Josafá Macedo era o presidente da FAEMG – Federação da Agricultura de Minas Gerais – em 1964. No dia que o general Olímpio Mourão Filho – “vaca fardada” segundo se auto intitulou – partiu com sua “tropa”, já havia feito farta distribuição de rifles aos principais latifundiários de Minas e seus pistoleiros, com uma ordem simples e direta – “se houver necessidade não vacilem é atirar para matar”. Referia-se aos integrantes do movimento das Ligas Camponesas.
Magalhães Pinto era o governador e Aureliano Chaves o secretário de Segurança Pública. Naquele momento Magalhães tinha “constituído” um eventual governo de emergência, isso imaginando a hipótese de resistência do presidente João Goulart. Desse governo faziam parte José Maria Alckmin (com trânsito junto a banqueiros internacionais, a latifundiários e empresários) e Afonso Arinos, no pressuposto que esse “governo” necessitaria de um chanceler.
Nem o general Mourão Filho e tampouco o general Carlos Luís Guedes foram os condutores militares desse processo. Sizeno Sarmento, ligado à linha dura, tinha viajado dias antes para Minas Gerais e assumido o comando efetivo a despeito dos comandantes nominais.
É fácil entender isso. Dentro da banda golpista das forças armadas havia grupos com posições diferentes. Uns chegaram a sugerir uma conversa com Goulart e outros tentavam articular o pós golpe sem maiores surpresas ou traumas, garantindo a “posse” do Brasil aos donos do golpe a um preço mais baixo.
Foi essa disputa que, já nos primeiros momentos, resultou num acordo simples e tácito. A linha dura, pode ser entendida como grupo da boçalidade plena, ficaria com a repressão e a linha branda, a boçalidade com presunções racionais, com o poder político. Durou até Costa e Silva, ministro da Guerra (nome do comandante do Exército), peitar o presidente linha branda Castelo Branco que tinha o intuito de se fazer substituir por um presidente civil. Seria o deputado udenista Bilac Pinto, mais tarde ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).
Nem Costa e Silva terminou o seu mandato (foi afastado por conta de um acidente vascular cerebral, até hoje sem explicação, não se tem comprovação que o general/marechal tivesse cérebro, mas só patas e garras), uma Junta Militar promoveu uma eleição interna capaz de garantir o poder à linha dura e a violência e a barbárie que careciam de “melhor” organização (nem por isso era menos violenta ou bárbara), deitaram e rolaram com a dupla Garrastazu Medice e Orlando Geisel.
É aí que se estrutura a Operação Condor, tudo desde o pré-golpe ao golpe planejado e definido por Washington. Nasce o DOI/CODI, se integram as ditaduras latino-americanas, tudo regado a farta contribuição do empresariado nacional e internacional, o mesmo que posa hoje, por si ou por seus herdeiros, de democrático e desenvolvimentista.
Figuras como Sérgio Paranhos Fleury apareceram por um motivo simples. Os militares que comandavam a repressão não se sentiam “profissionais” da tortura e tampouco “especialistas em interrogatórios”, daí a necessidade de um organismo espalhado por todo o País que abrigasse esses “profissionais” e esses “especialistas em interrogatórios”. No caso bem mais abrangente que Sérgio Paranhos Fleury. As polícias estaduais. Militar e civil.
Isso de forma organizada, estruturada, gente treinada por Dan Mitrione, por exemplo, agente norte-americano e que teve aqui como tradutor o ex-ministro Hélio Costa ligado a setores da inteligência dos EUA. O eufemismo para essa presença (há vários jornalistas ainda em atividade que à época integravam o esquema, via de regra através do Gabinete Militar da Presidência da República) era a USAID. A agência norte-americana para o desenvolvimento entre nações, a colaboração nesse desenvolvimento).
Por esse motivo não é surpreendente que usineiros de Minas tenham cedido aas instalações de suas usinas para a queima de corpos de presos políticos. Eram parte integrante do processo.
A revolta, os engulhos que esse tipo de ação causam, os mesmos que foram vistos nos campos de extermínio dos nazistas e hoje nos campos de sionistas e norte-americanos, são inevitáveis.
É necessário saber, no entanto, que essa gente não mudou em nada. Permanece boçal e bárbara como sempre foi – é como escorpião que se suicida na travessia do rio. Faz parte da natureza deles, o tal “desvio de caráter”.
A FOLHA DE SÃO PAULO não transformou isso tudo numa ditabranda? Não emprestou caminhões que distribuíam jornais para a desova de corpos de presos políticos assassinados nos campos/quartéis da repressão?
A luta pela Comissão da Verdade transcende à própria Comissão à medida que fatos monstruosos como esses vão aparecendo e a força remanescente desse pessoal permanece apenas pela garantia que lhes dá uma anistia montada exatamente para garantir a figuras como Fleury, Brilhante Ulstra, todos eles. A impunidade.
Quando um Brilhante “Pústula” diz que “não matei ninguém” está debochando dos brasileiros e assassinando mais vezes as mesmas pessoas mortas à época da ditadura militar.
Ele e seus “usineiros”. Que podem ser banqueiros, grandes empresários e latifundiários. Que são banqueiros, grandes empresários e latifundiários.
Há um outro aspecto de relevância nessas histórias todas que vão formando o painel da História do golpe militar de 1964. Torturadores se escoram na resistência das forças armadas ao conhecimento da verdade.
É um fato que torna as forças armadas cúmplices de toda essa barbárie e impede que haja de fato a certeza de um compromisso democrático e popular, que implica em respeito à História, logo a verdade, respeito ao ser humano, ao cidadão brasileiro.
Cada um dos que tombaram na luta contra o regime militar, por si e pelo todo, vale por todos os golpistas e torturadores e vão valer sempre.
São exemplos na luta contra a boçalidade que permanece intocada contra trabalhadores rurais sem terra, contra professores, contra a classe trabalhadora, mas mantém intocado um governador como Sérgio Cabral.
Ou Antônio Anastásia, que viajou para a Itália onde vai comemorar seus 51 anos de idade num grande regabofe.
Isso não é nunca foi democracia. É barbárie sob outro manto. O capitalismo.
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