Eleições
2012 – A Boiada de Piranha - Haroldo Oliveira
*Franklin
Maciel
Havia
um velho hábito entre os pantaneiros no transporte de boiadas pelo Pantanal
Matogrossense de sacrificar um boi velho e doente sempre que fosse preciso
atravessar um rio cheio de piranhas, assim, enquanto as piranhas se ocupavam do
boi dado em sacrifício, a boiada passava incólume do outro lado, preservando
assim a vida da maioria.
Já
na política, as coisas sempre funcionam ao contrário do interesse da
maioria.
Para
salvar o pescoço dos bois velhos e doentes (vereadores em exercício de mandato)
que dificilmente conseguiriam se reeleger caso contassem apenas com os votos
recebidos pelos eleitores, sacrificam, sem a menor cerimônia, todo um grupo de
novos candidatos (boiada) cujos votos, assim com o sangue e a carne do boi de
piranha pantaneiro, irão garantir uma reeleição segura para elementos que, na
prática, são reprovados pelos eleitores.
Mas como isso
acontece?
O
sistema de eleição proporcional brasileiro (eleições legislativas para
vereadores e deputados) funciona dividindo o número de vagas em disputa pelo
número de votos válidos, desta divisão sai um número de votos à serem atingidos
(quociente eleitoral) que garantirão aos grupos em disputa (partidos e
coligações) eleger representantes para ocupar essas vagas sempre que atingirem
esse número.
Peguemos
como exemplo a cidade de São José dos Campos que na última eleição para vereador
(2008) teve 21 cadeiras de vereador em disputa e um total de 332.900 votos
válidos.
Dividindo
esses votos pelas 21 vagas de vereador, chegamos à um quociente eleitoral de
15.852 votos, ou seja, sempre que a somatória dos votos de todos os candidatos
de um determinado partido ou coligação atingiram 15.852 votos ou múltiplos
deste, este partido garantiu a eleição do primeiro colocado da lista de
candidatos. Algo que no papel parece justo, mas na prática revela-se uma
armadilha para o eleitor que vota num candidato novo contando com a renovação da
câmara de vereadores e seu voto neste candidato novato, só serve de boi de
piranha para garantir a reeleição do vereador que encabeça a lista de
candidatos.
Para
se ter uma idéia do quanto esse sistema é lesivo e enganador, o vereador mais
votado nas eleições 2008, foi Fernando Petiti (PSDB) que obteve 7.600 votos, nem
a metade dos votos necessários para garantir a sua reeleição (15.850), ou seja,
os outros 8.250 votos que garantiram a reeleição de Petiti vieram de candidatos
novos, a “boiada de piranha” , gente que entrou para a política com a proposta
de renová-la, mas acabou tendo seus votos abocanhados pelos políticos
tradicionais.
E
isso não é privilégio da situação, pois os vereadores da oposição também pegaram
essa “via segura” criada pela boiada de piranha (candidatos novos que deram a
cara à tapa nas eleições por nada). O menos votado deles, Tonhão Dutra (PT)
garantiu sua reeleição com apenas 3.243 votos, ou seja, mais de 78% dos votos
que garantiram a reeleição de Tonhão foram votos de cidadãos que queriam eleger
candidatos novos e que em nenhum momento imaginavam que seu voto fosse parar na
conta de Tonhão.
E como fazer
para burlar isso?
Três
em cada quatro eleitores joseenses, nas últimas eleições votaram em candidatos
novos, rejeitando de maneira clara o clientelismo praticado pela grande maioria
dos vereadores em exercício, entretanto, matreiramente, este vereadores, assim
como acontece neste exato momento de olho nas eleições do ano que vem, simulam
divergências internas para saírem do partido (Vejam o caso do PR e a saída dos
vereadores Tampão e Jairo Santos e Cristiano Ferreira do PSDB) onde estão e
migram silenciosamente para partidos que ainda não possuem vereadores com o
intuito de encabeçar as chapas e se aproveitar dos votos dos novos candidatos,
pois uma chapa constituída só por bois velhos (vereador em mandato) não
conseguiria reeleger nem 1/3 deles, fazendo com que muitos deles morressem na
praia.
A ÚNICA
SAÍDA para quem quer ter a certeza de que seu voto não vai cair em mãos
erradas, é VOTANDO EM CANDIDATOS DE PARTIDOS QUE NÃO POSSUEM
VEREADORES EXERCENDO MANDATO.
Votando
em candidatos novos que estejam disputando em condição de igualdade com
candidatos novos, você garante que estes atuais vereadores preocupados mais em
dobrar os próprios salários e adular o prefeito, nunca mais pisem na câmara como
vereadores e cumpram seu papel de bois velhos e doentes dando espaço para a
caravana passar.
Franklin
Maciel
Cientista
Socia
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