domingo, 29 de março de 2009

Índios da etnia Zoró ampliam conhecimentos por meio da internet


A aproximação com o homem branco, diz Thoatore, foi inevitável. Ele conta que as grandes fazendas começaram a ampliar suas divisas e se aproximaram em demasia das aldeias de seu povo. A história desse contato foi contada, na última semana, por dois dos nove clãs dos Zoró, durante uma gincana cultural, organizada pelos indígenas em parceria com a Associação do Povo Indígena Zoró Pangyjej (Apiz). A proposta do evento foi mostrar, aos mais novos, um pouco da cultura daquela nação da floresta. É a aproximaão é inevitável...mas temos que cuidar, A terra é tudo que o índio possui, sem ela ele não sobrevive. Temos que entender isso. Antes de computadores os índios precisam de proteção legal para que mantenham suas terras bem demarcadas e distantes da ganância dos "homens brancos".
Barbet



Índios da etnia Zoró ampliam conhecimentos por meio da internet


A unidade integra o Programa de Inclusão Digital da Fundação Banco do Brasil.

Foto: Fundação BB

O povoado fica no noroeste de Mato Grosso, distante 70km de Rondolândia

26/11/2008 - Pouco mais de 30 anos se passaram desde o primeiro contato do homem branco com os Zoró. Para o cacique Manoel Thoatore, as três décadas de contato com a civilização branca provocaram uma série de mudanças na vida e na cultura dos indígenas e a principal delas, talvez, tenha sido a informatização da aldeia-escola Zawã Karej Pangyjej.

O povoado, que fica no noroeste de Mato Grosso, distante 70km de Rondolândia, funciona como semi-internato. Durante o período de aulas, os alunos permanecem na aldeia, assim como o professor.

Para ensinar os indígenas a usar o computador, dois professores, Michel Platini e Robson Miguel da Silva, foram capacitados. Robson é, hoje, o coordenador social da Estação Digital Wawã Paju.

A unidade integra o Programa de Inclusão Digital da Fundação Banco do Brasil, mantido pela entidade desde 2004. A proposta do programa é reduzir o índice de exclusão digital no país, promover iniciação à informática, formar e qualificar para o trabalho e dar condições de acesso a serviços do governo eletrônico. Fortalecer ações de organizações da sociedade civil e contribuir com a melhoria da qualidade da aprendizagem na escola pública são outros focos da ação.

Na Estação Digital Wawã Paju, a Fundação Banco do Brasil instalou um servidor e dez computadores. Nela, há, ainda, uma impressora. A eletricidade da estação é mantida por meio de um grupo gerador, fruto de parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai). O provedor de internet resulta de doação da Prefeitura de Rondolândia e a manutenção dos equipamentos é de responsabilidade da Associação Pangyjej.

Contato

A aproximação com o homem branco, diz Thoatore, foi inevitável. Ele conta que as grandes fazendas começaram a ampliar suas divisas e se aproximaram em demasia das aldeias de seu povo. A história desse contato foi contada, na última semana, por dois dos nove clãs dos Zoró, durante uma gincana cultural, organizada pelos indígenas em parceria com a Associação do Povo Indígena Zoró Pangyjej (Apiz). A proposta do evento foi mostrar, aos mais novos, um pouco da cultura daquela nação da floresta.

A nação Zoró tem, hoje, cerca de 650 índios, divididos em nove clãs e 23 aldeias. Na gincana, os Pangyejej e os Zarupnej foram os protagonistas.

O clima era de festa e o colorido dos cocares e das peles pintadas de preto e de vermelho chamavam a atenção de todos os participantes indígenas e não-índios da gincana.

Da programação, constavam provas e técnicas já esquecidas e não mais utilizadas pelos mais jovens. Exemplos disso foram a confecção de Gup Xit Pege Gukauká (prova para confecção de fios e que envolve fiar algodão), a apresentação do burará (prova de resistência para os olhos) e a preparação de batuy (bebida tradicional produzida a partir do milho).

A recepção do cacique Thoatore aos visitantes foi na língua Tupi Mondé. "Pali karalia" (sejam bem-vindos) dizia o chefe a todos que chegavam para a festa. As mensagens de boas-vindas foram traduzidas para o português pelo jovem Agnaldo Zawandu.

Inclusão digital

A nação Zoró revelou uma grande capacidade de aliar conhecimento tradicional à tecnologia de ponta. Por meio do computador e do acesso à internet, os caciques e os jovens estão construindo outra linguagem, outra história, que deixa de ser oral e passa a ser registrada e salva na memória de um computador.

A tribo foi "descoberta" em 1971, mas o primeiro contato entre indígenas e brancos somente se deu sete anos depois. Hoje, os Zoró ainda vivem relativamente isolados. Eles são coletores de castanha do Brasil - colhem até cem toneladas do fruto por ano. Mas, até a década de 80, o carro chefe da economia do povo era a borracha. Também fabricam peças artesanais e usam técnicas refinadas na produção de peças artesanais ricamente adornadas.

De acordo com a coordenadora de projetos da Apiz, Lígia Neiva, a merenda das escolas Zawakraj Pangyejej e Zawpwej utiliza alimentos tradicionais, como a castanha, a chicha, o beiju de farinha de mandioca e a paçoca de castanha. A parceria é feita com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por meio do programa de doação simultânea.

Como diria Thoatore: "Ate tuma we paratna jalej ikinia. Tukusep tingi tunga tuma kuba ana tapare kaj weporat na ene kuj tamalu tu tie ta werewa menena wesutna". Ou, em português claro: o contato do branco foi bom para nós, porque aprendemos a fazer algumas coisas boas que o branco faz; ter uma escola, poder estudar e, também, ter uma Estação Digital que a Fundação do Banco do Brasil fez.

Brasil tem 243 estações digitais

Desde 2004, a Fundação Banco do Brasil desenvolve o Programa de Inclusão Digital. Atualmente, são 243 estações digitais em todo país.

O programa capacita educadores sociais das próprias comunidades e promove a sustentabilidade das estações digitais implementadas.

A iniciativa, em parceria com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o Banco do Brasil, a Associação de Apoio à Família, ao Grupo e à Comunidade (Afago) e a Cobra Tecnologia, também conta com um Centro de Recondicionamento de Computadores (CRC). Localizado no Gama, cidade satélite do Distrito Federal, o CRC atua na formação de jovens entre 16 e 24 anos e no recondicionamento de computadores.


Por Dalva de Oliveira, da Fundação Banco do Brasil

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