“NENHUM CARRO VALE UMA VIDA
HUMANA”
Há anos passados, a propósito de uma
dessas obras monumentais que governos costumam fazer e que não têm sentido ou se
têm, é porque se ajustam à perversidade do capitalismo, o jornalista Millôr
Fernandes, diante da perspectiva de desapropriação de casas de famílias que
moravam no local a mais de meio século, escreveu o seguinte em protesto contra o
fato – “nenhum carro vale uma vida humana”.
Cremilda Fernandes, 72 anos,
professora no Espírito Santo, morreu na quinta-feira ao término de uma
manifestação contra toda a sorte de trapaça de governantes. Era, como muitos
brasileiros, a imensa maioria, uma das vítimas da insensibilidade de monstros
que governam na tal democracia. Um infarto fulminante. Momentos antes de sua
morte havia dito a vários dos presentes à manifestação que queria participar do
ato, panfletar e ouvira do motorista de táxi que a levara até o local que,
finalmente, ele havia entendido que o ex-governador Paulo Hartung é apenas um
chefe de quadrilha de assaltantes de cofres públicos.
Não difere de Sérgio Cabral, de
Antônio Anastásia, de Jacques Wagner, de Geraldo Alckmin e tantos
outros.
O ser humano é um número, um objeto
na roda cruel do capitalismo e aos olhos de figuras como Demóstenes Torres, ou
as bancadas do PT e do PMDB, que ao lado do PSDB, PPS e outros iguais, pretendem
transformar a CPMI do Cachoeira em farsa, em jogo e espetáculo, enquanto
entregam alguns anéis e salvam os dedos.
O clube de amigos e inimigos
cordiais que opera o Estado em suas três dimensões.
Cremilda Fernandes aos 72 anos
estava buscando indignada e corajosa os seus direitos. Receber um precatório que
lhe era devido e a professores no Espírito Santo. Paulo Hartung, que continua
governando o estado como uma espécie de fantasma sobre a pasmaceira do
governador nominal Renato Casagrande, sumiu com os precatórios numa grossa
fraude que os indícios apontam envolver a REDE GAZETA, afiliada da GLOBO naquele
estado.
Precatórios existem em todos os
estados e não são pagos a despeito de ações judiciais com trânsito em julgado,
enquanto atitudes não são tomadas e atitudes nunca são tomadas. Bandidos ficam
impunes.
Professores são sempre o bode
expiatório de governos insensíveis e governantes sem qualquer respeito pelo ser
humano, como pela classe trabalhadora no seu todo.
Anos depois é que vão para a cadeia
dois dos principais executores do massacre de trabalhadores sem terra em
Eldorado do Carajás.
Governantes são construídos a partir
de interesses das elites, da classe dominante, num espetáculo gerado por
especialistas e pela mídia de mercado, na crença que eleições de tempos em
tempos significam democracia.
Governos atuam sem a menor
participação popular no processo de decisões e bancadas em câmaras municipais,
assembléias legislativas, Câmara Federal e Senado se constituem em
representantes de “ruralistas” igual a latifundiário/trabalho escravo,
evangélicos sustentados na fé cega de inocentes ludibriados e espertalhões
associados a bancos e grandes empresas. O que sobra de compromisso popular é
mínimo diante do estrago que essa gente causa.
E quase sempre, no âmbito do clube
de amigos e inimigos cordiais, mesmo que fora, são como sino de
madeira, não ecoam, pois a mídia é podre como se vê agora no caso de VEJA e no
esforço titânico do setor em defender a quadrilha Civita.
A professora Cremilda Fernandes,
pouco antes de morrer, havia declarado que “espero há anos por manifestações
assim”.
Não existe saída fora da luta
popular e da ampla participação popular no processo de decisões.
Isso implica em organização, em
formação, em conscientização e em ir às ruas buscar direitos, pois de outra
forma as quadrilhas que operam o poder continuarão a gerar cachoeiras que se
manterão impunes, lépidos e fagueiros, enquanto se joga o jogo da mentira
combinada e contratada nas falsas comissões de investigações.
Um país com Roberto Gurgel como
Procurador Geral da República e Gilmar Mendes no Supremo Tribunal Federal não
pode esperar seriedade ou avanços democráticos. No máximo novas gavetas para
esconder os mal feitos ou tapetes para varrê-los e fazer parecer que a sala está
limpa.
“Informado” pela mídia de mercado
(GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, VEJA, ÉPOCA, as mídias regionais como RBS, ou
estaduais como ESTADO DE MINAS, REDE GAZETA, etc, um povo não pode adquirir
consciência da realidade e se permite massacrar pelos que fato governam –
banqueiros, latifundiários e grandes empresários.
Uma força armada que reage à verdade
não pode pretender o respeito. Tentar esconder o caráter e a natureza do golpe
militar de 1964, seus requintes de barbárie, é ocultar a História.
Não cumprir o tal preceito que todo
cidadão é igual perante a lei, ou transformá-lo em ficção
jurídica/constitucional, negar direitos básicos, tem sido uma constante de
governos. Avanços paliativos não levam às mudanças estruturais que o Brasil
necessita e pouco a pouco vamos nos transformando num entreposto do capital
internacional, vamos virando parte do plano GRANDE COLÔMBIA, concebido pelos
senhores do mundo, EUA e Israel.
A morte da professora Cremilda
Fernandes tem essa dimensão, causa esse impacto vivo na lição de luta que deixa.
Uma brasileira do Espírito Santo, 72 anos, indo às ruas por direitos que a tal
lei lhe assegura, mas um tal Paulo Hartung, chefe de quadrilha de assaltantes de
cofres públicos e um governador que se “abanana”, Renato Casagrande, lhes negam
na presunção de que isso é democracia e a ordem constitucional impõe esse tipo
de procedimento.
São só monstros gerados pelo
capitalismo. Como os monstros que permeiam Minas, o Rio de Janeiro, a Bahia,
Brasília, São Paulo, etc, etc. Ou que constroem Belo Monte em regime de
escravidão imposto aos trabalhadores e a “lei” imposta pela violência
policial.
Para esse tipo de gente um carro
vale mais que uma vida humana. Nessa direção breve as igrejas dos automóveis
divinos como símbolos da existência e o povo à margem do processo político e das
decisões que lhe dizem respeito.
A professora Cremilda é, ela sim, um
símbolo, como todos os trabalhadores, que indignar-se é ir à luta e a luta é nas
ruas, é o caminho. Fora dos clubes fechados dos amigos e inimigos cordiais que
dominam o Estado instituição.
Ou das tais “normas de conduta” do
governador cachoeira Sérgio Cabral. Sinônimo de Anastásia, Alckmin, Wagner e
toda a corja. É necessário entender também que a corrupção é inerente, parte
inseparável do capitalismo, aqui ou em qualquer lugar do mundo.
Jogar por terra o modelo político e
econômico, esse é o sentido da luta popular..
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