus capangas, covarde quando sozinho, por isso prefere mandar que façam). E até hoje não foi levado a júri. O processo está concluso à espera de uma decisão, data para julgamento, vale repetir, júri popular.
Os presos acusados de executar Édson são todos reincidentes, têm o hábito do latrocínio, dos assaltos a mão armada, perfeitos para a empreitada pretendida por Jorge Donati.
O padre Moacir, de Conceição da Barra está sob ameaça. Dois dias antes do assalto em conversa confidencial soube do mesmo através de um dos criminosos, provavelmente sob confissão, o que o impede segundo as leis canônicas de revelar o fato. Por via das dúvidas Donati mantém o sacerdote no fio da navalha.
A maior parte da família de Édson deixou a cidade. Lá ficaram uma irmã e a esposa. A irmã de Édson é professora e várias vezes a escola onde trabalha recebeu telefonemas com ameaças. Eram simples – “bico calado para não morrer também.”
O processo contra Oséias Oliveira da Costa e outros tem o número 151 0000 9388 e o processo contra Jorge Donati, acusado de mandante, tem o número 015.11.001102-8.
São “respeitáveis” cidadãos do Espírito Santo que dizimam o estado, roubam dinheiro público, cuidam dos “negócios sujos” e matam através de pistoleiros.
Não é privilégio só do Espírito Santo. Lá, no entanto, atinge a requintes de tal ordem que assusta e envergonha, pois a instituição Estado está podre e é irrecuperável no tamanho dessa podridão.
Um câncer que começa com uma figura repulsiva, o ex-governador Paulo Hartung, criminoso de amplo espectro e sem escrúpulo algum.
Se não houver intervenção direta das autoridades federais no caso, o mais provável é que Édson seja condenado a cumprir pena, mesmo morto, enquanto os criminosos ganham liberdade e permaneçam impunes.
Registre-se que Paulo Hartung deseja ser candidato a prefeito de Vitória e já avisou ao atual prefeito João Coser para não complicar sua vontade, pois do contrário mostra as provas que tem contra ele. Desde esse “aviso” Coser anda com várias mudas de roupa numa sacola. É que quando suja uma de medo, tem que trocar por outro, óbvio.

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