segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O SAQUINHO DE BOLAS, OS GUARANI-KAYOWAS E REGINA DUARTE - Laerte Braga

Laerte Braga
Nos antigos colégios internos era comum a realização de “assembléias”, onde diretores, professores e convidados transmitiam lições de moral e cívica. Numa dessas assembléias, em meu tempo de ginásio, ouvi uma história interessante (muitas ilustrações orais usadas pelos palestrantes o eram).
Falava de duas mulheres, a patroa viúva e a empregada solteira. As duas com forte dose de religiosidade. Num dado momento a patroa propôs a empregada que cada uma delas tivesse um saco e ali depositassem uma bola cada vez que pecassem. Ao final do ano saberiam qual das duas era a mais pecadora, ou apenas a pecadora.
A patroa viúva vivia em casa a maior parte do tempo e a empregada após o seu trabalho ia se encontrar com o namorado.
Ao final do ano, no momento de contar as bolinhas, a empregada chegou à sala arrastando um saco pesado ao contrário da patroa um saco leve. Ao virar o seu saco para contar as bolas a empregada espantou-se, pois nenhuma bola caiu e de repente o saco se mostrou vazio. O saco vazio da patroa, ao contrário, deixou cair 365 bolas, simbolizando 365 “pecados”.
Segundo o palestrante e ante o espanto de ambas um anjo desceu até o centro da sala e diante das duas ajoelhadas e contritas, explicou o fato. As 365 bolas que não caíram do saco da empregada, haviam sido postas ali por ela, sumiram por um motivo simples. Nas noites em que saíra com o namorado e (vou usar a expressão do palestrante) tiveram “relações carnais”, houve em cada dia um ato de amor. Ao contrário, na única vez que “pecou” (vou usar outra vez a expressão do palestrante, que certamente quis dar maior ênfase ao “pecado”), a patroa o fez por hipocrisia com “um amigo da família”, já que toda a “pureza exibida apenas encobria pensamentos sujos”.
É característica das nossas elites políticas e econômicas. A presunção da “pureza”, que aqui pode ser substituída por mais que hipocrisia, mas por absoluta desfaçatez e não em “relações carnais”, mas no aspecto político de dominação. Se vê isso muito hoje em igrejas neopentecostais, que no simples trato de questões do cotidiano se transformam em agentes do conformismo e do fanatismo religioso a serviço de interesses dos senhores.
A crítica pública a uma pessoa só tem sentido ser for conseqüência de uma atitude, um desempenho, se for política. Do contrário se ganha um cunho pessoal, meramente pessoal não tem razão de ser. Acaba não sendo crítica.
A situação dramática dos índios brasileiros, agora com repercussão internacional face à chacina contra Guarani-Kaiowás, é a mesma que transformou o general Custer e sua cavalaria em herói de vários filmes de John Wayne dizimando índios para que o “progresso” pudesse chegar. Há uma prática de longos anos de criminalizar o índio, de transformá-lo em bárbaro, em um ser cruel e atrasado e a mania de catequizá-lo com as idéias do “homem branco”. Não busca transformá-lo em branco, mas em escravo, ir eliminando os povos nativos, no caso do Brasil por exemplo, enquanto o tal progresso não passa do transgênico/veneno que comemos todos os dias nas tecnologias capitalistas de empresas como a MONSANTO, associada a boçais que permanecem assim desde o primeiro pingo de vida no Planeta, falo dos latifundiários. E são parte do governo na tal base aliada.
O genocídio que se estende a todas as nações indígenas do Brasil, como em outros países, como antes nos EUA, é o mesmo, por exemplo, que criminaliza muçulmanos, negros, pobres, que despeja Pinheirinhos e que implanta modelos cosméticos, mas violentos de “pacificação”, sem que o trafico de droga, alvo das UPPs, sofra um só arranhão. Permaneça intacto, até com a cumplicidade dessa aberração chamada Polícia Militar, inaceitável num estado dito democrático.
Pessoas. Marilyn Monroe num determinado momento de sua carreira, quando atingiu o ápice, fez uma declaração interessante e definitiva sobre determinadas situações que viveu. “Agora não preciso mais fazer trabalho de blow job em donos de estúdio para conseguir papéis. Sou uma mina de ouro para eles”.
Quando o privado se mistura ao público a crítica à pessoa é correta, necessária e importante para que se possa ter a real dimensão do problema, refiro-me à questão dos índios, ao genocídio impune, com guarida no STF (Supremo Tribunal Federal) e, especificamente a ex-atriz Regina Duarte. É necessária porque a pessoa se transforma em instrumento da classe dominante por si e por seu mau caratismo.
Tentar compará-la, por exemplo, em qualquer plano, a Marilyn Monroe seria um ato de insanidade, o problema é outro. O blow job é um expediente usado e pode ser em si, ou como conceito de forma de ser. O que em muitos momentos é um ato de amor vira um aríete a serviço dos donos.
“Tenho medo, estou com muito medo”. Foi uma declaração da ex-atriz feita em 2002, pouco antes da eleição de Lula, atendendo a um pedido de FHC. Protagonizou situações constrangedoras ao ex-presidente, quando ainda senador e era a principal “cabo eleitoral” de FHC em São Paulo. Constrangedoras do ponto de vista público e do ponto de vista familiar.
Entre atores é considerada por muitos como “mau caráter”, por ter usado todos os expedientes para alcançar papéis, até consolidar uma situação, ou seja, a hipocrisia da patroa e sua única bolinha que acabou se transformando em 365 bolas.
Celso Furtado, um dos maiores pensadores do País, do mundo, fez uma constatação importante já no final do século XX. “A revolução feminista foi a mais importante revolução do século XX”. Segundo ele, maior que a própria revolução bolchevique. Estendia-se ao mundo inteiro e trazia, como trouxe, a mulher para o centro do palco, tirava-a da condição de espectadora para a de protagonista do processo político e econômico.
Quem vê as fotos de Ernesto Chê Guevara em camisas dos mais variados tipos, cores, etc, muitas vezes não percebe que o capitalismo se apropriou do Chê e o transformou em lucro, o que não diminui sua extraordinária importância histórica e seu exemplo de conduta como “lutador do povo” (expressão criada por César Benjamin). Mostra a amoralidade do capitalismo.
Ao perceber a ascensão da mulher ao centro do protagonismo político e econômico o capitalismo se apropriou dessa conquista fantástica, para criar a mulher objeto. Ou seja, a liberdade da mulher continua sendo uma luta para que possa ser mulher e não mercadoria. O machismo é bem mais que ser senhor de alguma mulher, mas é manter intocado o sistema capitalista preso ainda à Idade Média, agora a Idade Média da Tecnologia, os castelos complexos dessa tecnologia. São simples – exploradores e explorados.
Regina Duarte nesse contexto é mercadoria. Ao comparecer a um seminário da Sociedade Interamericana de Imprensa está vendendo sua imagem (ou o que resta dela) à defesa da “liberdade de expressão”, a intocabilidade das famílias que controlam a mídia de mercado no País. Ou seja, lutando para o JORNAL NACIONAL continue sendo o símbolo de um poder que se criou na ditadura militar e tem o telespectador em tudo o que envolve a GLOBO, o grupo, estou tomando-o aqui como síntese, na conta de idiota, ou “Homer Simpson”, o ingênuo que acredita piamente em tudo o que se lhe é passado em nome do patriotismo, do modelo, do sistema. Ou defendendo as mentiras largamente demonstradas de VEJA e todo o contexto que significa mídia como braço do capitalismo, da classe dominante.
Na novela ROQUE SANTEIRO, de um dos maiores autores teatrais do País, Dias Gomes, a moça de um cabaré, o cabaré da cidade, sonha com um rico fazendeiro se apaixonando por ela e levando-a, depois do pedido de casamento, para sua grande fazenda. No último capítulo o fazendeiro se materializa em Tarcisio Meira e a moça, Isis de Oliveira alcança seu sonho.
Latifundiários desprezam o romantismo/crítico que Dias Gomes imprimiu ao fato, para simplesmente comprar quem se dispõe ao blow job.
A mercadoria/latifundiária Regina Duarte é, neste momento, o principal porta-voz da barbárie capitalista contra os índios Guarani-Kayowas. Não entende nada de revolução feminista e nem do papel da mulher na construção de um modelo alternativo que, entre outras coisas, exclua a barbárie, a vitória pelo blow job, ou aquele em que o blow job seja um ato de amor como o da empregada/trabalhadora. Bem longe da hipocrisia da patroa.
E até na visão do anjo segundo a historinha.

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