terça-feira, 7 de julho de 2009

Laerte Braga: 'pelo menos 50 pessoas morreram em Honduras; há mais de 900 presas e 800 desaparecidas'

HONDURAS - RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA

O site Vi o Mundo do jornalista Luís Carlos Azenha - www.viomundo.com.br está divulgando os fatos reais que acontecem em Honduras a partir deste jornalista que, por sua vez, está em permanente contato com grupos resistentes naquele país.

É perceptível que a mídia dita grande e responsável, é pequena moralmente e irresponsável, ao omitir-se sobre o massacre de civis.

Laerte Braga


Atualizado em 07 de julho de 2009 às 08:06 | Publicado em 07 de julho de 2009 às 04:32

O presidente constitucional de Honduras, Manuel Zelaya, se reunirá nesta terça-feira, em Washington, com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. O presidente Barack Obama condenou a deposição de Zelaya e os EUA, como todos os demais países, não reconhecem o governo de Roberto Micheletti.

Do Brasil, o jornalista Laerte Braga tem mantido contato permanente por telefone e internet com as forças de resistência de Honduras. O seu post, baseado em informações obtidas com integrantes de várias organizações sociais daquele país, faz um balanço do que aconteceu domingo e ontem. O relato diverge da versão -- dois mortos -- do governo Roberto Micheletti e do que a mídia tem divulgado.

por Laerte Braga

Fontes da resistência democrática e popular em Honduras conseguiram agora à noite, 6 de julho, 23h e 05m, restabelecer o contato com companheiros no Brasil e repassar novas informações sobre a situação naquele país.

Nesta segunda-feira, 6 de julho, estudantes das universidades públicas fizeram uma gigantesca manifestação em Miraflores. Conseguiram reunir-se com os integrantes da Via Campesina. À tarde a manifestação foi na capital. As universidades estão fechadas.

Há uma grande revolta com o silêncio da grande mídia. Isso tem favorecido os golpistas e permite que ações brutais e violentas sejam corriqueiras na repressão.

Permanece em vigor o toque de recolher e há sinais de desabastecimento em várias cidades do país, inclusive a capital. O controle férreo que os militares exercem sobre as emissoras e redes de tevê, rádios e sobre os jornais, impede que os fatos sejam conhecidos no resto do mundo. A isso acrescem o apoio da grande mídia mundial ao golpe. Um apoio disfarçado, mas um apoio real.

Tegucigalpa está um caos e o grande problema da resistência é a dificuldade de articulação entre suas forças nas cidades e no campo. Todos os esforços para dificultar essa articulação estão sendo feitos pelos golpistas. As informações são basicamente passadas pela internet ou por telefone.

Unificação da luta de resistência
As diversas organizações do movimento popular e de resistência ao golpe que derrubou o presidente constitucional de Honduras Manuel Zelaya decidiram criar o Comitê pela Democracia e a Soberania na América Latina e no Caribe. A decisão foi tomada após um balanço das várias atividades no domingo, 5 de julho, quando o presidente deposto tentou entrar em território hondurenho a bordo de um avião venezuelano e em companhia do presidente da Assembléia Geral da ONU – Miguel D’Escoto.

A criação do Comitê tem o objetivo de unificar a luta de resistência, impedir um acordo entre golpistas e a OEA – estimulado pelo governo dos EUA – em torno de um nome de “consenso” até as eleições de novembro. A defesa do mandato de Manuel Zelaya é o ponto básico e a insurgência vai continuar a mobilizar a população hondurenha e a realizar atos de protestos em todo o país.

A disposição é manter em caráter permanente a mobilização das forças populares até a volta de Zelaya. Nenhuma concessão nem a Washington e nem a golpistas.

É grande o número de militantes do movimento popular de outros países que acorreu a Honduras para solidificar a resistência. A Coordinadora Bolivariana – etapa Brasil – também divulgou nota oficial de apoio à luta popular e em defesa do mandato de Zelaya. Neuzah Cerveira que estava em Honduras até ontem e integrante da Coordinadora neste momento está se dirigindo para um país vizinho onde pretendem se juntar vários líderes dos movimentos que lutam por Zelaya.

Zelaya, Obama e Hillary
O grande temor da população é uma invasão de tropas norte-americanas já que alguns navios de guerra dos EUA estão fundeados em águas hondurenhas. Antes do golpe estavam previstas manobras militares conjuntas entre os dois países. As manobras foram suspensas, mas os navios de guerra dos EUA permanecem no mesmo lugar.

As notícias são desencontradas e dos EUA chegam informes de grupos de apoio aos resistentes, que o governo Obama está tentando encontrar uma solução negociada.

O presidente deposto se encontra em Washington e deve reunir-se com Hilary Clinton, secretária de Estado do presidente Obama. Especula-se que Hillary proporia a Zelaya que renuncie a seu mandato e aceite um nome de consenso em termos de unidade nacional até a realização das eleições. Os movimentos populares não concordam com a proposta e fizeram chegar ao presidente que as condições de resistência são favoráveis e o golpe não tem como se sustentar. Isso foi levado a Zelaya e uma das primeiras decisões do Comitê passa exatamente por aí.

“Há muitos companheiros presos, muitos feridos, muitos mortos e nada disso pode ser esquecido”, afirma um dirigente do Comitê pela Democracia e a Soberania na América Latina e no Caribe. Que acrescenta: “o povo de Honduras está cansado de ter seu destino decidido em Washington”.

Documento ao presidente Lula
As forças da resistência hondurenha avaliam que, pelo menos, 50 mil pessoas se mobilizaram nesse domingo em atos na capital Tegucigalpa. Mas outros ocorreram também em todo o país.

Elas querem uma presença maior do Brasil e do presidente Lula para impedir que os norte-americanos disfarcem o golpe e mantenham intocadas as posições golpistas em conversações e pressões com e sobre Zelaya.

As declarações do ministro das Relações Exteriores do Brasil Celso Amorim que “o golpe em Honduras não se sustenta por muito tempo”, foram interpretadas como consciência do governo do Brasil da força dos resistentes.

Um documento está sendo encaminhado ao presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, pedindo que interfira nas discussões e finque o pé em defesa do retorno da ordem constitucional em Honduras, o que significa a volta do presidente Manuel Zelaya.

Mortos, presos e desaparecidos
As forças militares dispararam contra os manifestantes no aeroporto da capital e nas imediações de outros prédios públicos.

O governo golpista fala em dois mortos durante as manifestações de domingo. A informação foi dada pelo seu ministro de Assuntos Exteriores, Enrique Ortez, que afirmou que a polícia "não fez nenhum disparo" e culpou os próprios manifestantes pelas mortes. Enrique Ortez foi quem disse que o presidente Barack Obama é um "negrito que no sabe nada de nada"

Mas, segundo o Comitê pela Democracia e a Soberania,a Coordinadora Bolivariana e grupos de direitos humanos hondurenhos, o número de mortos é maior. Eles denunciam que, pelo menos, 50 pessoas morreram em todo o território hondurenho e mais de 200 ficaram feridas. Neste momento, há mais de 900 pessoas (a maioria no domingo e quase todas lideranças populares e estudantes) e mais de 800 desaparecidas.

Organizações internacionais de direitos humanos estão em Honduras buscando números do massacre de domingo. Esbarram no silêncio dos golpistas e nas dificuldades para se chegar a hospitais, necrotérios e repartições policiais onde estão os presos. De qualquer forma em vários pontos do país pequenos grupos vão repassando informações e tentando montar um painel geral da situação.

Casas, sindicatos e acampamentos invadidos
Esta segunda-feira comparada ao domingo foi mais calma, mas ainda assim de muita tensão. Com as garantias constitucionais suspensas integrantes das polícias e das forças armadas hondurenhas invadem casas e sindicatos nas cidades e acampamentos de trabalhadores rurais em busca dos líderes.

O governo expediu mandado de prisão contra os dirigentes de organizações sindicais, campesinas, do movimento popular e estudantil. As dificuldades de comunicação com os resistentes e entre os resistentes aumentaram à proporção que os militares vão tentando fechar o cerco. Um dos objetivos básicos dos golpistas é a captura dos principais líderes da resistência, dentre eles Rafael Alegria.

A ferocidade com que os militares reagiram às manifestações de domingo aumentaram a indignação popular com o golpe. Cresce o apoio à resistência.


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