Imagine que por esse Brasil
continental num arroubo de “patriotismo”, naquele negócio de “ame-o ou deixe-o”,
um pai vestido de verde e amarelo tenha ido ao cartório registrar o nome do
filho e o nome dado ao funcionário era exatamente o de Emílio Garrastazu Medice,
o carniceiro de plantão à época. E que tenha ficado assim Emílio Garrastazu
Medice da Silva.
Jorge Rafael Videla foi um dos mais
cruéis ditadores da safra latino americana de tiranos nas décadas de 60 e 70. Um
funcionário público de 34 anos de idade conseguiu na justiça argentina mudar o
seu nome de batismo. Jorge Rafael Videla. Segundo disse ao juiz o pai havia
feito uma aposta com um irmão. O primeiro a ser pai de um filho homem daria o
nome do presidente.
O funcionário alegou que perdeu
empregos, era alvo de críticas, chacotas, enfim, que o nome Jorge Rafael Videla
só lhe trazia problemas. O ex-ditador cumpre pena de prisão perpétua. Foi
autorizado a mudar o nome. Agora é Jorge Videla Shiel. O sobrenome é o da
mãe.
No Brasil há uma lei que proíbe
nomes considerados aberrações. Garrastazu Medice seria sim uma aberração.
No auge da carreira do apresentador
de tevê Flávio Cavalcanti – de extrema direita e com papel importante no golpe
de 1964 – um pai num estado do Nordeste tentou colocar o nome de Flávio
Cavalcanti Rei da Televisão Brasileira em seu filho. Não conseguiu.
Esses nomes bizarros são acrescidos
de contradições. Em Minas houve ou há, não se tem notícia dele mais, um Lenine
Hitler.
Bem mais sincero e autêntico foi
Mané Garrincha que quando um pai lhe disse, ao final do treino no Botafogo, que
seu filho iria chamar Garrincha, disse na bucha – “deixa de ser bobo, bota João
que é melhor”.
Sincero e autêntico porque
Garrastazu Medice teria enviado um telegrama ao pai do hipotético Emílio
Garrastazu Medice da Silva, até tirado foto com o bebê, como fez Flávio
Cavalcanti. Foi além do telegrama. Passou quinze minutos de um dos seus
programas falando sobre o fato e declinando “modestamente” da
homenagem.
Em tempos passados quanto mais nomes
fossem dados ao bebê mais forte ele seria. Era costume na nobreza. Dom Pedro II
tinha quinze ou dezesseis nomes.
A quantidade de Luís Carlos
existente no Brasil resulta do extraordinário prestígio popular do líder
comunista Luís Carlos Prestes. Mas nenhum Luís Carlos Prestes do Partido
Comunista Brasileiro da Silva. Luís Carlos bastava.
Quando o presidente Eurico Gaspar
Dutra cassou o registro do PCB alegando tratar-se de organização estrangeira, um
dos temores da direita no Brasil era que Prestes, então senador eleito pelo PCB
no Rio de Janeiro, a capital do País, viesse a disputar a presidência e
vencesse.
Eu não posso adivinhar o motivo que
levou a mãe ou o pai do governador de Minas, Antônio Anastásia a buscar esse
nome. Em voga à época o nome da princesa Anastácia, suposta sobrevivente da
família real russa após a revolução de 1917.
Mas posso imaginar que o colírio
Moura Brasil aliviou problemas oftalmológicos de Colírio Moura Brasil de Sousa.
Getúlio Vargas foi outro que deixou
uma “prole” imensa. Juscelino nem tanto e Jânio nem deu tempo, renunciou com
sete meses de governo.
Pelé andou em voga durante um bom
tempo, mas com seu nome de batismo, Edson.
É fácil entender porque tanto José e
tanta Maria. O curioso aí é que José é só José e Maria é das Graças, de Fátima,
das Dores, Maria José, da Piedade e vai por aí afora.
Um senhor de escravos, barão dos
velhos tempos, para que não houvesse erros quanto ao tratamento a ser dispensado
à sua filha chamou-a de Senhorinha Barão não sei das quantas. Lá pelo fim,
depois do sexto ou sétimo qualificativo, vinha o nome Maria da
Glória.
O trem é complicado e nem Freud se
aventurou por esse terreno.
Mas convenhamos Jorge Rafael Videla
é dose para leão, como dose para leão seria – quem sabe não existe? – Emílio
Garrastazu Medice da Silva. No caso do brasileiro o problema seria o
desconhecimento da imensa maioria das pessoas. No máximo uma pergunta sobre o
esquisito Garrastazu. Nome de carrasco francês.
Qual era o nome do cara que baixou a
lâmina da guilhotina cortando o pescoço de Maria Antonieta?
Garrastazu?
O daqui tinha métodos diferentes.
Pau de arara, choques elétricos, estupros, porradas pura e simplesmente e um
monte de garrastazuzinhos incrustrados em DOI/CODI tudo em nome da
“democracia”.
Não tem uma semana essa turma andou
pulando de pára-quedas numa praia do Rio de Janeiro, saudando o golpe de 1964 no
Clube Militar e inflando o peito em patriotismo acendrado todos vestidos com a
saia modelo Geisel da anistia ampla, geral e irrestrita.
Já o Videla original está na cadeia
e lá vai ficar o resto da vida. É lugar de tiranos, de torturadores.
Nos velhos carnavais havia uma
dessas marchinhas que hoje não se encontra mais, dizendo que em Cuba quem anda
na contramão vai para o paredón e aqui, acaba na televisão.
Ou colunista da FOLHA DE SÃO
PAULO.
Já pensou um pai patriota batizando
o filho de Brilhante Ulstra Patriota do Brasil Pereira da Silva
Ia haver uma revolução só de
Pereiras da Silva indignado
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