CURRÍCULO OCULTO DA
VIOLÊNCIA
Redação do Momento
Espírita
|
Elio Mollo |
Após atos violentos de
grandes proporções, como os ocorridos em setembro de 2001, nos Estados Unidos, e
o massacre ocorrido em setembro de 2004, na Rússia, o mundo faz uma pausa para
lamentar a violência.
As mídias divulgam
fotos que comovem até os corações mais endurecidos e geram revolta e desejo de
vingança nas mentes belicosas.
Mas assim que a
imprensa encontra outras matérias com que se ocupar, esses atos caem no
esquecimento e só voltam a ser notícia nas retrospectivas de final de ano.
No entanto, para as
pessoas diretamente envolvidas nessas tragédias o mundo jamais será o mesmo,
pelo menos o seu mundo íntimo.
São vidas ceifadas,
amores arrebatados, sonhos interrompidos, lembranças marcadas, desespero,
saudades...
E a vida continua...
E a violência
sobrevive, silenciosa, sobre a face da terra...
E se fala em paz...
Nos gabinetes.
E se fala em combater a
violência, fomentando-se guerras.
Até quando conviveremos
com essa triste realidade sem tomar uma atitude que promova a paz?
Já sabemos que a paz do
mundo não se implantará por decretos nem surgirá após a guerra.
A cultura da paz deve
ser uma iniciativa lúcida, tanto individual quanto coletiva.
É preciso criar uma
cultura de paz no nosso planeta.
Hoje está vigente, no
seio da humanidade, o que poderíamos chamar de currículo oculto da violência.
Existe uma cultura
pró-violência muito sutil e que ganha terreno dia após dia, de forma velada e
letal.
É uma forma de cultivo
da violência que muitas pessoas não se dão conta.
Essa cultura está
presente no lar, no lazer, nos esportes, nas escolas, nas músicas, nas piadas,
nos meios de comunicação, nas canções infantis, nas instituições religiosas.
Nas instituições
religiosas, sim!
Nas violências que mais
estarreceram e estarrecem o mundo, geralmente está presente o componente
religioso.
E isso começa de forma
imperceptível, quando um pai de família ou um líder religioso cria barreiras
entre os da sua crença e os outros.
A criança cresce
pensando que quem não é da sua crença é pessoa má, que merece ser rechaçada ou
evitada, quando não se diz que é demoníaca.
Isso em nome do Cristo,
em nome de Deus, em nome de um ideal, em nome da religião, seja ela qual for.
O simples fato de se
torcer por um time de futebol diferente já é motivo para se criar
conflitos... Até mesmo entre pessoas da mesma família.
Pessoas que se dizem
religiosas e atacam outras instituições, dizendo que o único bem que merece esse
título é o praticado dentro da sua fé.
Como se o bem não se
bastasse por si só e tivesse que ter uma bandeira religiosa qualquer.
Briga-se por causa de
idéias políticas divergentes... Briga-se pelas mais mínimas coisas.
Como diz o
cancioneiro popular, “chegou a hora da gente construir a paz, ninguém
suporta mais o desamor.”*
E para construir a paz
é preciso largar as armas...
É preciso usar
ferramentas adequadas...
É preciso falar e agir
como pacifista...
Usar termos e idéias
que enalteçam a paz e não a violência.
É preciso adequar a
nossa terminologia, numa ação pró-paz.
Em vez de dizer
“lutar pela paz”, dizer
“construir a paz”,
em vez de
“lutar contra a violência”, “fomentar a paz”,
em vez de
“promover um combate”, “fazer um embate”,
em vez de
“armas de guerra”, “ferramentas de paz”.
Ensinar nos lares, nas
escolas, nas canções, nas mídias, nas pregações religiosas, que a paz é um
desejo comum a todos, não importa a raça, a crença, a posição social. E
acreditar nisso.
Enquanto não agirmos
dessa forma, a paz continuará só no discurso, e a violência ganhará forças,
nutrida por esse currículo oculto, sutil e letal, que vige silencioso no seio da
humanidade.
Pense nisso!
Observe o mundo com
olhos de paz.
Faça a sua parte, que o
mundo terá paz.
Mas, pense
nisso agora!
Texto da Equipe de
Redação do Momento Espírita, inspirado em entrevista de Raul Teixeira, na cidade
de Londrina, em 25/09/2004.
* Nando Cordel,
música Paz Pela Paz.
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