sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

AS PERSPECTIVAS DE DILMA ROUSSEF - Laerte Braga

Se levarmos em conta os fatos que têm sido mostrados todos os dias em documentos vazados pelo site WIKILEAKS, Dilma Roussef começa sua caminhada em janeiro como um acrobata que faz aquelas travessias fantásticas pelos Alpes, quilômetros acima do nível do chão.
Não há como imaginar que um governo possa ser diferente de um exercício de equilibrismo quanto entre seus ministros tem figuras como Moreira Franco e Nelson Jobim, isso para ficar em dois. E ambos em ministérios estratégicos, ambos, comprovadamente corruptos e comprometidos com interesses de potência e grupos estrangeiros.
Há um risco que Dilma corre e de saída vai precisar mostrar que está à altura do desafio. O de ser capaz de se equilibrar sem concessões a esse tipo de bandido travestido de político. Dilma não é Lula e até que ponto vai conseguir não sei, só depois dos primeiros momentos do seu governo vai ser possível avaliar.
O fato torna-se mais preocupante ainda quando afasta figuras respeitadas mundialmente como Samuel Pinheiro Guimarães e Celso Amorim de ministérios chaves e nomeia para as Relações Exteriores um diplomata que em sua primeira declaração critica o voto do País sobre o Irã. Antônio Patriota está no governo Lula há oito anos e agora manifesta essa posição.
De fazer inveja a qualquer camaleão.
O que talvez Dilma não tenha entendido é que foi eleita presidente em função de Lula. Do contrário nem vereadora em Porto Alegre, ou Belo Horizonte. E em função de Lula significa dizer das políticas do atual governo nesses oito anos do presidente.
Em tese poderíamos dizer um programa, estratégias e táticas montadas em cada momento, de cada dificuldade. Segurou-se em seu carisma, nos avanços obtidos em políticas sociais, na estabilidade econômico/financeira (sem mudanças em relação às políticas neoliberais), acima de tudo na política externa que foi capaz de transformar o Brasil de um gigante adormecido numa voz influente e decisiva em todo o mundo.
Dilma foi escolhida e eleita para isso. Não quer dizer que tenha que ser tutelada ou fantoche de Lula, mas deve e tem o dever de mostrar um compromisso expresso com essa postura. E perceber, aí sim, a possibilidade de avanços concretos e efetivos já que os anos de turbulência passaram e os brasileiros foram claros na sua opção.
O “capitalismo a brasileira”, invenção de Lula na perfeita definição de Ivan Pinheiro, pode e deve começar a ser transformado em avanços na direção do socialismo. É fundamental compreender que o confronto com as forças conservadoras é inevitável, hoje ou amanhã e quando mais tarde acontecer, maiores serão as chances de sermos engolidos.
O PT não é um partido de caráter revolucionário, “diferente” como se dizia, tampouco uma vestal. É só um PMDB ou um PSDB diferente (sem aspas) no jogo do clube de amigos e inimigos cordiais preocupado em manter cargos, sinecuras, ocupar espaços na máquina estatal, nada além disso. As principais lideranças petistas hoje nem sabem mais a história e a gênese do partido.
O movimento popular e a parte não contaminada do movimento sindical, formas de participação popular serão essenciais. E nisso o debate da comunicação é decisivo.
Os mais recentes documentos do WIKILEAKS mostram a preocupação e as pressões do governo dos EUA sobre o Brasil na questão iraniana. Os norte-americanos não gostam da política de Amorim em relação ao Irã. Não se trata da questão nuclear, qualquer leigo sabe que o Irã está se preparando para construir armas nucleares e o caráter dessas armas, ali, é defensivo, diante da barbárie dos EUA e de Israel (milhões de iranianos morreram na guerra contra o Iraque, montada, orquestrada e dirigida por Washington.)
A política externa brasileira dificultou ações terroristas tanto dos EUA quanto de Israel na região. A maior potência do mundo estava acostumada com a submissão brasileira no governo de FHC (até sapato o chanceler tirava no aeroporto de New York para submeter-se a revista).
Imaginar que dois sacripantas como Nelson Jobim (o WIKILEAKS já mostrou suas ligações com os norte-americanos) e Moreira Franco vão se preocupar com o Brasil é acreditar na conversão do diabo.
Como Dilma vai lidar com isso é uma incógnita. Como vai lidar com os apetites de PT, PMDB e outros menores para cargos na máquina estatal é outro problema.
O risco de tornar-se presa fácil de forças conservadoras e jogar por terra todos os motivos que a transformaram em presidente é grande.
O fim do governo Lula, respeitado no mundo inteiro, vai fazer com que norte-americanos aumentem o som e o tom das pressões sobre o governo brasileiro para um alinhamento incondicional. Se isso acontecer o retrocesso será sem tamanho, levando em conta que o próprio governo Lula funcionou em compartimentos estanques administrados na prodigiosa capacidade de equilibrismo do presidente.
E tudo isso sem levar em conta que as forças armadas brasileiras em sua absoluta maioria bate continência para Washington e essa maioria esta louca para o restabelecimento da “ajuda por fora”, para treinamento com os brinquedinhos que lá se tornam imprestáveis e aqui ajudam a silenciar consciências.
O desafio da integração latino-americana, um processo que se iniciou a partir do presidente Chávez da Venezuela e hoje tem a força de uma realidade da qual não se pode fugir sob pena de voltarmos a ser a velha AMÉRICA LATRINA, ou nos transformamos num México separado dos enviados divinos por um muro.
É só olhar a Europa Ocidental. Um amontoado de ex-grandes impérios transformados em colônias e bases militares de um monstrengo chamado OTAN (ORGANIZAÇÃO DO TRATADO ATLÂNTICO NORTE), pretexto para a ocupação imperial norte-americana.
Ou alguém ainda acredita que o primeiro-ministro britânico, ou a chanceler da Alemanha acorda e reza a Papai do Céu? Agradece a Obama mais um dia e pronto.
Nem falo de Berlusconi. Qualquer crítica feita na Itália a Tiririca seria desqualificada na figura do próprio primeiro-ministro.
Apostar única e exclusivamente nas políticas sociais, sem transformá-las em alavancas de transformações no modelo, ampliando o processo de reforma agrária e na estabilidade econômica é o mesmo que não sair do lugar e permitir espaços que os grupos conservadores vão ocupar e preparar para a reconquista do poder.
Aécio está aí prontinho para isso.
O líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza é autor de um projeto de lei redigido pela advogada da multinacional MONSANTO. Libera o uso da tecnologia “terminator” – que é proibida em todo o mundo e condenada pela ONU – para atender a interesses dos agronegócio.
O veneno nosso de cada dia naquela conversa fiada de feijão/soja/arroz/milho do tamanho de uma abóbora.
Como Dilma vai lidar com isso? A proposta revoga a lei de Biossegurança, do governo Lula e introduz a tecnologia da dependência absoluta. A semente que germina uma só vez, a semente estéril. A dependência alimentar plena e absoluta e com recheio de veneno.
Uma das tecnologias a “terminator” é considerada ameaça a diversidade de cultivos e a soberania alimentar desde 1998. ONU, Convenção de Biodiversidade recomendam que países não usem essas sementes, nem as comercializem. O Brasil em 2006 manteve a decisão de não fazê-lo e naturalmente a MONSANTO financiou a campanha de Vaccarezza, como qualquer VALE financia latifundiários padrão Kátia Abreu no afã de destruir o Pantanal a Amazônia, colocar o Brasil na Idade Média.
Vaccarezza é um escárnio. O projeto foi redigido pela advogada Patrícia Fukuma, da MONSANTO e soa como fatura do financiamento da campanha do deputado petista. Nem escondem isso nos documentos constantes do PL 5575/2009. Vaccareza diz que conversou com ela, mas “não tem nenhuma relação”. Aprendeu a arte da cretinice depressa. É óbvio, essa pressa é proporcional ao aumento da conta bancária.
Como é que Dilma vai lidar com esse tipo de gente formando a base do governo?
Não são perspectivas positivas. Os primeiros momentos, com certeza, serão de festas. Os segundos, terceiros, vão depender da presidente honrar os compromissos de campanha no mínimo e buscar avanços no curso do próprio processo conseqüência das conquistas do governo Lula, tanto quanto rejeitando as concessões do atual presidente.
Do contrário se Sarney vier a morrer no meio do caminho mumificam e o mantém na presidência do Senado, ou exumam ACM.

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