O bispo emérito de Lusaka, Zâmbia, e Patriarca da África, Emmanuel Milingo, disse ontem em Belém que a Igreja Católica não pode prosseguir com a excomunhão que ele sofreu por defender o casamento dos padres e a Igreja Católica Carismática, da qual ele é o patrono - duas coisas que a Igreja repudia. “Essa atitude de punição é contra a própria ideologia da Igreja Mãe. Ela não pode excluir seus filhos e condená-los sem perdão”, disse Milingo, que participou pela manhã, da abertura do Congresso Nacional dos Padres Casados, no auditório da Universidade do Estado do Pará, no Telégrafo.O bispo Emmanuel Milingo ficou famoso no mundo inteiro depois de se aposentar e virar assessor do Papa João Paulo II. Ele poderia até ter sido o primeiro papa negro da história, como chegou a ser cogitado depois da morte de João Paulo II, mas suas ideias contra o celibato o levaram para o limbo da Igreja e finalmente à excomunhão, depois que ele decidiu se casar com a médica coreana Maria Sun, que o acompanha na visita a Belém.
“Estamos apelando para que ela (a Igreja Católica) volte a ser mãe e como mãe ela tem que abraçar todos os seus filhos. Jesus não veio para os justos, mas para os pecadores. A Igreja tem que aceitar a fraqueza das pessoas, não pode excluí-las”, afirmou o bispo de 82 anos. “O celibato é um preceito, não uma lei divina”.O celibato não existia nos primeiros mil anos da Igreja Católica, que o teria adotado como uma forma de não perder bens conquistados pelos padres daquela época. Depois de observar que alguns monges praticavam o celibato por opção, a Igreja decidiu então impor esse sistema para todos, diz o bispo. “Isso trouxe a hipocrisia para a Igreja, que fala do celibato, mas não mantém o celibato. A Igreja não quer o casamento, mas comete o abuso sexual”.
Hoje existem em todo o mundo mais de 200 mil padres casados, mas a maioria não quer aparecer. ”Eles se preocupam e sentem medo, estão numa prisão”, afirma o bispo.
Sobre a Igreja Carismática, ele cita Lucas, capítulo 9, que diz que Jesus mandou os discípulos irem pelo mundo ensinar o Evangelho, expulsar os demônios e curar os doentes. “A Igreja Carismática faz isso”, segundo Milingo. “Quando Jesus começou o seu ministério, ele deu essa demonstração e viveu assim, orientando todos a fazerem a mesma coisa”.
O movimento carismático dentro da Igreja Católica teria crescido a partir do Concílio Vaticano Segundo, em 1967, o que preocupou os bispos diretores que passaram a condenar a prática. Mas o carismatismo, segundo Dom Milingo “é aquele que age de acordo e pelo dom do Espírito Santo”.
ATOS ILEGÍTIMOS
Em comunicado divulgado na última quinta-feira por Dom Alberto Taveira, a Arquidiocese de Belém afirma que a Igreja Carismática “não está em comunhão com a Igreja Católica” e que o bispo Milingo persiste “na contumácia e no exercício ilegítimo de atos sem mandato pontifício”. Dom Alberto Taveira não foi encontrado pela reportagem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário