domingo, 24 de junho de 2012

Eleições 2012 – A Boiada de Piranha - Haroldo Oliveira
 
*Franklin Maciel
Havia um velho hábito entre os pantaneiros no transporte de boiadas pelo Pantanal Matogrossense de sacrificar um boi velho e doente sempre que fosse preciso atravessar um rio cheio de piranhas, assim, enquanto as piranhas se ocupavam do boi dado em sacrifício, a boiada passava incólume do outro lado, preservando assim a vida da maioria.
Já na política, as coisas sempre funcionam ao contrário do interesse da maioria.
Para salvar o pescoço dos bois velhos e doentes (vereadores em exercício de mandato) que dificilmente conseguiriam se reeleger caso contassem apenas com os votos recebidos pelos eleitores, sacrificam, sem a menor cerimônia, todo um grupo de novos candidatos (boiada) cujos votos, assim com o sangue e a carne do boi de piranha pantaneiro, irão garantir uma reeleição segura para elementos que, na prática, são reprovados pelos eleitores.

Mas como isso acontece?

O sistema de eleição proporcional brasileiro (eleições legislativas para vereadores e deputados) funciona dividindo o número de vagas em disputa pelo número de votos válidos, desta divisão sai um número de votos à serem atingidos (quociente eleitoral) que garantirão aos grupos em disputa (partidos e coligações) eleger representantes para ocupar essas vagas sempre que atingirem esse número.
Peguemos como exemplo a cidade de São José dos Campos que na última eleição para vereador (2008) teve 21 cadeiras de vereador em disputa e um total de 332.900 votos válidos.

Dividindo esses votos pelas 21 vagas de vereador, chegamos à um quociente eleitoral de 15.852 votos, ou seja, sempre que a somatória dos votos de todos os candidatos de um determinado partido ou coligação atingiram 15.852 votos ou múltiplos deste, este partido garantiu a eleição do primeiro colocado da lista de candidatos. Algo que no papel parece justo, mas na prática revela-se uma armadilha para o eleitor que vota num candidato novo contando com a renovação da câmara de vereadores e seu voto neste candidato novato, só serve de boi de piranha para garantir a reeleição do vereador que encabeça a lista de candidatos.
Para se ter uma idéia do quanto esse sistema é lesivo e enganador, o vereador mais votado nas eleições 2008, foi Fernando Petiti (PSDB) que obteve 7.600 votos, nem a metade dos votos necessários para garantir a sua reeleição (15.850), ou seja, os outros 8.250 votos que garantiram a reeleição de Petiti vieram de candidatos novos, a “boiada de piranha” , gente que entrou para a política com a proposta de renová-la, mas acabou tendo seus votos abocanhados pelos políticos tradicionais.
E isso não é privilégio da situação, pois os vereadores da oposição também pegaram essa “via segura” criada pela boiada de piranha (candidatos novos que deram a cara à tapa nas eleições por nada). O menos votado deles, Tonhão Dutra (PT) garantiu sua reeleição com apenas 3.243 votos, ou seja, mais de 78% dos votos que garantiram a reeleição de Tonhão foram votos de cidadãos que queriam eleger candidatos novos e que em nenhum momento imaginavam que seu voto fosse parar na conta de Tonhão.

E como fazer para burlar isso?

Três em cada quatro eleitores joseenses, nas últimas eleições votaram em candidatos novos, rejeitando de maneira clara o clientelismo praticado pela grande maioria dos vereadores em exercício, entretanto, matreiramente, este vereadores, assim como acontece neste exato momento de olho nas eleições do ano que vem, simulam divergências internas para saírem do partido (Vejam o caso do PR e a saída dos vereadores Tampão e Jairo Santos e Cristiano Ferreira do PSDB) onde estão e migram silenciosamente para partidos que ainda não possuem vereadores com o intuito de encabeçar as chapas e se aproveitar dos votos dos novos candidatos, pois uma chapa constituída só por bois velhos (vereador em mandato) não conseguiria reeleger nem 1/3 deles, fazendo com que muitos deles morressem na praia.
A ÚNICA SAÍDA para quem quer ter a certeza de que seu voto não vai cair em mãos erradas, é VOTANDO EM CANDIDATOS DE PARTIDOS QUE NÃO POSSUEM VEREADORES EXERCENDO MANDATO.
Votando em candidatos novos que estejam disputando em condição de igualdade com candidatos novos, você garante que estes atuais vereadores preocupados mais em dobrar os próprios salários e adular o prefeito, nunca mais pisem na câmara como vereadores e cumpram seu papel de bois velhos e doentes dando espaço para a caravana passar.
Franklin Maciel
Cientista Socia



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