quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A Sesta do Fauno - Estudo de Antônio Amâncio

A SESTA DO FAUNO Rudolf Nureyev dança "L'Après-midi d'un Faune" de Claude Debussy.

Os Faunos são entidades que cumprem um importante papel na natureza, como ardorosos defensores das florestas e dos animais que a habitam. Nesse último, a situação às vezes se torna assaz grave. Eis que, Diana tem por primazia a caça, e aos Faunos desagradam, sobremaneira, o assédio dessa aos seus tutelados. Ora, os Faunos são divindades menores, se é que atingem este status. O confronto com uma das divindades do primeiro escalão do Olimpo se revela desigual e extremamente perigoso. Ninguém atrai impunemente a ira de Diana. Na França, os Faunos já encontravam grandes dificuldades com as constantes caçadas do rei. Como se não bastasse enfrentavam a sanha olímpica de Diana. No entanto, esse distanciamento entre o Fauno e a Deusa e o confronto entre a caçadora e o defensor, não inibia tampouco o assédio do Fauno sobre Diana. Talvez fosse isso que mantinha a Deusa mais distante dos domínios do Fauno. Naquela tarde, o Fauno após requintado almoço, fazia a sua sesta aproveitando o cálido verão. Acompanhada pelo seu séquito de ninfas a Deusa Diana aproxima-se para o seu banho, esbanjando o seu esplendor. O Fauno desperta da sua sesta e extasiado aprecia aquele quadro que sempre lhe povoou os sonhos. As ninfas faziam evoluteios ao redor da sua Deusa, enquanto esta se aproximava do lago cristalino. Aquela movimentação não causava nenhum ruído e até mesmo os animais da floresta cessaram seus movimentos, rendendo homenagem àquela cena majestosa. A floresta de Sénart, palco das caçadas e encontros de Luis XV com a Marquesa de Pompadour, a preferida do Rei, era agora palco de uma nova cena envolvendo a paixão de um Fauno e a Deusa casta filha de Júpiter. Mais uma vez surge o binômio da caça e o amor, a relação que identifica a presa e o predador. Aquela cena diáfana magnetizava o Fauno. Este saltando do seu nicho com a suavidade que marca os seres da floresta, investia em busca do objeto dos seus desejos. As ninfas impossibilitadas de oferecer defesa à sua mestra, fugiam aterrorizadas ante à presença do Fauno. Reafirmando o adágio que sustenta ser um dia da caça e o outro do caçador, a Deusa caçadora se via agora à mercê do seu principal predador. Lúbrigo e ébrio de amor por sua amada, o Fauno soltava guinchos incontroláveis, fixando Diana com frêmitos de paixão. Acossada, Diana lutava por desvencilhar-se do seu agressor, buscando no seu âmago forças que a ajudassem. Talvez por um socorro do Olimpo, o Fauno se distrai como se visse senhor da situação ou que Diana tivesse cessado a sua resistência. Era o momento azado ansiado por Diana. Esta foge ao domínio do Fauno e fazendo uso dos seus atributos divinos, torna-se invisível, abandonando o local. Atônito, o Fauno vê num relance o seu sonho desvanecer-se e a sua amada transformar-se numa névoa. Seus guinchos, agora sofridos, misturavam-se a algo semelhante ao choro dos humanos, revelando a dor da sua paixão incontida. Sua mágoa e angústia o conduziram novamente ao seu nicho para o início de mais uma noite solitária, onde o devaneio lhe faria companhia, substituindo o seu amor impossível.
O Espiritualista http://advtribufin.blogspot.com.br/

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