A reação das organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas, que vêm promovendo uma onda de ataques incendiando veículos no Rio de Janeiro, já era esperada depois que o governo estadual começou a ocupar comunidades em que esses grupos atuavam, com a implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). A avaliação é do sociólogo e especialista em violência Gláucio Soares, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj). Ele ponderou, no entanto, que ao contrário do que comumente acontece nesse tipo de resposta do crime, as ações estão sendo promovidas de forma generalizada, em várias partes do Estado, e sob algum tipo de coordenação.
De acordo com Soares, reações fortes já ocorreram em outras ocasiões. Ele citou o exemplo de São Paulo, em 2006, quando o PCC (Primeiro Comando da Capital) também realizou ataques violentos em função da prisão e do deslocamento de seus líderes para presídios de segurança máxima em outros Estados. Na época, detentos destruíram instalações de unidades prisionais, atearam fogo nos colchões, torturaram outros presos, agentes penitenciários e reféns. Também houve ataques a ônibus, que foram esvaziados e incendiados.
Para Soares, não é possível prever por quanto tempo os incêndios a veículos continuarão. Ele acredita, no entanto, que o tráfico não tem a estrutura necessária para sustentar indefinidamente as ações.
- Evidente que não é ataque militar com forças fortemente armadas. Eles [os responsáveis pelos ataques] chegam onde não há policiamento e fazem isso do modo mais simples, utilizando coquetel molotov e produtos inflamáveis. Mas não é possível manter isso por muito tempo porque os custos dessas ações para o tráfico são muito altos, tanto em termos financeiros, como de material e de vidas.
O sociólogo também comparou a resposta do crime no Rio ao observado na cidade de Medelín, na Colômbia, cujo modelo de combate à criminalidade inspirou as ações do governo fluminense. No local, gangues também promovem violência para retomar o controle do narcotráfico. A cidade foi alvo de uma política baseada em pesada ofensiva militar contra guerrilheiros e paramilitares, reaparelhamento e renovação completa da polícia, além de projetos e intervenções sociais nos bairros pobres.
Soares considerou que a cúpula da segurança pública do Rio está agindo de maneira adequada, investindo mais em inteligência policial, retomando áreas que eram dominadas pelo tráfico e fazendo investimentos sociais. Ele destacou, por outro lado, que a existência de mais de 900 favelas dificulta o combate à criminalidade.
Ele também considerou acertada a transferência dos presos que supostamente ordenaram os ataques a presídios de segurança máxima em outros Estados. Ele defendeu, contudo, mudanças na legislação prisional que favorece o contato pessoal direto entre detentos e advogados ou parentes.
- Se fosse colocado um obstáculo intransponível, como um vidro, já seria possível reduzir as chances de que celulares e bilhetes, por exemplo, fossem trocados entre eles.
Para a socióloga Edna Dell Pomo, do Núcleo de Estudos de Criminologia da UFF (Universidade Federal Fluminense), as ações de combate à violência gerada pelo tráfico de drogas vão além da pacificação das favelas. Ela defende a intensificação da fiscalização nas rotas de entrada de droga e armamentos.
- Essa questão não vai ser resolvida apenas com UPPs. A grande questão é a origem, como elas chegam. Os traficantes dos morros cariocas são apenas a ponta. Para vencer essa luta é preciso esvaziar o tráfico.
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