sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A "DEMOCRACIA" FALIDA - Laerte Braga

A maioria do povo grego rejeita o pacote imposto por governos da Comunidade Europeia ao país. Implica em cortes orçamentários nos serviços públicos fundamentais (saúde, educação, por exemplo), na demissão de servidores públicos, num brutal aumento do desemprego de um modo geral e coloca a Grécia refém dos grandes grupos econômicos no mundo dos bancos.


O governo grego é apenas o fio de transmissão do controle que as grandes corporações financeiras exercem sobre os países da Comunidade Europeia, tanto quanto sobre Alemanha e França. Não há vontade popular na Grécia, na Itália, na Espanha, na Irlanda ou em Portugal, os mais atingidos pela crise. No máximo silêncio pelo medo de setores da população.
A exemplo do que aconteceu em 2008 os governos se mobilizam para capitalizar bancos e evitar falências.
Cada vez mais direitos de trabalhadores são retirados e cada vez mais a globalização alcança níveis de perversidade que coloca em cheque mais que a democracia, o próprio processo globalizante.
Uma Comunidade Europeia falida, os EUA sem alternativas diante do impasse entre republicanos e democratas e milhões de norte-americanos acordando e percebendo que apenas pagam a conta de bancos, das grandes corporações e das guerras insanas de seus governos.
O presidente Barack Obama, ainda que propondo um plano de ação para aumentar o emprego, dá uma guinada cada vez maior à direita e neste momento, a rejeição do seu plano pelo Senado traz a tona uma velha e clássica mentira usada pelos norte-americanos desde tempos bem antigos. A de responsabilizar outros países por ações terroristas.
No meio do oceano e agarrado a uma boia que não oferece muita segurança quanto à sua reeleição o presidente dos EUA acusa o Irã de planejar atentados terroristas em todo o mundo e tenta criar o “pânico” que usaram, ele e seus antecessores, para justificar o ataque e a ocupação do Iraque, do Afeganistão (de onde estão saindo com o rabo entre as pernas), ou os bombardeios contra a Líbia no afã de assumir o controle dos “negócios” naquele país. A China era a detentora da maioria desses “negócios”.
São dois aspectos nisso tudo. O controle que Israel exerce sobre os EUA, os papéis se inverteram e o fim da chamada democracia cristã e ocidental. A vontade popular não vale. As determinações e ações de governo são ditadas pelo sistema financeiro e grandes corporações.
A primavera árabe, por exemplo, naufragou na cumplicidade das forças armadas do Egito e da Tunísia com os regimes totalitários. Não mudou nada e a luta popular permanece.
Criar um “inimigo” para a humanidade é uma velha saída de presidentes norte-americanos em épocas eleitorais ou de dificuldades econômicas para o país e favorece apenas os controladores do modelo.
O movimento OCUPA WALL STREET estende-se para além da ganância dos ricos (existe rico inocente?) e pede o fim de guerras desnecessárias. Veteranos das muitas guerras dos EUA se juntam aos manifestantes para engrossar os protestos. Ocorrem nas principais cidades do país e têm seu centro em New York.
A acusação feita pelo governo norte-americano ao Irã, mais que Israel por trás, que a necessidade de uma bandeira para Obama, estende-se a América Latina. A Venezuela terá eleições presidenciais em 2012 e derrotar Chávez faz parte dos projetos dos EUA.
Nisso o Brasil tem papel significativo.
Se o governo Lula se caracterizou por uma no cravo e outra na ferradura sem mudar as estruturas do modelo político e econômico do Brasil, mas com avanços reais em benefícios sociais dentro da lógica perversa do capitalismo, o governo Dilma fala uma coisa para fora e faz outra para dentro.
A presidente é menor que o cargo e o desafio que lhe foi posto às mãos.
Ao criticar os países ricos por demorarem a tomar atitudes contra a crise deixa claro que o Brasil será atingido pelo tsunami que abala economias europeias e dos EUA, mas cede às imposições do quarteto que comanda a “superação” da crise. Da crise dos bancos.
FMI (Fundo Monetário Internacional), Banco Mundial, Banco Central dos EUA (privado) e Banco Central da Comunidade Européia ditam as regras, a política econômica como um todo e lá como aqui trabalhadores começam a ver cada vez mais distantes perspectivas de direitos e conquistas.
Num governo compartilhado com o PMDB – principalmente – e um ministério confuso, perdido – economia, comunicações e política externa – o governo Dilma começa a afundar nos arrochos impostos pelo neoliberalismo, o que alcança todos os setores e mostra que na prática não se chegou a lugar nenhum, continuamos patinando em matéria de transformações políticas, econômicas e sociais.
Não há como fugir da globalização. Mas há como perceber a realidade. “Globalitarização” no conceito de Milton Santos. Redondo e definitivo. E assim redesenhar a democracia, tornando-a popular em seu sentido e sua essência.
Questões internas como o marco regulatório da mídia, a Comissão da Verdade e o combate à corrupção chegando aos corruptores (vale dizer bancos, grandes corporações, latifúndio e grande mídia privada) podem significar a guinada necessária para que a luta popular avance e as possibilidades de aposentar figuras como José Sarney se tornem realidade.
Não por Sarney em si, é pouco. Mas por tudo o que Sarney representa, desde os tempos de menino de recados da ditadura militar.
A democracia, como a concebem a partir do american way life, está de fato falida. O modelo apoderou-se dos instrumentos e mecanismos eleitorais de uma tal forma que uma figura como Sérgio Cabral consegue ser governador de um estado importante e com peso político significativo na Federação, ou Gilmar Mendes pontificar na chamada Suprema Corte, num Estado repartido entre bancos, grandes corporações e latifúndio.
As garras do modelo e da crise nos estertores do neoliberalismo, neste momento, se voltam brutais e ameaçadoras contra o Irã. E chegam de mansinho a países como o Brasil.
As marchas não são e nem devem ser contra a corrupção. Essa doença é inerente ao modelo, ao capitalismo, está na sua gênese.
A marcha é contra ele modelo político e econômico e a luta tem que ser travada nas ruas. O Estado está aprisionado na camisa de força dos donos do Brasil, como dos donos da Grécia, da Espanha, da Itália, de Portugal, dos Estados Unidos, do Egito, da Tunísia e vai por aí afora.
Cada vez mais somos governados por corporações e agências moldadas segundo os interesses do sistema financeiro internacional.
Ou reagimos, ou breve a brutalidade da crise cai sobre o Brasil e os brasileiros. Como está caindo sobre o mundo cristão, democrático e ocidental.
Não se trata de reinventar a democracia, mas de alcançá-la no que tem de definição – governo do povo, pelo povo e para o povo.
Os gregos estão provando o amargo remédio dos donos do modelo. Provando e resistindo.
Os norte-americanos estão acordando para a realidade.

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