terça-feira, 23 de novembro de 2010

Obama: Nas cordas e quase nocauteado - Laerte Braga


Barack Obama deu a impressão que poderia vir a ser um novo Muhamad Ali na história dos Estados Unidos. Ali no boxe, o maior de todos os tempos e Obama na política. Não o maior de todos os tempos, mas um ponto de virada.
Corre o risco de terminar com a biografia escrita em uma única linha. O primeiro presidente supostamente negro dos EUA, não conseguiu ser reeleito.
Ali costumava assistir às lutas de seus adversários e prestar atenção aos movimentos que eram executados, sobretudo os passos e as zonas, digamos assim, preferidas dentro do que alguns comentaristas chamam de quadrilátero.
Nos treinos marcava o piso do ringue com um tipo de borracha branca (gostava de pisar em brancos, era deliberado) e primeiro executava os movimentos comuns aos adversários e depois se contrapunha a esses movimentos já com a o sparring dentro do tal quadrilátero.

Nos últimos anos de sua carreira, ou seja, mais precisamente desde a derrota para Joe Frazier, quando do seu retorno, passou a lutar preferencialmente nas cordas. Já não tinha mais a agilidade dos tempos que derrotou Sonny Liston e transformou-se no mais extraordinário pugilista que a história do boxe registra.
Obama deu a sensação que lutaria a luta presidencial no centro do ringue. Por ser magro e esguio lembrando Ray Sugar Leonard. Começou nas cordas, nas cordas está e não foi capaz de perceber e dominar os movimentos dos seus adversários – republicanos –.
A rigor luta uma luta de defesa. Tenta evitar ser nocauteado e achar força e espaço para um golpe decisivo até o ano das eleições, 2012.
Quebrou promessas que incendiaram a campanha eleitoral de 2008, não atentou para os movimentos dos adversários e, de quebra, pegou um ringue escorregadio preparado por seu antecessor George Bush.
O cidadão médio norte-americano não tem a menor ideia de onde fica a Nicarágua. Se na América Central, se na Ásia, ou na África, mas sabe que a Nicarágua existe e a Nicarágua pouco importa a esse tipo de cidadão, que é também eleitor.
Na cabeça de qualquer transeunte de cidades pequenas, médias ou grandes dos EUA, a maioria absoluta vai justificar qualquer atitude por mais brutal que seja contra palestinos, afegãos, iraquianos, venezuelanos, nicaraguenses, mexicanos, brasileiros, é só acontecer e perguntar.
A sensação de "nossos rapazes". Aquele negócio de bandeira tremulando à entrada de casa de strip tease.
Quando Clinton derrotou Bush e pisoteou, Bush pai, com a frase "é economia seu estúpido, é economia", o ex-presidente diagnosticou o problema central desse cidadão que sai de casa cedo e volta à noite depois de um dia de trabalho.
Hoje, os dias de trabalho não são para mais de 20% dos norte-americanos, Obama não consegue emplacar o seu programa de saúde, os programas sociais esbarram na resistência das elites (grandes conglomerados), a globalização se mostra perversa (os empregos fugiram para outros países), muitos moram nas ruas, cidades têm bairros inteiros desertos por conta de hipotecas não pagas, bancos quebrados, mas...
Tem o tal do mas. Dispõem de um arsenal militar fantástico, capaz de destruir o mundo cem vezes, já há cientistas falando em "colonização de Marte", na prática, esse arsenal transformou a maioria dos países europeus em colônias (Grã Bretanha, Itália) e algo como vice-reino a outro (Alemanha por exemplo), nesse caminho submetem toda a Europa ocidental e ainda tentam seduzir alguns países da antiga "cortina de ferro" e percebem que só as guerras não serão mais suficientes para sustentar o apetite pantagruélico do império.
A globalização transformou o mundo em um amontoado de corporações maiores ou menores e os EUA são a grande estrela dessa nova ordem econômica por conta das bombas e foguetes que dispõem.
Tudo seria uma maravilha se não existisse a China, a Rússia e o Brasil.
Têm o controle do petróleo no Oriente Médio (na maioria dos países), formaram a mais poderosa e cruel corporação dentre todas, a EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A, ameaçam democracias na América Latina com os velhos e surrados argumentos dos direitos humanos que não respeitam. Subjugam a Europa, pagam generais corruptos em países asiáticos (Paquistão), governos árabes venais (Egito, Jordânia, Arábia Saudita), mantêm uma política de extermínio das populações negras da África vendendo armas a grupos conflitantes (o lucro dos dois lados), tudo isso no ápice da máxima de Martin Lutero.
Se o papa vende perdões, o lucro é justificado com o simples "Senhor agradeço pelo petróleo roubado aos árabes, pelos palestinos presos, torturados, estuprados, mortos, pelos nossos rapazes se divertindo no Afeganistão, como o fizeram nas prisões do Iraque, que varra a China do mapa, a Rússia, o Brasil, o coronel Chávez e lhe peço que arranjem um presidente capaz de apresentar um balanço com lucros, de preferência branco".
Não há uma vocação republicana na contraditória sociedade norte-americana. Não querem a pena de morte no Irã, mas executam uma prisioneira dada como débil mental.
Existe apenas o umbigo de um povo sustentado por todos os outros povos do mundo e que construiu seu poder na espoliação, na barbárie, na violência, no ódio, na presunção de povo eleito.
E Hollywood, que em último caso acaba sendo a salvação. É o espetáculo da alienação. Onde fica a Nicarágua? Isso é o de menos, desde que a Nicarágua deixe de ser problema.
Obama naufraga por aí. Não é presidente, não é gerente do grande conglomerado, está lutando nas cordas e perdendo feio por pontos, pode ir a nocaute antes do término da luta e antecipar a classificação de pato manco, ou seja, presidentes em seu último ano de governo.
Pior que isso, não tem a menor noção do que acontece à sua volta e nem percebe que em seu próprio partido já esconderam o frasco de amônia, aquele usado para despertar lutadores um tanto tontos e sem reflexos, para que levem a luta até o fim.
No duro mesmo, se o adversário não tropeçar, mesmo a maioria dos norte-americanos não gostando dos republicanos, vão buscar um republicano, esse pelo menos resgata as práticas dos tempos do garrote vil e sustenta a balela que os "nossos rapazes" estão "ganhando a guerra".
O império, o conglomerado, está com sérios problemas e Obama pode até vir a ser o marco, o ponto de virada, mas virada para o declínio.
Nem bailou como borboleta, nem picou como abelha, tampouco, como Muhamad Ali fazia, apertou o interruptor e estava debaixo das cobertas antes da luz se apagar. Exageros à parte, o problema é que Obama esqueceu de acender a luz.

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