sábado, 10 de maio de 2014


Carta do Futuro a respeito de quem têm menos contato com a água
Carta do Futuro, escrita em 2070
Estamos no ano de 2070, acabo de completar os 50 anos, mas a minha aparência é de alguém de 85.
Tenho problemas renais sérios porque bebo pouca água. Creio que me resta pouco tempo.
Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade.
Recordo quando tinha 5 anos. Tudo era muito diferente.
Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro com cerca de uma hora.
Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele.
Antes todas as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira.
Agora devemos raspar a cabeça para a mantê-la limpa sem água.
Antes o meu pai lavava o carro com a água que saia de uma mangueira.
Hoje os meninos não acreditam que a água se utilizava dessa forma.
Recordo que havia muitos anúncios que diziam CUIDA DA ÁGUA, só que ninguém lhes ligava; pensávamos que a água iria durar para sempre.
Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos d’água estão irreversivelmente contaminados ou esgotados.
Antes a quantidade de água indicada por dia eram oito copos.
Hoje só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta em grande quantidade o lixo, tivemos de voltar a usar os poços sépticos (fossas) como no século passado porque as redes de esgotos não se usam por falta de água.
A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a capa de ozônio que os filtrava na atmosfera.
Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados.
As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte.
A indústria está paralisada e o desemprego é dramático.
As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam-te com água potável em vez de dinheiro.
Os assaltos por um bidão de água são comuns nas ruas desertas.
A comida é 80% sintética. Pela ressecamento da pele uma jovem de 20 anos esta como se tivesse 40.
Os cientistas investigam, mas não há solução possível.
Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de árvores o que diminui o coeficiente intelectual das novas gerações.
Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos, como consequência há muitos meninos com deficiências, mutações e deformações.
O governo até cobra-nos pelo ar que respiramos. 137 m3 por dia por habitante e adulto.
A gente que não pode pagar é retirada das “zonas ventiladas”, que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar, não são de boa qualidade mas pode-se respirar, a idade média é de 35 anos.
Em alguns países ficaram manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exército, a água tornou-se um tesouro muito cobiçado, mais do que ouro e diamantes.
Aqui em troca, não há arvores porque quase nunca chove, e quando chega a registrar-se precipitação, é de chuva ácida; as estações do ano tem sido severamente transformadas pelas provas atômicas e da indústria contaminante do século XX.
Advertia-se que havia que cuidar o meio ambiente e ninguém ligou.
Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem descrevo como eram bonitos os bosques, falo-lhe da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse, o saudável que era a gente.
Ela pergunta-me:- Papai! Porque acabou a água?
Então, sinto um nó na garganta, não posso deixar de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que deu continuação à destruição do meio ambiente e não ligamos aos avisos.
Agora os nossos filhos pagam um preço alto e, sinceramente, penso que a vida na terra já não será possível dentro de muito tempo porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível.
Como gostaria voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isto quando ainda podíamos fazer algo para salvar o nosso planeta Terra!
Documento extraído da revista biográfica “Cronicas de Los Tiempos” de Abril de 2002

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