Uma das questões mais intrigantes para nosso intelecto e curiosidade pessoal é: Deus existe? As mentes mais brilhantes se debruçaram sobre esse tema instigante. Religiosos, filósofos, cientistas, todos criaram teses, idéias, dogmas para justificar esse anseio íntimo do ser.
Historicamente podemos dizer que antes mesmo de surgir a ciência e seu método, precedeu a ela a mitologia, a filosofia e a religião, sempre na tentativa de compreender os eventos da natureza. Mas a questão fundamental não se limita a isso, mas sim a entender até onde pode ir o nosso conhecimento. Que método é mais eficiente para se chegar a alguma conclusão. Onde está a sede do conhecimento.
Antes de qualquer coisa, devemos abordar ligeiramente alguns aspectos. Precisamos entender o que é conhecimento, o que é ciência, qual o método utilizado por ela, e entender a noção de conhecimento relativo e absoluto.
Diferente do que pensa a grande maioria das pessoas, a ciência não propõe um conhecimento absoluto, mas antes investiga os fenômenos e eventos a fim de compreendê-los dentro do seu campo de ação. Podemos dizer que ela tem hoje mais perguntas que respostas. A vastidão do investigado é tão superlativo, que à medida que se foi investigando, mais incógnitas surgiram.
Comecemos por compreender o que é conhecimento. Definimos de conhecimento tudo aquilo que é acessível ao homem em forma de entendimento, instrução e informação. Esse conhecimento pode ser relativo (sujeito a modificações – são parciais e limitados) e o absoluto (conhecimento de todos os fenômenos - ilimitados). Pode também ser objetivo (perceptível através dos sentidos) ou subjetivos (intuitivos, revelados através de uma forma não objetiva - insight).
Não nos é difícil entender que o nosso conhecimento científico se limita à perspectiva do relativo, haja vista os fatos científicos aceitarem novas teorias a cada nova investigação mais racional.
Podemos dizer que o conhecimento absoluto não pertence ainda à metodologia científica. Eis porque existem tantas discussões estéreis em torno das provas científicas. Exige-se o absoluto quando o campo investigado é apenas o relativo. É, portanto, infrutífero manter debates sobre exigências dessa natureza.
A metodologia científica, bem longe ser o que os materialistas dizem, utiliza muito mais do que supõem o mecanismo intuitivo. Albert Einstein, um dos maiores físicos, uma das mentes mais brilhantes da humanidade revelou que parte do seu conhecimento lhe chegou por inspiração, tipo um insight, algo semelhante a um sonho sobre os assuntos que a razão não conseguia atingir. Esgotado o mecanismo racional consciente, como por revelação, veio o conhecimento complementar que viria a contribuir com sua teoria da relatividade geral. São inúmeros os relatos de conhecimento revelado por um meio intuitivo e que foge ao mecanismo objetivo dos sentidos. Santo Agostinho falava desses tipos de conhecimentos quando cita algo mais ou menos assim: “a fé busca, a razão encontra”. Mestres yoguins hindus há muito tem revelado alguns conhecimentos antes considerados místicos, que a física moderna atestou com conhecimento científico. Dentre vários autores destacam-se alguns: Fritjof Capra, físico quântico; Danah Zorah, também física quântica e filósofa; Amit Goswami, físico nuclear; e Deepak Chopra, médico endocrinologista hindu. Todos eles autores de obras científicas e filosóficas, confirmando e justificando que o conhecimento intuitivo parece adentrar em campos do conhecimento que o método objetivo não consegue.
Será o pensamento uma forma de investigação mais eficaz que o método experimental? Eis uma questão que assusta os materialistas, mas que já foi ventilado por eminentes pensadores, como Niels Bohr, Erwin Schrödinger, Werner Heisenberg, Einstein, Louis de Broglie, Max Born, Wolfgang Pauli e Paul Dirac, todos eles pais da física moderna.
É verdade que poucos cientistas confirmam esse conhecimento intuitivo de uma forma oficializada, mas todos utilizam esse conhecimento nas suas investigações como forma de “farejar” o que a razão ainda não pode aferir. Recordemos por exemplo o experimento de Alexander Granham Bell: a comunicação através das ondas propagadas por um meio físico. Na época considerada algo como bizarro e fantasioso pela comunidade científica. Hoje alguém duvida de sua descoberta? Poderíamos incluir como conhecimento intuitivo a “teimosia” de Granham Bell?
Passemos agora a entender o que é a Ciência. Poderíamos compreendê-la dividindo-a em dois aspectos: Experimental e Teórico.
• A experimental é aquela baseada nos fenômenos observáveis, mensuráveis do ponto de vista objetivo.
• A teórica é o esforço em justificar um fenômeno não observável objetivamente, mas sim através de evidências, probabilidades etc. Exemplos: A gravidade e as forças nucleares.
Método Científico (Epistemologia) – É o meio sistemático, ordenado, consciente de se entender um fenômeno através dos esforços mentais a fim de se chegar a um modelo coerente com a investigação realizada.
Parece-nos que a condição humana está mais sujeita a aceitar primeiro os aspectos objetivos dos fenômenos. Talvez por estar mais próximo dos sentidos, situação que fala mais alto para a consciência física. Já os aspectos subjetivos parecem necessitar de um esforço maior, onde se exige mais raciocínio. Mas a questão é: Nem tudo que parece é. Por exemplo, para nossa visão estreita e sem maiores reflexões, quando olhamos para o céu, de dia, vemos o sol e imaginamos que estamos olhando a realidade, quando na verdade estamos apenas vendo o passado do sol, algo próximo de oito minutos. Quando olhamos a noite, a coisa fica ainda pior, porque algumas estrelas estão anos-luz de nossas perspectivas visuais.
Ao tomarmos o método científico para aferir Deus, ainda assim, Ele não é suficientemente aceito na comunidade científica em geral, no entanto, muitos outros cientistas consideram as evidências mais que suficientes, pois, uma teoria científica toma como base os elementos que formam as evidências.
A investigação sobre Deus, embora os efeitos pululem à nossa frente, se mostram no campo da subjetividade, e isso requer muito mais esforço do homem para comprová-Lo. Daí a polêmica existente sobre o tema. No entanto, observando as leis que regem o Universo, leis naturais essas que estão ao nosso alcance, podemos sim, da mesma forma, utilizando o método científico, provar Deus.
Igualmente a constatação da Matéria, aceita por grande parte da comunidade científica, que ainda hoje, limita-se a ser um aspecto subjetivo (a ciência ainda não conseguiu auferi, mensurar, a Matéria na sua essência), Deus também, e com muito mais intensidade, mostra evidências de Sua existência.
Vejamos o que diz a 2ª. Lei da Termodinâmica: “Todo sistema isolado tende ao desmantelamento (entropia). Para que um sistema permaneça estável ou regular, ele necessita de um suporte de outro sistema externo a ele, a fim de trocar energia e mantê-lo sem se desmantelar”.
Ora, sabemos existir sistemas regulares e estáveis. Pelo menos na sua função. Se esses sistemas são estáveis é porque forças externas os mantêm assim. A pergunta que fica é: Sendo o Universo um sistema que tem ordem, mesmo tendo caos relativo nos seus subsistemas, o que o mantém nessa condição?
Daí não se pode negar uma força externa ao sistema universal e que o mantém estável. A isso podemos denominar de Deus. Seria uma conclusão científica baseado no método científico e nas evidências justificadas pelo mesmo método.
Recordo aqui a questão número um de O Livro dos Espíritos: O que é Deus? Ao que os Espíritos respondem: “Inteligência Suprema, Causa Primeira de Todas as Coisas”.
Concordante com a ciência que diz que toda ordem de um sistema depende da troca com um outro sistema que o dá sustentação, a idéia de uma causa primária é justamente esse sistema externo que sustenta os demais. Mas porque não só causa primeira, mas sim também inteligência suprema? Analisando todos os sistemas, podemos entender que dos conhecidos, é o homem com seu cérebro e sistema nervoso central, o mais complexo de todos. Todos os indicativos científicos nos mostram que a evolução se dá do mais simples para o mais complexo. Como o homem é um ser inteligente, não é difícil deduzir daí que o sistema que o dá suporte é mais inteligente, e possui uma capacidade soberana, pois, nutre e sustenta todos os outros inferiores a Ele.
Ensinam-nos os Espíritos, através da sua doutrina, que os homens que se mantêm céticos e ateus, o são por conta do seu orgulho. Orgulho que os impedem de perceber todo o efeito existente a sua frente, e que não se sabe a causa. Ora, não sendo causado por uma inteligência conhecida, é natural que se pense em outra superior, pois, toda a grandiosidade do Universo sugere isso.
Tomando como verdadeiro o axioma que sustenta a própria ciência, que diz que todo efeito tem uma causa, observando todo manancial de efeitos não criados pelo homem, fica evidente que essa causa tem uma origem externa, e por eles serem ordenados e inteligentes, sua causa também o é.
Mas o mais paradoxal é que os que negam (materialistas), não podem provar a inexistência de Deus, e tão pouco eles provam a Matéria que dá sustentação ao seu paradigma. Por isso que a hipótese de Deus está mais propensa à aceitação como prova científica que o próprio Universo que observamos. As evidências de Deus são milhões de vezes maiores e superiores as evidências da existência da Matéria.
A física moderna vem investigando profundamente as propriedades íntimas da Matéria, e até onde se tem notícia, qualquer conceito definitivo de Matéria não passa de mera especulação. Mesmo assim, os cientistas materialistas confirmam a Matéria. Ora, se assim é para a Matéria, o que dizer das evidências de Deus! Fica claro que o princípio é o mesmo. Se com muito menos evidências, eles confirmam um, porque não confirmar o outro, sendo este mais evidente? Fica óbvio que não é uma questão de comprovação científica baseada em seu método próprio, mas sim uma questão de orgulho e insegurança, porque se serve para um, da mesma forma tem que servir para o outro.
A esse respeito Jesus já nos alertava quando cita a seguinte passagem em Mateus 11:25:
“Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos”.
Temos, portanto, no método científico até então, a mais segura forma de investigação para o conhecimento, embora sejamos justos, não se deva outorgar a ciência a detentora da verdade absoluta, e nem dar-lhe poderes ilimitados. É que como falamos no início, a ciência trabalha dentro do campo do relativo, e isso não deve dar valor absoluto a ela. Devemos também considerar com muito respeito e carinho, as vozes que nos são ofertadas através das nossas inspirações e intuições, nossos sonhos e anseios, pois, toda busca científica passa por esse caminho. Evidente que devemos da mesma forma, aguardar novos conceitos sobre isso a fim de não atribuirmos as inspirações valor absoluto, até porque, na condição de conhecedores do Espiritismo, sabemos que existem revelações falsas, e por isso mesmo, sujeitos aos equívocos.
Portanto, fiquemos inteiramente à vontade para declarar a nossa crença em Deus, pois, além de todos os efeitos que se descortinam à nossa frente sem uma causa definida, temos a ciência amparando as evidências de Deus através da sua própria metodologia.
As únicas restrições são os dogmas e o fanatismo. Esses não têm metodologia, mas apenas definições impostas e elas não condizem com a inteligência contemporânea, e nem com as expectativas científicas, uma vez que ainda é o melhor modelo de busca da verdade.
Flávio Mendonça
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