quarta-feira, 22 de julho de 2009

EUA COGITAM DE PROPOR INTERVENÇÃO EM HONDURAS - Laerte Braga

A atitude cautelosa do governo dos Estados Unidos principal parceiro comercial de Honduras diante da crise naquele país e da perspectiva de guerra civil com a intransigência do governo golpista em permitir o retorno à legalidade, pode levar o governo do presidente Barak Obama a propor o envio de tropas da OEA – Organização dos Estados Americanos, com o pretexto de “restabelecer a ordem e evitar o conflito entre as duas partes. Golpistas e legalistas”.

As declarações forem feitas pelo porta-voz do Departamento de Estado de Rob McInturff ao deplorar o fracasso das negociações conduzidas pelo presidente da Costa Rica Oscar Árias.

McInturff reflete o pensamento da secretária Hilary Clinton que busca, por sua vez, mediar internamente o conflito entre os grupos remanescentes do governo Bush que detêm ainda controle de alguns setores do governo e o novo governo de Barak Obama. Obama condenou o golpe de maneira formal, mas os chamados porões do governo dão apoio logístico aos golpistas, através dos embaixador dos EUA Tegucigalpa, onde os norte-americanos têm uma base com 500 soldados e do senador republicano John McCain, derrotado por Obama nas eleições presidenciais do ano passado.

McCain recebeu na semana passada uma delegação de empresários, diplomatas e militares golpistas. Deu todo apoio a ação ilegal e providenciou encontro desses setores com empresários e lideranças militares dos EUA.

A intervenção nos moldes do que ocorre no Haiti desde o primeiro mandato do ex-presidente George Bush seria uma alternativa de acordo entre os grupos de falcões e moderados do governo dos EUA. A ajuda militar norte-americana foi oficialmente suspensa a Honduras – na prática não – e as ameaças de corte de ajuda econômica por enquanto continuam no terreno de ameaças.

Com a proposta do porta-voz Bob McInturff nem Zelaya e nem o presidente golpista Roberto Michelletti ocupariam a presidência. Um terceiro nome seria indicado e novas eleições seriam realizadas. A proposta em estudos tem o objetivo de impedir a volta de Zelaya e uma das condições seria a não candidatura do atual presidentel constitucional de Honduras.

Na prática a consumação do golpe.

O projeto é difícil, pois as condições em Honduras diferem substancialmente das que permitiram a intervenção no Haiti (da qual participam militares brasileiros), já que o secretário geral da OEA, José Miguel Insulza, ex-ministro do exterior do Chile acusa expressamente os golpistas de intransigência e a unanimidade dos países latino-americanos defende o retorno de Zelaya ao poder.

Governos e diplomatas latino-americanos entendem que desde a proposta da secretária Hilary Clinton de uma negociação entre as partes, os EUA estavam pretendendo ganhar tempo para consolidar o golpe e esvaziar a reação de Zelaya e seus partidários.

O presidente Barak Obama não consegue controlar os falcões em seu próprio país e não detém o comando de toda a máquina governamental. Tanto em Honduras, pelos golpistas, como nos EUA, pelos republicanos, ninguém chama Obama pelo nome, mas pelo pejorativo “el negrito”.

A chegada de Zelaya hoje a Honduras, as manifestações em todo o país e a presença atuante da mulher e da filha de Zelaya preocupam os norte-americanos. A greve geral aliada à participação popular nos protestos é outro fator de preocupação para o governo de Obama, pressionado pelos duros de Washington.

“Esta vai ser uma semana decisiva” disse o secretário geral da OEA, José Miguel Insulza que considera os golpistas “intransigentes” e em determinado momento chegou a usar a expressão, “essa gente é louca”.

Será difícil conseguir na OEA, caso a proposta seja formalizada, obter apoio de países como a Nicarágua, El Salvador, Venezuela, Equador, Bolívia, Paraguai, Argentina, Brasil e Bolívia. Na prática os EUA contam com os governos da Colômbia e do Peru e um ou outro país da América Central, a tendência do Chile é rejeitar qualquer intervenção externa em Honduras.

Outra alternativa para os norte-americanos seria arrancar um compromisso de Zelaya de não tentar modificar a constituição de seu país, através de referendo, e buscar um segundo mandato. Hoje, os fatos políticos conseqüentes do golpe sinalizam que tanto a mulher como a filha de Zelaya podem assumir o papel do pai, o que resta sendo outro complicador para os EUA.

O que seria um simples referendo para que o povo hondurenho opinasse sobre reformas constitucionais no país está se transformando num pesadelo para elites hondurenhas e norte-americanas. Boa parte dos negócios dos EUA em Honduras está na produção de bananas, café e tecidos, sempre associados a empresários daquele país.

Os sinais de desacordos entre militares hondurenhos preocupa também a Washington. O conglomerado empresarial e militar que forma os EUA teme que Zelaya acabe reassumindo o governo com apoio de setores das forças armadas que já se manifestam preocupados com o golpe e contrários à ação repressiva do governo de Pinochelletti.

O que parecia ser a solução para os golpistas está se mostrando problema. O tempo. Aumentam as reações, os protestos, a condenação ao golpe e são claros os sinais de desagregação econômica. No parlamento hondurenho existem deputados que defendem a volta de Zelaya.

Para os falcões nos EUA isso é inadmissível, pois representaria a adesão do país ao projeto de Aliança Bolivariana defendida pelo presidente Chávez da Venezuela e um contraponto a ALCA proposta pelos norte-americanos.

Neste momento os próprios setores conservadores dos EUA começam a considerar que o golpe foi um erro, já que equivocadamente os golpistas não avaliaram a reação do povo e dos países do resto do mundo.

Em Honduras está se iniciando uma grande marcha de voluntários de todo o mundo ao lado de cidadãos hondurenhos pelo restabelecimento da democracia com a volta de Zelaya ao poder. Há uma greve geral que paralisa os setores essenciais do país e os recursos públicos escasseiam, o que torna mais difícil a ação golpista.

O país que estava sob forte tensão desde o golpe que derrubou Zelaya, nesse momento vive também um instante de comoção nacional com a volta definitiva do presidente constitucional ao território hondurenho.

O golpe só se sustenta no apoio dos falcões norte-americanos. E justamente por isso, dada a inconseqüência desse grupo, há o temor que um banho de sangue patrocinado pelos golpistas leve o mundo a voltar-se contra os EUA nesse breve espaço de tempo em que Obama procurou e procura desvincular o seu governo do governo Bush, recobrando a imagem do país.

Mas, até agora, continua sendo apenas o presidente da Disneylândia. Dentro do próprio governo democrata assessores que advertiram Obama, antes da posse, para os riscos da presença de Hilary Clinton numa secretaria estratégica como a de Estado (relações exteriores), tentam ganhar espaço e recuperar o espírito da campanha eleitoral que elegeu Obama. Segundo um deles se dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço, duas estrelas vão disputar qual delas tem o maior brilho e aí, ao invés de um presidente os norte-americanos terão dois na Casa Branca e um real, que controla os porões do governo.

É uma semana complicada para um império em declínio.


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