sexta-feira, 24 de junho de 2011

No Caminho, com Maiakóvski - Barbet


"Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói, assim me aproximo de ti, Maiakóvski.  Não importa o que me possa acontecer por andar ombro a ombro com um poeta soviético.  Lendo teus versos, aprendi a ter coragem. Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história.  Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.E não dizemos nada.  Na Segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo,arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada. Nos dias que correm a ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror. Os humildes baixam a cerviz; e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo, por temor nos calamos. No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante; mas amanhã, diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir.  Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio.  Mas ao tempo da colheita lá estão e acabam por roubar até o último grão de trigo.  Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós.  Dizem-nos que é preciso defender nossos lares mas se nos rebelamos contra a opressão é sobre nós que marcham os soldados.  E por temor eu me calo, por temor aceito a condição de falso democrata e rotulo meus gestos com a palavra liberdade, procurando, num só sorriso,esconder minha dor diante de meus superiores. Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de Vozes, o coração grita...

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