No dia 11 de março, será realizada, a partir das 19 horas, no auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (rua Rego Freitas 530) uma reunião para montagem da "rede de comunicadores em apoio à reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais". Manifesto de lançamento do grupo denuncia a ofensiva dos setores conservadores no Brasil contra a reforma agrária e qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de terra e renda.
Redação
Manifesto de lançamento
Está em curso uma ofensiva conservadora no Brasil contra a reforma agrária,
e contra qualquer movimento que combata a desigualdade e a concentração de
terra e renda. E você não precisa concordar com tudo que o MST faz para
compreender o que está em jogo.
Uma campanha orquestrada foi iniciada por setores da chamada "grande
imprensa brasileira" - associados a interesses de latifundiários,
grileiros - e parcelas do Poder Judiciário. E chegou rapidamente ao
Congresso Nacional, onde uma CPMI foi aberta com o objetivo de constranger
aqueles que lutam pela reforma agrária.
A imagem de um trator a derrubar laranjais no interior paulista, numa
fazenda grilada, roubada da União, correu o país no fim do ano passado, numa
ofensiva organizada. Agricultores miseráveis foram presos, humilhados.
Seriam os responsáveis pelo "grave atentado". A polícia trabalhou rápido,
produzindo um espetáculo que foi parar nas telas da TV e nas páginas dos
jornais. O recado parece ser: quem defende reforma agrária é "bandido", é
"marginal". Exemplo claro de "criminalização" dos movimentos sociais.
Quem comanda essa campanha tem dois objetivos: impedir que o governo federal
estabeleça novos parâmetros para a reforma agrária (depois de três décadas,
o governo planeja rever os "índices de produtividade" que ajudam a
determinar quando uma fazenda pode ser desapropriada); e "provar" que os que
derrubaram pés de laranja são responsáveis pela "violência no campo".
Trata-se de grave distorção.
Comparando, seria como se, na África do Sul do Apartheid, um manifestante
negro atirasse uma pedra contra a vitrine de uma loja onde só brancos podiam
entrar. A mídia sul-africana iniciaria então uma campanha para provar que a
fonte de toda a violência não era o regime racista, mas o pobre manifestante
que atirou a pedra.
No Brasil, é nesse pé que estamos: a violência no campo não é resultado de
injustiças históricas que fortaleceram o latifúndio, mas é causada por quem
luta para reduzir essas injustiças. Não faz o menor sentido...
A violência no campo tem um nome: latifúndio. Mas isso você dificilmente vai
ver na TV. A violência e a impunidade no campo podem ser traduzidas em
números: mais de 1500 agricultores foram assassinados nos últimos 25 anos.
Detalhe: levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) mostra que dois
terços dos homicídios no campo nem chegam a ser investigados. Mandantes
(normalmente grandes fazendeiros) e seus pistoleiros permanecem impunes.
Uma coisa é certa: a reforma agrária interessa ao Brasil. Interessa a todo o
povo brasileiro, aos movimentos sociais do campo, aos trabalhadores rurais e
ao MST. A reforma agrária interessa também aos que se envergonham com os
acampamentos de lona na beira das estradas brasileiras: ali, vive gente
expulsa da terra, sem um canto para plantar - nesse país imenso e rico, mas
ainda dominado pelo latifúndio.
reforma agrária interessa, ainda, a quem percebe que a violência urbana se
explica - em parte - pelo deslocamento desorganizado de populações que são
expulsas da terra e obrigadas a viver em condições medievais, nas periferias
das grandes cidades.
Por isso, repetimos: independente de concordarmos ou não com determinadas
ações daqueles que vivem anos e anos embaixo da lona preta na beira de
estradas, estamos em um momento decisivo e precisamos defender a reforma
agrária.
Se você é um democrata, talvez já tenha percebido que os ataques coordenados
contra o MST fazem parte de uma ofensiva maior contra qualquer entidade ou
cidadão que lutem por democracia e por um Brasil mais justo.
Se você pensa assim, compareça ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, no
próximo dia 11 de março, e venha refletir com a gente:
- Por que tanto ódio contra quem pede, simplesmente, que a terra seja
dividida?
- Como reagir a essa campanha infame no Congresso e na mídia?
- Como travar a batalha da comunicação, para defender a reforma agrária no
Brasil?
É o convite que fazemos a você.
Assinam:
- Altamiro Borges
- Antonio Biondi
- Antonio Martins
- Bia Barbosa
- Cristina Charão
- Dênis de Moraes
- Giuseppe Cocco
- Hamilton Octavio de Souza
- Igor Fuser
- Joaquim Palhares
- João Brant
- João Franzin
- Jonas Valente
- Jorge Pereira Filho
- José Arbex Jr.
- José Augusto Camargo
- Laurindo Lalo Leal Filho
- Luiz Carlos Azenha
- Marco Aurélio Weissheimer
- Renata Mielli
- Renato Rovai
- Rita Casaro
- Rodrigo Savazoni
- Rodrigo Vianna
- Sérgio Gomes
- Vânia Alves
- Verena Glass
- Vito Giannotti
Importante: A proposta é que a rede de comunicadores em apoio à reforma
agrária tenha caráter nacional. Esse evento de São Paulo é apenas o início
deste processo. Promova lançamentos também em seu estado, participe e
convide outros comunicadores para aderirem à rede.
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