Quem
nos protegerá da democracia?
por Diogo Costa
por Diogo Costa
Haroldo Oliveira |
Apenas deposita sua esperança na política, aquela sociedade onde a persuasão racional não funciona. Todo apelo à política é um apelo à violência. O Estado configura-se pelo monopólio da violência suportado pelos habitantes de um determinado limite geográfico. O que diferencia uma lei de qualquer outra norma é que o seu descumprimento implica o uso da força. Quem desgosta de uma norma religiosa pode abandonar a igreja, não há essa alternativa na política. Para que a lei seja cumprida, necessariamente existe a ameaça da força sobre os indivíduos. Estado violento é um pleonasmo. Apenas o Estado pode legalmente retirar de alguém a propriedade, a liberdade ou, em última instância, a vida.
A democracia representativa, como muitos
pensam, não modifica a essência violenta do governo, apenas coloca o mecanismo
da força na mão da maioria. O termo democracia não nos garante nada mais. A
eleição majoritária pode levar 51% da população a ditar como os outros 49% devem
viver. Nada impossibilita que a existência de uma organização política dessa
espécie seja injusta e tirânica.
Faz-se mister, portanto, um controle sobre
a atuação democrática. Até onde a maioria poderá decidir sobre o comportamento
das vidas alheias? Para impor esse limite, surge a Constituição. O papel da Lei
Maior seria limitar a pertinência da violência estatal à área onde o emprego da
força é indispensável. Como bem disse George Washington: “O governo não é razão,
não é eloqüência, é força; e, assim como o fogo, é um perigoso servidor e um
temido patrão; por nenhum momento, deve ser deixado à ação irresponsável”.
Infelizmente, em nossos tempos, os incêndios provocados por esse fogo podem ser
justificados pelo seu caráter democrático. Mesmo que não se tenha mais idéia de
qual o sentido original do termo, que por vezes representa interesse coletivo,
por vezes igualdade A democracia é a nova panacéia do
ocidente.
O termo democracia está tão carregado de
virtudes que, no Brasil, as pessoas assumem ser a decisão político-democrática
muito mais vantajosa à população do que a escolha individual proporcionada pelo
mercado. Basta uma pequena comparação para vermos aparecerem os equívocos desse
pensamento
Primeiro, a escolha política é
temporalmente restrita. Participamos diretamente da eleição, mas durante quatro
anos, não há possibilidade de interferência imediata do indivíduo sobre as
decisões políticas. Enquanto que no mercado, a decisão é constante. A todo o
momento você está optando: se investe, se compra, se vende, se permanece no
status quo. São todas escolhas que não dependem de brechas temporais, mas
que são efetuadas constantemente. Se os políticos passam apenas algumas semanas
de intensa propaganda é porque somente durante este momento a opinião do eleitor
realmente importa. As empresas precisam estar em campanha ininterrupta porque a
escolha do consumidor é efetuada a todo instante.
Ainda, decorrente de uma minúscula
representatividade, para fazer efetivar sua opção, cada pessoa necessita
convencer toda uma multidão de seu ponto de vista. Até que sua opinião seja
comungada pela maioria. No mercado, uma multiplicidade de minorias pode ser
satisfeita ao mesmo tempo. A representatividade do mercado é pluralística,
enquanto a democracia é majoritária. Na verdade, a soberania do mercado pertence
à menor das minorias: o indivíduo. Soberania essa que, mais do que opinar,
permite-o mudar de opinião quando tiver vontade.
Há também a falta de racionalidade na
eleição política. As escolhas só são racionais quando o homem mede,
anteriormente, os custos e benefícios de suas opções. Só então, ele poderá fazer
julgamentos de valor que determinarão sua ação futura. É assim que o dono de uma
casa decide se vale ou não a pena reformar a cozinha. Mas ele não consegue
ponderar igualmente os custos e benefícios quando vota no prefeito que promete
pavimentar uma avenida da cidade. Quando a escolha individual é distorcida por
mecanismos complexos e burocráticos, a razão perde suas referências, e a
responsabilidade pelas conseqüências não pode ser diretamente sentida nem
medida.
Esses argumentos defendidos pela “Public
Choice”* não necessitariam menção neste texto se a mediação violenta e seus
efeitos desastrosos fosse suprimida sempre que a persuasão racional se mostrasse
possível. Esteja nas mãos de um, de poucos ou de muitos, o Estado será
fundamentalmente violento. A democracia pode ser o melhor modo de decisão
política, mas sozinha não assegura liberdade e justiça. Concordo com a famosa
frase de Churchill: “a democracia é a pior forma de governo, exceto por todas as
outras que já foram tentadas”. A confiança exagerada na opinião da maioria pode
trazer efeitos tão nefastos quanto a fé cega na divindade do monarca. Afinal, a
democracia nada mais é do que um processo para administrar o governo, o mesmo
processo que matou Sócrates e Jesus Cristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário