quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
CHICO MENDES:POR QUE HERÓI DA FLORESTA? - Vanderley Caixe
Ele defendia a sustentabilidade quando a palavra nada significava para a maioria. Tachado de inimigo do Brasil por maldizer o “progresso” da Amazônia, fez ecoar seu grito em defesa dos povos da floresta. Enfrentou multinacionais, latifundiários, pistoleiros. Antes de ser assassinado, declarou: “Se descesse um enviado dos céus e garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta, até que valeria a pena”.
Em 22 de dezembro de 1988 o Brasil se preparou para ver o assassinato de Odete Roitman na novela das oito. A vilã de Vale Tudo, exibida na Rede Globo, ainda sobreviveria dois capítulos, mas outra morte anunciada realmente aconteceu naquela noite. Às 21 horas – ou 19 horas, no Acre –, um tiro de pistola acertou Francisco Alves Mendes Filho. “Nunca um tiro dado no Brasil ecoou tão longe”, escreveu o jornalista Zuenir Ventura, que investigou o crime.Chico já era líder entre os seringueiros e tinha o respeito de lideranças internacionais.
Ao perder a vida, tornou-se definitivamente símbolo mundial. Representa a luta – pacífica, mas ativa – dos povos da floresta pelo seu sustento. Ao defender a Amazônia, foi pioneiro em levantar a bandeira do meio ambiente, numa época em que dizer que a vida humana dependia da preservação ambiental soava uma abstração.
O herói da floresta nasceu e morreu na mesma Xapuri. Nunca teve casa própria. Alegre e afetuoso, conquistava as pessoas antes mesmo de expor suas ideias. Gostava de jogar dominó, comer paca e macaco. Tirou leite de seringueira desde os nove anos, seguindo a profissão do pai e do avô nordestino. Aos 17 anos, perdeu a mãe e o irmão mais velho.Não frequentou escola – os seringalistas não as permitiam em suas terras –, mas lia jornais desde menino. Um fugitivo da Coluna Prestes, escondido na mata, foi seu mestre em lições sobre Lenin e Marx. A exploração sofrida por seu povo ganhava novos contornos. Com eles, tinha início sua militância política.Mais tarde, Chico alfabetizou outros jovens, sempre antes de o sol raiar. Se casaria com uma das alunas, 20 anos mais nova. Ilzimar, morena de cabelos negros, foi sua segunda esposa, mãe de dois de seus três filhos
Palavra maldita
“O progresso está virando uma palavra maldita”, dizia Chico. “Ele trouxe os conflitos de terra, trabalho escravo, poluição do meio ambiente, destruição dos recursos naturais e a ideia de que a Amazônia era uma imensa área de terras devolutas que qualquer pessoa podia meter a mão.” Nos anos 1970, “progresso” era a palavra de ordem do governo militar. Fazendeiros, grandes grupos econômicos e multinacionais foram impulsionados a ocupar o Norte do País. Abriam clareiras na selva para criar gado e simplesmente expulsavam as famílias que ali viviam, usando jagunços ou fogo. Com outros colegas que tiravam seu sustento das matas e conheciam sua riqueza, Chico fundou o movimento sindical no Acre. Defendiam o meio ambiente e a máxima:
“A terra é de quem nela trabalha”.
Sem nenhum dólar no bolso, Chico foi aos Estados Unidos.
Apenas discursando num comitê e nos corredores, conseguiu revogar uma decisão do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Empates: vitórias e derrotasComo lutar contra tratores e pistolas? O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Basileia criou o “empate”, espécie tupiniquim de Satyagraha – resistência pacífica liderada por Gandhi. Eram cordões humanos de 100, 200, 300 pessoas. Cantando, homens, mulheres e crianças paravam motosserras e tratores. E convenciam os funcionários a aderir à causa.Não demorou até que o diretor do sindicato fosse “eliminado” pelos fazendeiros. Chico Mendes, primeiro-secretário, corria riscos por “incitar contra a paz”. Depois de discursos e protestos pelo assassinato, alguns seringueiros se exaltaram e mataram o fazendeiro mandante do crime. Chico foi torturado pela polícia e enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Só em 2008 seria anistiado.Em vez de se inibir, Chico Mendes ia cada vez mais longe. Logo o movimento foi novamente articulado. O Primeiro Encontro Nacional dos Seringueiros aconteceu em Brasília, depois de mobilização intensa. O principal objetivo: mostrar na capital do País que a Amazônia não era uma terra desabitada. Ali Chico Mendes articulou o Conselho Nacional dos Seringueiros e falou da “união dos povos da floresta”. Era o ponto de partida para a criação de reservas extrativistas em prol de índios, seringueiros, quebradeiras de coco, castanheiros, quilombolas e, claro, do meio ambiente. O ambientalista ajudou na implementação das reservas, mas a oficialização da maior delas com seu nome foi homenagem póstuma.
Uma voz que ecoa
Sem nenhum dólar no bolso, Chico viajou até os Estados Unidos, apoiado por órgãos internacionais. Revogou uma decisão do Banco Internacional de Desenvolvimento apenas discursando no comitê e nos corredores. O banco deixou de financiar uma rodovia na Amazônia e outros projetos que incentivavam o desmatamento, para desespero do governo brasileiro e, principalmente, dos ruralistas acreanos.Chico sabia que estava jurado de morte. Declarou isso algumas vezes e até divulgou os nomes dos possíveis mandantes no 3° Congresso da CUT, em que foi ovacionado. “Se descesse um enviado dos céus e garantisse que minha morte iria fortalecer nossa luta, até que valeria a pena. Mas a experiência nos ensina o contrário. Então eu quero viver”, declarou, sem saber como suas ideias continuariam a ecoar até hoje na Amazônia, no Brasil e no mundo.
Saiba Mais:"Chico Mendes Crime e Castigo", de Zuenir Ventura (Companhia das Letras, 2003).
ESCREVEU:Natália Pesciotta
MEMÓRIAS DO BLOG_ASSISTA AOS DOCUMENTÁRIOS SOBRE CHICO MENDES
UM SANTO PRETO PASSOU POR CURITIBA - Bismarck Frota de Xerez
Confira.
Combativo e generoso: nos passos de Padre Toninho
A seguir você confere o depoimento de Afonso Maria Ligorio Soares, refletindo o legado de Padre Toninho. Ele é presidente da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião - Soter, membro e sócio-fundador do Centro Atabaque de Teologia e Cultura Negra. Graduou-se em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, mestre em Teologia Fundamental pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma - PUGR, Itália, e doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo - Umesp. É pós-doutor pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio - e livre-docente pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP. De sua produção bibliográfica, destacamos Negros, uma história de migrações (2. ed. São Paulo: Centro de Estudos Migratórios, 1996).
Confira o artigo.
"A primeira vez que vi Padre Toninho foi numa conferência que proferiu em uma Semana Filosófica na PUC de Curitiba, no início dos anos 1980. Ainda estudante de filosofia, fiquei impressionado com aquele jovem presbítero, negro, de fala mansa e bem-humorada, que tinha o dom de fazer as denúncias mais duras sem perder a leveza, como se estivesse numa roda de amigos contando anedotas.
E não era nada irrelevante o tema de Toninho naquela manhã. Era dura e crítica a sua fala. A plateia por várias vezes não conteve o riso, graças à maneira daquele padre militante recordar os casos de racismo que ele ou conhecidos seus haviam passado e ainda passavam em seu dia-a-dia. O riso era nervoso e o recado calava fundo, porque não era fácil admitir que além de toda a discriminação sofrida pela comunidade negra brasileira, durante e após o escravismo, até mesmo dentro das igrejas cristãs, principalmente na Igreja católica, negros e negras tinham sido e seguiam sendo alijados como gente de segunda classe.
Só mais tarde me dei conta da figura ímpar daquele homem combativo e generoso, e da dimensão de seu envolvimento com a causa do povo negro. Assessor e incentivador, junto à CNBB, das discussões em torno de uma atenção pastoral à questão negra, ele esteve presente na criação dos Agentes de Pastoral Negros (APNs) em 1983, batalhou pela visibilidade e pelo combate ao drama do racismo nas assessorias que prestou ao episcopado durante as Conferências de Puebla e Santo Domingo, e manteve-se como principal liderança da Pastoral afro nos últimos 30 anos.
Lembro-me de quão decisiva foi, para o desabrochar da consciência negra junto aos estudantes, a sua gestão à frente da atual Faculdade de Teologia da PUC-SP. Além disso, ele também presidiu a Sociedade de Teologia e Ciências da Religião - Soter em um período delicado para a consolidação da reflexão teológica latino-americana. Depois, no final de 1990, Padre Toninho reuniu um pequeno grupo de militantes da causa negra - homens e mulheres; leigos e presbíteros; católicos, protestantes e iniciados na tradição dos orixás; filósofos, educadores, teólogos e terapeutas - e juntamente com estes fundou o Grupo Atabaque de Teologia e Cultura Negra (hoje, Centro Atabaque). O Atabaque, sob a liderança e sustentação diuturna de Toninho, firmou-se como uma ONG ecumênica que se reúne até hoje com o propósito de subsidiar a reflexão e a prática dos APNs, intensificando também o intercâmbio com grupos e entidades internacionais envolvidos com a luta pela cidadania plena de todos os afro-descendentes.
Que legado nos deixa Toninho? Num dos últimos balanços que fez sobre a prática e a reflexão teológica em nossos dias, ele apontava, como um dos temas recorrentes, a superação de preconceitos em busca do necessário diálogo afro-religioso, e projetava, para a próxima década, cinco temas particularmente importantes: teologia, fé e práticas afro-religiosas; teologia feminista afro-americana; Bíblia e comunidades negras; comunidade negra e nova ordem mundial; ecumenismo e macroecumenismo (ecumenismo integral) na perspectiva afro. Detendo-se nesse último, Padre Toninho direcionava sua reflexão para a inculturação, esclarecendo, porém, "não se tratar de um processo descendente, cujo protagonismo caiba à mensagem ou ao mensageiro, mas de uma prática em que é dada prioridade ao povo, com suas culturas que, por certo, não superam os evangelhos, mas integram sua mensagem no próprio viver". Para mim, esse trecho soa como síntese e desafio lançado aos que seguimos na caminhada.
Mas é difícil ainda pensar a frio, a poucos dias desta despedida definitiva. Parecem sobrar as palavras que repetem como ele foi importante para o diálogo inter-religioso e para a conversão da Igreja no Brasil à defesa de plataformas antidiscriminatórias de qualquer espécie. Toninho tinha o dom da conciliação no melhor dos sentidos. Não lhe interessava o conflito pelo conflito nem a crítica destrutiva aos tremendos pecados da Igreja católica contra nossos ancestrais africanos. Ele sempre viu e nos pregou que as Igrejas, não obstante seus erros, eram portadoras de uma mensagem evangélica que as ultrapassava. E em nome dessa convicção de fé, vivida na esperança pascal, e posta em prática em seu amor pelos mais pobres, Toninho consumiu sua vida até os últimos instantes.
Nestes dias, as igrejas cristãs e, nelas, as comunidades negras de todo o Brasil estão de luto, mas seguem na luta. O coração ecumênico e inter-religioso deste nosso "Patriarca" (era assim que, carinhosamente o chamávamos - mas ele não gostava muito, por receio de que alguém confundisse com patriarcalismo) permanecerá conosco, seus filhos e filhas espirituais, onde quer que passemos".
______________________________________
Um compromisso com a causa dos pobres
A seguir, você confere duas entrevistas, realizadas com Vilson Caetano de Sousa Júnior e Irene Dias de Oliveira. Ambos conviveram intensamente com Padre Toninho, e por isso recuperam aspectos de sua trajetória na construção da Pastoral do Negro e suas lutas em prol de uma humanidade mais justa e fraterna.
Vilson é doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP - e pós-doutor em Antropologia pela Universidade Estadual de São Paulo - UNESP. É professor adjunto da Universidade Federal da Bahia - UFBA, iniciado no Candomblé e membro do Centro Atabaque de Cultura Negra e Teologia. De sua produção bibliográfica, citamos O Banquete Sagrado: notas sobre a comida e o comer em terreiros de candomblé (Salvador: Atalho, 2008).
Irene é teóloga e filósofa, graduada pela Pontifícia Faculdade Teológica da Itália Meridional, onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia. É autora, entre outros, de Identidade negada e o rosto desfigurado do povo africano (os Tsongas). (São Paulo: Annablume, 2002).
Confira as entrevistas.
IHU On-Line - Qual é o principal legado de Padre Toninho?
Irene Dias de Oliveira - O seu principal legado foi sua luta e seu compromisso com a causa dos pobres entre os mais pobres. Tem sido um dos principais atuante no combate à discriminação racial e toda forma de exclusão religiosa e social. Pe. Toninho se destaca pela sua grande contribuição na Igreja Católica por ter fundado a Pastoral do Negro; por ter sido um dos grandes intelectuais da Teologia Negra no Brasil e fundador do grupo Atabaque de Cultura Negra e Teologia cujo objetivo é pensar, discutir os temas emergentes das comunidades negras, publicar, oferecer cursos, assessorias e subsídios aos grupos e comunidades comprometidas com a causa dos povos negros. Além disso, Pe. Toninho tem sido para todos e todas que tiveram o privilégio de conhecê-lo, um testemunho vivo de amorosidade, respeito, solidariedade e ternura. Sua herança místico-teólogica é uma riqueza ímpar para a Igreja Católica e para a Comunidade Negra que tanto ele amou e acolheu.
Vilson Caetano Júnior - Acredito que o principal legado do Pe. Toninho tenha sido a Teologia Negra Latino Americana. Uma Teologia que procurou ir além do texto do Êxodo 3, 7-8 que inspirou a Campanha da Fraternidade de 1988. Depois dessa Campanha, a igreja, particularmente do Brasil, nunca mais foi a mesma. O pensamento teológico negro representado pelo Pe. Toninho juntamente com outros teólogos como o Pe. Batista, Edir Soares e Heitor Frizotti desafiou a igreja a pensar que o oprimido tinha rosto, era negro(a). Era pobre porque era negro, indo além da perspectiva da teologia negra até então produzida pelos teólogos(as) norte americanos. A fim de sistematizar este pensamento, Pe Toninho juntamente com outros companheiros(as) criou o Grupo Atabaque de Cultura Negra e Teologia, atualmente chamado de Centro Atabaque de Cultura Negra e Teologia, grupo interdisciplinar e macroecumênico. A partir do Centro Atabaque de Cultura Negra e Teologia, o Pe. Toninho incentivou a sistematização de questões específicas sobre gênero,bíblia e diálogo inter-religioso, presidindo três Consultas de Teologia e Culturas Afro-Americanas e Caribenhas. Outro legado do Pe. Toninho foi a Pastoral, seja através dos Agentes de Pastoral Negros, a Liturgia incultura, chamada de Missa Afro. Pe. Toninho deixou também outro legado: a vida religiosa. Várias vezes ele representou a CRB e foi um dos fundadores do Instituto Mariama que reúne presbíteros, diáconos e bispos negros, sem falar no GRENI, grupo de religiosos e religiosas negras e indígenas. Toninho nos deixa ainda um legado acadêmico enorme. Diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, professor do Instituto Teológico São Paulo - ITESP. Pe. Toninho era especialista em Teologia Moral, assim dialogava com tranquilidade com diversos campos de saber entre eles a Filosofia, a História, a Sociologia e a Antropologia.
IHU On-Line - Como as suas lutas ajudaram a solidificar o diálogo inter-religioso e o respeito pelas diferentes crenças?
Irene Dias de Oliveira - Reconhecendo e fazendo reconhecer nas vozes dos pobres e oprimidos e em sua lutas um patrimônio espiritual comum, dom de Deus para todos juntamente com todas as histórias de fé dos vários povos e religiões, Pe. Toninho, ao longo de sua vida, enquanto teólogo e sacerdote, tem se dedicado a mudar o olhar da Igreja e da Teologia em relação às religiões de matriz africana permitindo dessa forma espaços de aproximações, ensaios inter-religiosos e respeito incondicional ao outro, ao diferente e àqueles(as) que professam outras crenças e credos. Ao longo de sua vida, ele tem valorizado as múltiplas expressões de fé que, segundo ele, mostram-se através do rosto de um Deus afro. Neste sentido, destacam-se suas obras e publicações sobre o tema da Inculturação.
Vilson Caetano Júnior - Isso foi algo muito particular na trajetória de vida do Pe.Toninho. Ele tinha um profundo amor pela igreja, pelo ministério que assumiu e, várias vezes, ouvi dizer que se houvesse a possibilidade de retornar a esta vida, ele queria ser padre novamente para visitar as famílias, esta junto dos pobres, rezar missas, que adorava... Mas ele tinha a concepção de que esta igreja de Jesus de Nazaré deveria está aberta para outras experiências religiosas, para outras vivências da espiritualidade que certa vez resumiu como três: a dos romeiros, a dos espíritas e a dos terreiros. Assim Toninho, desde cedo, esforçou-se para demonstrar que, se a igreja de Jesus quisesse de fato cumprir a sua função missionária no mundo, deveria estar cada vez mais aberta a estas vivências do sagrado. Assim quando alguns sacerdotes diziam que não se importavam com a presença de pessoas do candomblé nas suas paróquias, a menos que estas estivessem com suas vestes litúrgicas, acredito ter sido o Pe. Toninho o primeiro presbítero que convidou um babalorixá e uma ialorixá para concelebrar com ele. Isso para nós, pertencentes às religiões de matriz africana, foi muito bom. Era um gesto que ia além do respeito e do diálogo, pois nos reconhecia, reconhecia também o nosso ministério. Isso é apenas um exemplo. A partir desse fato, o Pe. Toninho foi lançando desafios para toda Igreja que, disposta a seguir Jesus, ganhava mais consciência de que ela deveria ser cada vez mais negra e indígena.
IHU On-Line - Em que aspectos Padre Toninho promoveu a valorização da cultura negra brasileira?
Irene Dias de Oliveira - Pe. Toninho tem se destacado por sua luta contínua para o resgate da herança afro-brasileira, especialmente através de sua matriz religiosa e cultural, dando ênfase especial ao respeito e ao acolhimento da cultura, das expressões de fé das comunidades afro-brasileiras; lutando contra as injustiças cometidas contra as populações negras não apenas no Brasil mas também fora dele.
Vilson Caetano Júnior - Em todos os aspectos. Seja através da filosofia, da teologia moral, da história e demais campos de saber. Toda sua vida foi dedicada à promoção e valorização dessa realidade. Fiel ao Carisma da Congregação fundada por Dom Orione, Toninho soube desde cedo que eram os negros aqueles que estavam na linha de risco, atingindo os picos da fome e da miséria. Ele mesmo enfrentou todos os preconceitos que recaem sobre qualquer descendente de africano que traz no corpo os traços que os definem como inferior ou lhe recobre de estereótipos. Através do engajamento e diálogo com os vários segmentos da sociedade, Pe. Toninho, a partir da sua experiência de vida como um semeador, foi abrindo caminhos e depositando sementes, fortalecendo a cada dia os elementos civilizatórios africanos, mantenedores de nossa identidade e responsáveis pela nossa permanência no mundo.
IHU On-Line - Quais são as principais lembranças que você tem da pessoa Padre Toninho? Quais eram as suas marcas registradas?
Irene Dias de Oliveira - Sua solidariedade para com os pobres, sua compaixão, seu grande espírito de compreensão, acolhimento e sua abertura e seu profundo senso de comunidade. Não me lembro de ter ouvido uma crítica negativa, um comentário que não fosse para motivar, incentivar, iluminar e um convite à compreensão e ao perdão das fragilidades humanas. Pe. Toninho deixa uma lacuna muito grande no âmbito da reflexão teológica negra inculturada e especialmente no âmbito da Comunidade Negra. De outro lado, a certeza cristã nos ilumina e nos leva a acreditar de que ele, agora um grande ancestral, continua conosco reforçando nossa esperança e nossos sonhos em um mundo melhor, solidário e terno.
Vilson Caetano Júnior - Sou suspeito para falar sobre isso, pois conheci Pe. Toninho ainda quando fazia teologia numa sala de aula na disciplina teologia moral, há quase vinte anos. Entreguei a ele um texto que havia acabado de escrever sobre as religiões de matriz africana, e em seguida ele me convidou para participar do Grupo Atabaque de Cultura Negra e Teologia. Pe. Toninho era muito sereno. Nos últimos anos, eu brincava com ele dizendo que ele era do mundo do bem, e eu do mundo do mal. Outra lembrança que tenho é que quando havia uma discussão, ele sempre falava por último. Eu nunca gostava de falar depois dele, pois ele era sempre conciliador. Pe. Toninho era um homem muito bom. Onde ele encontrava alguém numa situação de risco, acolhia como Maria acolheu Jesus no seu ventre. Diante dos pobres, dos negros, de situações limites, ele dizia sempre sim. Acho que por isso é que ele, nos últimos anos, sofreu muito. Pe. Toninho não era de gritar, desabafar, não se queixava de nada, estava sempre sorrindo. O tempo foi passado, e pena que percebemos isso muito tarde, quando as lágrimas rolavam no seu rosto e nem ele mesmo percebia. Toninho tinha um profundo amor por Nossa Senhora, a negra Mariana de nós negros. Tinha um profundo amor pela sua igreja, a qual se consagrou quando presbítero. Tinha um profundo respeito pelas religiões de matriz africana e uma paixão eterna pela cidade de Parapuã, onde foi sepultado. É tudo isso que permanece hoje em nós responsáveis a dar continuidade a seu legado teológico. Isso é Ressurreição.
* Instituto Humanitas Unisinos
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Ajude a libertar nossos ativistas - Barbet
Juantxo, Joris, Nora, e Christian queriam chamar a atenção dos chefes de Estado reunidos em Copenhague sobre a necessidade de se chegar a um acordo para salvar o clima. Numa ação ousada, conseguiram furar o esquema de segurança de um jantar oferecido pela rainha da Dinamarca, Margareth II, aos ilustres estrangeiros. Eles abriram um banner e foram logo dominados pela segurança. Ninguém se feriu.
Nossos ativistas agora correm o risco de passar o Natal e Ano-Novo na prisão, longe de suas famílias. As autoridades da Dinamarca planejam mantê-los presos em isolamento até 7 de janeiro, sem julgamento – sinal de que o país pretende violar as normas européias e internacionais que regem os direitos humanos.
Agora eles precisam de sua ajuda.
Assine a petição e envie um recado à Embaixada e Consulado paulistano da Dinamarca pedindo a libertação de nossos ativistas.
A estratégia nuclear da França continua - Barbet
Esse tipo de reator ainda não entrou em funcionamento em nenhum lugar do mundo. Na Finlândia, um dos primeiros países onde está sendo construído, já apresenta atrasos de mais de 3 anos, além do sobrecusto de mais da metade do valor do contrato, o que vem ameaçando a continuidade das obras. O atraso tem sido ocasionado pelas diversas falhas encontradas na construção. Só em 2008, foram 2100 falhas.
Além da Finlândia, países como Brasil, Índia e Emirados Árabes, dentre diversos outros, estão na mira do falido mercado nuclear da França.
Para superar o déficit financeiro que as empresas nucleares vêm enfrentando, a França viaja “em missão diplomática” a vários países para vender os mesmos reatores nucleares ultrapassados, apenas com o rótulo diferente.
Agora é a vez da China. O primeiro-ministro francês, François Fillon e o vice-primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, acertaram nesta segunda-feira, em Pequim, a construção de dois EPR em Taishan.
A construção será possível pela colaboração da EDF (Électricité de France) e a também francesa empresa de energia nuclear Areva, cujos presidentes, Henri Proglio e Anne Lauvergeon respectivamente, acompanham Fillon em sua viagem oficial de três dias.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Fotos de indignação depois da #COP15 - Barbet
Índia - Em Nova Déli, ativistas do Greenpeace realizaram um funeral hindu pela Terra, com a mensagem: “Clima: falhar não é uma opção” e “Aja agora - salve nosso futuro”.
China - Ativistas do Greenpeace plantaram 100 cruzes em Hong Kong lamentando a morte de pessoas provocadas pelas alterações climáticas e o fracasso da reunião de Copenhague.
México - Na Cidade do México, nossos ativistas representaram a cidade alagada pelas mudanças do clima com as faixas “Políticos - vocês falharam. Agora salvem o desastre climático que provocaram”. O México será a sede da 16a COP, em 2010, razão pela qual o Greenpeace chama a políticos do mundo para resolver a crise que provocaram por terem perdido a oportunidade na COP15.
arca - 100 funcionários e simpatizantes realizaram uma vigília em Copenhague à luz de velas segurando faixas onde se lia “Liberdade da injustiça climática” na frente da rpisão onde quatro ativistas estão presos em isolamento e sem julgamento por participar de um protesto pacífico no jantar de Estado com a rainha dinamarquesa.
O diretor-executivo do Greenpeace Internacional, Kumi Naidoo, adverte: “O mundo está enfrentando uma trágica crise de liderança. Ao invés de se reunirem para garantir um futuro para centenas de milhões de pessoas, aceitando um acordo histórico que evitasse o caos climático, os líderes mais poderosos do mundo traíram as atuais e futuras gerações.”
Nossos Agradecimentos pelo ano de 2009 - Barbet
Nossos agradecimentos à todos que estiveram conosco no ano de 2009 - colaboradores, voluntários, cyberativistas, staff e tantos outros que se mobilizaram pelo clima. Que no ano de 2010 possamos continuar a lutar juntos pelo futuro da Terra, protegendo nossas florestas, nossos oceanos, num planeta abastecido por energia renovável e sustentável.
Os animais também agradecem a sua colaboração e desejam um Feliz Natal e um próspero (e cada vez mais verde) ano de 2010.
[Carta O BERRO] Duas visões de mundo se confrontam em Copenhague - Vanderley Caixe
Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo. Mas estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana. O artigo é de Leonardo Boff.
Leonardo Boff
Em Copenhague nas discussões sobre as taxas de redução dos gases produtores de mudanças climáticas, duas visões de mundo se confrontam: a da maioria dos que estão fora da Assembléia, vindo de todas as partes do mundo e a dos poucos que estão dentro dela, representando os 192 estados. Estas visões diferentes são prenhes de conseqüências, significando, no seu termo, a garantia ou a destruição de um futuro comum.
Os que estão dentro, fundamentalmente, reafirmam o sistema atual de produção e de consumo mesmo sabendo que implica sacrificação da natureza e criação de desigualdades sociais. Crêem que com algumas regulações e controles a máquina pode continuar produzindo crescimento material e ganhos como ocorria antes da crise.
Mas importa denunciar que exatamente este sistema se constitui no principal causador do aquecimento global emitindo 40 bilhões de toneladas anuais de gases poluentes. Tanto o aquecimento global quanto as perturbações da natureza e a injustiça social mundial são tidas como externalidades, vale dizer, realidades não intencionadas e que por isso não entram na contabilidade geral dos estados e das empresas. Finalmente o que conta mesmo é o lucro e um PIB positivo.
Ocorre que estas externalidades se tornaram tão ameaçadoras que estão desestabilizando o sistema-Terra, mostrando a falência do modelo econômico neoliberal e expondo em grave risco o futuro da espécie humana.
Não passa pela cabeça dos representantes dos povos que a alternativa é a troca de modo de produção que implica uma relação de sinergia com a natureza. Reduzir apenas as emissões de carbono mas mantendo a mesma vontade de pilhagem dos recursos é como se colocássemos um pé no pescoço de alguém e lhe dissésemos: quero sua liberdade mas à condição de continuar com o meu pé em seu pescoço.
Precisamos impugnar a filosofia subjacente a esta cosmovisão. Ela desconhece os limites da Terra, afirma que o ser humano é essencialmente egoista e que por isso não pode ser mudado e que pode dispor da natureza como quiser, que a competição é natural e que pela seleção natural os fracos são engolidos pelos mais fortes e que o mercado é o regulador de toda a vida econômica e social.
Em contraposição reafirmamos que o ser humano é essencialmente cooperativo porque é um ser social. Mas faz-se egoísta quando rompe com sua própria essência. Dando centralidade ao egoísmo, como o faz o sistema do capital, torna impossível uma sociedade de rosto humano. Um fato recente o mostra: em 50 anos os pobres receberam de ajuda dois trilhões de dólares enquanto os bancos em um ano receberam 18 trilhões. Não é a competição que constitui a dinâmica central do universo e da vida mas a cooperação de todos com todos. Depois que se descobriram os genes, as bactérias e os vírus, como principais fatores da evolução, não se pode mais sustentar a seleção natural como se fazia antes. Esta serviu de base para o darwinismo social. O mercado entregue à sua lógica interna, opõe todos contra todos e assim dilacera o tecido social. Postulamos uma sociedade com mercado mas não de mercado.
A outra visão dos representantes da sociedade civil mundial sustenta: a situação da Terra e da humanidade é tão grave que somente o princípio de cooperação e uma nova relação de sinergia e de respeito para com a natureza nos poderão salvar. Sem isso vamos para o abismo que cavamos.
Essa cooperação não é uma virtude qualquer. É aquela que outrora nos permitiu deixar para trás o mundo animal e inaugurar o mundo humano. Somos essencialmente seres cooperativos e solidários sem o que nos entredevoramos. Por isso a economia deve dar lugar à ecologia. Ou fazemos esta virada ou Gaia poderá continuar sem nós.
A forma mais imediata de nos salvar é voltar à ética do cuidado, buscando o trabalho sem exploração, a produção sem contaminação, a competência sem arrogância e a solidariedade a partir dos mais fracos. Este é o grande salto que se impõe neste momento. A partir dele Terra e Humanidade podem entrar num acordo que salvará a ambos
Leonardo Boff é teólogo e escritor.
DESMITIFICANDO LULA - Laerte Braga
Raul Longo
Como já contei antes (DESMITIFICANDO LULA -1), meu amigo Príamo não só concorda com as principais instituições e estadistas internacionais, além dos mais afamados órgãos de imprensa de todo o mundo, reconhecendo inteligência em Lula; como, inclusive, percebe que ele “Teve perseverança, paciência, dedicação e competência para atingir os seus objetivos”.
Mas para Príamo: “Quando chegou lá é que começaram as contradições”. E aponta como primeira dessas contradições, em seu entender: a) Nomeou um número muito grande de funcionários, inchando a folha de pagamentos.
Há que se debruçar nestas considerações para desvendar esse ser mitológico prosaicamente apontado como Lula, pois Príamo tem razão: na história do Brasil ninguém teve a mesma perseverança, paciência e dedicação para alcançar o cargo da Presidência do país, antes de Lula.
Nem mesmo Ruy Barbosa, que antecedeu Lula em projeção internacional como inteligência política. Ruy candidatou-se à Presidência pela primeira vez em 1894 e ficou em 4º lugar. Voltou a se candidatar em 1905, mas acabou retirando-se da disputa para apoiar Afonso Pena. Em 1910 perde para Hermes da Fonseca, e em 1913, convencido de ser derrotado, em um manifesto à nação renuncia da candidatura à eleição de março no ano seguinte quando, ainda assim, teve considerável votação contra o candidato único: Wenceslau Brás.
Em 1919 concorreu pela 5ª e última vez, perdendo pra Epitácio Pessoa. Lula também concorreu 5 vezes, mas ao contrário do Ruy não desistiu em nenhuma. O que faltou ao Ruy? Dedicação? Mas logo o Ruy Barbosa, tão afamado e admirado por sua esmerada aplicação!
Também não se pode sequer cogitar que lhe tenha faltado competência, pois foi o que o Barão de Macaúbas reconheceu no pupilo já aos 11 anos de idade e com que se destacou desde seu início na vida política do Brasil ainda Império; até alçar vôos internacionais como a Águia de Haia. Portanto, ainda que não tenha perseverado, desistindo antes do pleito em duas eleições, não lhe faltou paciência (já que concorreu tantas vezes quanto Lula) nem dedicação ou competência. Como explicar?
Talvez pelos objetivos. Quais seriam os objetivos de Ruy Barbosa?
Na mitologia das elites, Ruy é o arquétipo da sabedoria, honra e justiça. Seria nossa Palas Atena, se gregos fossemos. Ou Minerva, se romanos. Xangô para os adeptos de candomblé, mas nunca houve muitos admiradores de Ruy Barbosa nos segmentos populares, embora tenha sido um abolicionista.
Entre os mais cultos, cita-se com toda pompa e circunstância sua famosa frase sobre um futuro próximo em que se terá vergonha de ser honesto; mas se o eleitorado da época já não se deixou impressionar pelo belo fraseado barbosiano, ainda menos hoje em dia, quando a frase se faz tão assídua na boca dos piores canalhas. Seria a tal da ética tão evocada por estes mesmos canalhas hodiernos, os objetivos que por 5 vezes moveram Ruy Barbosa à candidatura presidencial?
Se sim, porque não haveria o povo de elegê-lo em nenhuma?
Haverá no povo brasileiro uma genética aversão ou alergia à honestidade? Uma compulsão nata à trapaça? Ao ludíbrio? Uma desonestidade intrínseca?
Algo em nosso clima ou natureza tropical haveria afetado a honorável retidão moral dos colonizadores europeus? Teriam sido insidiosamente influídos pela espertalhice, ladinagem e voluptuosa corruptibilidade do indígena?
Ó augustas linhagens dos Sás, Coelhos e Mendonças! Dos Gonzagas e Paes Leme! Tão pobros Albuquerques, Almeidas, Prados, Mellos e Cardosos que descuidosamente apenas vieram por um pau-brasil aqui outro ali, atraídos por algumas pepitas, touceiras de cana e pés de café.
Quiçá não foram as cadeiras de mulatas e livres tetas de cafuzas que insidiosamente os enredaram em tentações de miscigênia, degenerando-nos neste povo imoral e sem caráter, onde triunfam as nulidades das quais falava Ruy Barbosa, a quem nunca se escolheu para presidente.
Por outro lado, se superarmos os mitos étnicos, por mais secular certeza que tenhamos na inferioridade de nossa gente perante a almejada pureza racial da civilização européia, haveremos de cogitar a possibilidade de que talvez o povo brasileiro não tenha confiado nos objetivos de Ruy Barbosa pelo fato de ele ter defendido os privilégios de interesses como o da Cia d’Eclairage da Bahia, ou os dos Misteres William Reid e Alexander Mackenzie na transferência de exploração energética na cidade do Rio de Janeiro, da Société Anonyme du Gaz do Rio de Janeiro, da Cia. Light and Power, da The Rio de Janeiro Tramway Ligth & Power Company Limited, entr’outros.
Isso tudo sem citar a morosidade de um código civil pendurado por anos a fio de pendengas gramaticais entre Ruy Barbosa e Clóvis Beviláqua, para resultar em exorbitante desequilíbrio entre os plenos direitos da minoria das elites e os totais deveres da turba ignara da maioria do povo. Povo que, se além da preservação da própria vida não tinha outra razão para votar nos coronéis adversários do Águia; tampouco em seus vôos por objetivos além fronteiras.
Aforante, o liberal abolicionista já se indispusera com a população e a história brasileira em mais remotas passagens de sua proficiente biografia, quando Ministro da Fazenda em 1890 mandou queimar os registros de posse e movimentação patrimonial envolvendo todos os escravos do país. A queima do histórico daquela maioria da população brasileira impede que hoje identifiquemos as origens de nosso biótipo, costumes, identidade cultural, etc.
Todo negro norte-americano pode pesquisar o saber da região africana de seus antepassados, entendendo porque é alto e magro, ou porque é pequeno e gordo. Por quais razões mais se identifica com instrumentos de sopro ou percussão. Ou ainda, de quais atavismos ancestrais lhe saiu o jeito de contador de histórias, escultor, esportista ou pintor. E até, em alguns casos, quais princípios ativos melhor se coadunam com seu metabolismo.
Já eu, por exemplo, tenho de viver numa brutal indefinição, sem saber se sambo como sambo por minha tataravó ter vindo de Angola, Moçambique ou Benin? Se o soubesse, poderia pesquisar, explorar melhor os movimentos próprios e típicos da cultura daquela minha ancestral mulata.
Há mais diferenças entre Masais, Ashantis e Samburus ou quaisquer outros povos negros, do que entre normandos e saxões, todos com a mesma ausência de pigmentação e desprotegida sensibilidade à irradiação solar.
Já não bastando ter herdado essa pele que se avermelha como urucum, de meus antepassados italianos, por culpa do Sr. Águia de Haia não tenho como reconhecer as origens dos atavismos de minha personalidade negra que tanto me agrada e preservo!
Qual a vantagem de ser itálico se só o que me difere dos anglos é o falar mais alto e estabanado? O mitológico poliglota baiano não pensou nessa frustração que afeta a mim e a mais da metade dessa mestiça população?
Não! Apenas justificou-se alegando que pretendera apagar "a mancha" da escravidão do passado nacional. Mas seus próprios colegas do movimento abolicionista acusaram-no de pretender inviabilizar o cálculo de eventuais indenizações que vinham sendo pleiteadas pelos antigos proprietários de escravos, protegendo a monarquia em detrimento do povo que alardeava defender. De fato, 11 dias depois da Abolição a UDR da época apresentou projeto de lei à Câmara, por esse ressarcimento. Se, segundo o próprio Fernando Henrique Cardoso, Carlos Lacerda é seu líder espiritual, Ruy Barbosa foi o precursor do empurrar sujeira pra debaixo do tapete. Ou pro fundo da gaveta.
Um Geraldo Brindeiro de seu tempo, aquele Ruy!
Mas o que se pretende aqui é desmitificar Lula, não Ruy Barbosa, que nem investiu tanto pela presidência quanto Fernando Henrique Cardoso no confesso (pelo Sérgio Mota), porém nunca investigado, mensalão da reeleição.
Não! Disso não se pode acusar o Ruy. Como FHC vendeu-se, sim, aos interesses estrangeiros, mas, ao contrário daquele, até onde se saiba, Ruy nunca comprou ninguém! Tanto assim que não ganhou eleição alguma naqueles tempos de voto de cabresto, quando o que definia a preferência do eleitor era o medo de uma tocaia ou o apadrinhamento pela côdea de pão aos filhos.
Já Lula foi duas vezes eleito à presidência. Se não apenas pela “perseverança, paciência, dedicação e competência” apontadas por Príamo e compartilhadas pelo jurista baiano, só nos resta definir as diferenças de objetivos entre o mito da história e o da mídia?
A julgar pelas aparências, mesmo sem querer igualar uns a outros, podemos arriscar o palpite de que Ruy Barbosa já então apresentaria os mesmos objetivos de honestidade, resgate da moralidade, da ética e da probidade, apresentados por todos os demais candidatos à presidência depois dele, inclusive os ditadores. E também Adhemar de Barros, Jânio Quadros, Paulo Salim Maluf, Collor de Melo e, na continuidade, FHC, Alckimin e José Serra:
Daí a filharada do Zé Povo ficava tentando imaginar por onde é que se começa a comer esse troço de ética ou probidade?
Sim! Porque o problema maior do filho do Zé Povo nunca foi a ética, mas sim a fome! Há muito o mundo inteiro sabe que o problema concreto do filho do Zé Povo brasileiro sempre foi a fome, pela qual éramos apontados como um dos mais altos índices internacionais de mortalidade infantil. Mas elegíamos mitos abstratos que distribuíam rações de conceitos éticos e morais em palanques de comícios eleitorais.
E o que o Gringo tinha a ver com isso? Nada! Azar do Zé Povo que votou no abstrato, porque o Gringo o que quer é arroz, feijão, soja, carne, milho, algodão, metal, petróleo... O que haja de concreto! Barriga de gringo não se enche de mitologia como a do brasileiro, e já que o brasileiro se alimentava das éticas e honestidades prometidas, o Gringo se acostumou a levar o que produzíamos de mais concreto.
Por outro lado, em quem o Zé Povo brasileiro iria votar se todos objetivavam a mesma subjetiva ética, moralidade, probidade e blá-blá-blá?
Até que um dia apareceu um pretensioso de um Zé do povo daqueles, e começou a falar em coisas concretas, em fome, em realidades e falta de oportunidades para mudar a realidade. Falou até em objetivos!
Zé Povo olhou aquilo e estranhou: “Esse cara tá maluco ou tá mentindo!” Claro! Se mudar a realidade fosse fácil, porque os íntegros, honestos e éticos nunca a mudaram?
Pois o tal sujeito tão paciente e dedicadamente perseverou, teve tanta competência para esclarecer o que o Zé Povo nunca conseguiu entender – pois, apesar de todos os poliglotismos dos Ruys, nunca houve quem falasse língua de gente brasileira -- que um dia, por fim, Zé Povo se resolveu pela única lógica que lhe restava: “Mentir, todos mentem mesmo... Se for mais um, esse pelo menos mente diferente e dá pra entender o que está falando”. E assim Lula foi eleito, por mais mitificado pela mídia e pelas elites fundiárias e empresariais.
Mas afinal, o sujeito tinha mesmo seus objetivos concretos ou é mais um abstrato quanto qualquer outro mito da nossa história?
Podemos encontrar a resposta embutida já na primeira contradição apontada por Príamo (depois analisamos as demais): o inchaço da folha de pagamento.
Só que, para concordar com Príamo de que houve inchaço da folha de pagamento do estado brasileiro e isso tenha sido contraditório aos objetivos concretos apresentados por Lula enquanto apenas perseverante, paciente e dedicado; precisaremos de alguns esclarecimentos:
a) – Quando e onde foi que Lula prometeu que o estado brasileiro iria continuar dando vazão descontrolada ao dinheiro público e ao arrecadado em empréstimos ao exterior?
Fundamental essa compreensão, porque isso de manter o estado a custas de empréstimo não faz mesmo necessário muitos funcionários para controlar o que entra, por onde entra, nem o que e por onde sai.
É só ter um estafeta pra ir até lá, tirar os sapatos para ser revistado no aeroporto, pegar a grana, tirar os sapatos outra vez e tomar o próximo vôo pra casa. Aí põe o dinheiro no banco e está resolvido. Se o banco ia falir, era só inventar um PROER daqueles, e pronto. Acabou a história, guardou a viola! Não precisava de funcionários nem responsabilidade de especialistas. Congelando por 8 anos o salário dos imprescindíveis para abrir porta e servir café, se mantinha uma folha de pagamento enxutinha e esbelta.
Mas quando um matuto daqueles atravessa léguas em cima de pau-de-arara, transpira a alma dentro de um macacão debaixo de um telhado de zinco de oficina de fábrica e porque deixou um dedo no torno vai pro sindicato; e lá no sindicato põe na cabeça que tem de negociar melhores salários pros seus companheiros, a coisa complica! Complica porque vai que o sujeito cisma de tirar o povo da merda; aí é difícil. É difícil porque isso de gente do povo achar de ter objetivo na vida, sempre deu problema. Veja o Zumbi dos Palmares! Hoje há quem diga que Zumbi é um mito, mas Palmares resistiu 100 anos por quê? Porque a negrada achou de ter objetivo!
E o perigo maior é quando o teimoso ainda tem a competência e petulância de convencer os outros de seus objetivos. Pra piorar, esse ainda encontrou outros com os mesmos objetivos. E gente da alta: artistas, intelectuais, acadêmicos, e até burgueses cansados das subjetividades e abstracionismos dos mitos.
Agora, uma coisa é certa -- caro Príamo e demais que pensam aqui comigo, juntos -- quem tem esses objetivos sabe que país nenhum consegue tirar o povo da merda enquanto estiver devendo para as potências estrangeiras. E Príamo, que é empresário, seguramente sabe que para sanar uma empresa deficitária não basta apenas demitir funcionários, menos ainda deixar do jeito que está, só mantendo os mesmos salários.
Como bom empresário que é, Príamo sabe que esse negócio de contenção de despesas é faca de dois gumes. Conter despesas não é apenas congelar. Sabe que conter despesas é demitir os funcionários que não correspondem às necessidades de produção, mas é também contratar funcionários que melhorem essa produção. E que é necessário gratificar o desempenho do bom funcionário para que ele produza melhor e produzindo melhor auxilie no resgate da empresa do buraco. E quando o empregado bem pago consome na própria empresa, ainda melhor, pois ganhando mais faz com que o capital gire mais, produzindo mais capital. Esse é um princípio do capitalismo, que os próprios capitalistas brasileiros se negam a compreender, mas os do resto compreendem muito bem, e acredito que se Príamo prismar melhor seu ponto de vista, perceberá que nesse aspecto não há a contradição criada pela mitomania do véu da mídia nacional.
Poderíamos ainda nos estender por diversas alíneas de questões para que Príamo melhor esclarecesse onde encontrou a alegada contradição. Por exemplo:
b) – Quando e onde foi que Lula prometeu que o país continuaria com sua produção estagnada por falta de incentivo do poder público?
c) – Quando e onde foi que Lula prometeu que a imagem do Brasil se manteria tão negativa perante o mundo, a começar pela ausência de fiscalização e contenção do desmatamento amazônico?
d) – Quando e onde foi que Lula prometeu que largaria a infra-estrutura de vez, permitindo outro apagão como o do final do governo anterior que nos acumulou um prejuízo de mais de 45 bilhões de reais?
e) – Quando e onde foi que Lula prometeu que não combateria a criminalidade e a corrupção, mantendo a inoperância do Ministério Público e da Polícia Federal que em 8 anos realizou apenas 28 operações.
Se entre 2003 e 2007 foram mais de 500, imaginável que tenha sido por algum aumento de efetivo, não? Mas se ocorreram tais promessas, sem dúvida o número de funcionários contratados é muito grande e a contradição apontada seria verossímil. No entanto, há ainda uma infinidade de questões que dificilmente cobririam todos e tantos aspectos em que esse país se faz diferente daquilo que foi há apenas 7 anos atrás. Apontar aqui alguma contradição se torna uma denúncia tão vazia quanto assim se definir qualquer outra ação, inclusive inversa.
Meu amigo Príamo, que sei bastante dotado de senso administrativo, se levantar uma pontinha do véu mitômano da mídia logo se lembrará de que não se pode denominar “inchaço” ao crescimento da folha de pagamento de uma empresa que, mais do que triplicar o faturamento, paga todas as dívidas e cria uma reserva inédita em sua história, tornando-se credora de seus antigos cobradores. Investimento, bom senso administrativo, perceptividade, seriam conclusões mais condizentes aos fatos, por menos perseverantes, pacientes e dedicados que sejamos às informações para as quais nem mais é preciso saber espanhol ou inglês. Muito menos alemão, francês ou italiano.
É só descobrirmos um pouco a cabeça. Retirarmos por alguns momentos o opressivo véu dos mitos midiáticos e respirar um pouco de ar puro, deixando oxigenar o cérebro, permitindo o escoar livre das evidências para se conseguir estabelecer as conexões lógicas e inalienáveis entre acontecimentos de proporções tão transoceânicas que se tornaram inegáveis até aos brasileiros.
Maior do que essas evidências, só a contradição daqueles que as negam para continuar medrosamente cultuando velhos e gastos mitos.
Raul Longo
pousopoesia@gmail.com
www.sambaqui.com.br/pousodapoesia
Ponta do Sambaqui, 2886
Floripa/SC
Segura o Montes! - Barbet
Os números são:
(61) 3215-5308 - Gabinete do deputado na Câmara
(61) 3311-4305 - Diretório Nacional do Democratas - Presidência
(21) 3269-7260 - Escritório político do deputado Rodrigo Maia
Você também pode mandar um e-mail para o deputado: dep.rodrigomaia@camara.gov.br ou democratas25@democratas.org.br ou um tweet para @deprodrigomaia
O que diz o projeto de lei – O texto redigido por Marcos Montes anistia os desmatadores de todos os crimes ambientais até 2001. Ou seja, revoga a legislação florestal, livrando os desmatadores das multas e das obrigações legais de recuperação, compensação ou regeneração das áreas desmatadas.
O projeto de lei também quer reduzir a Amazônia Legal em 1 milhão de quilômetros quadrados. Hoje ela corresponde a 5,2 milhões de quilômetros quadrados. Se o projeto de lei for aprovado, essa área cai para 4,1 milhões de quilômetros quadrados. O que implica dizer que os proprietários que hoje têm de manter uma reserva legal em 35%, com a manobra terão de manter apenas 20%.
Só com essa cartada uma área equivalente a 150 mil quilômetros quadrados – mais de 3 vezes a área do Estado do Rio de Janeiro - fica liberada para desmatamento. O PL prevê também a redução da área de reserva legal na Amazônia de 80% para 50% e libera a plantação de exótica na metade da área a ser recuperada.
“Esse projeto de lei mostra a verdadeira intenção dos setores mais atrasados da bancada ruralista: acabar com as florestas”, diz Márcio Astrini, da campanha de Amazônia do Greenpeace.
Lição de casa – Como o decreto assinado pelo presidente Lula na semana passada, prorrogando em mais dois anos o prazo para os proprietários rurais declararem suas reservas legais e anistia as multas de quem desmatou, o PL 6424 vai na contra-mão do que está sendo discutido na Convenção do Clima, em Copenhague.
“Enquanto o mundo discute o futuro do planeta, a bancada da motosserra mostra que não tem nenhum compromisso com o país nem com as próximas gerações”, afirma Astrini.
Lula - Mudanças climáticas tornaram-se prioridade dos governantes a partir da COP 15 - Barbet
OUÇA AQUI
Papai Noel é resgatado pelo Greenpeace - Barbet
Se nada for feito para combater o aquecimento, as geleiras do polo Norte vai derreter. É fato!
Nessa, até o Papai Noel vai dançar.
Assista à divertida animação do Greenpeace, em que o bom velhinho é resgatado por ativistas do Greenpeace.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
TRANSGÊNICOS - Lista completa online - clique na imagem - Barbet
Como foi feito este Guia
Todas as empresas listadas no Guia do Consumidor receberam uma correspondência do Greenpeace, questionando sobre a utilização de soja e/ou milho transgênicos na fabricação de seus produtos. Dependendo da resposta, as marcas/empresas foram classificadas na lista verde ou na lista vermelha.
Aquelas que garantem uma produção sem transgênicos estão na lista verde: todas enviaram uma carta ao Greenpeace declarando sua posição e mandaram documentos sobre como fazem o controle para evitar esse tipo de ingrediente.
As marcas/empresas que não responderam à carta do Greenpeace, as que não fazem controle sobre a procedência dos ingredientes transgênicos e as que rotulam seus produtos como transgênicos foram colocadas na lista vermelha deste Guia. Isso vale para todas as marcas e versões (light ou não) das empresas. Por exemplo, se um determinado biscoito estiver no Guia, isso significa que todos os sabores e versões desse produto também podem ser transgênicos. E que todos os produtos dessa marca/empresa podem ser transgênicos também.
Atenção: o fato de uma empresa não estar na lista vermelha não significa que seus produtos são livres de transgênicos. Como algumas marcas/empresas são muito pequenas ou são vendidas apenas em algumas regiões do país, não é possível incluir todas no Guia. Nestes casos, elas não são listadas nem na coluna vermelha e nem na verde. Neste caso, você pode entrar em contato com a empresa e questionar sobre a utilização de ingredientes transgênicos. Você tem direito de saber o que está levando pra casa!
Análise da ONU diz que o mundo corre o risco de esquentar acima do que deveria - Barbet
“Este é o papel mais importante no mundo hoje” disse Kumi Naidoo, diretor executivo internacional do Greenpeace. “Ele mostra de forma contundente que o acordo do clima que está sendo costurado em Copenhague colocaria em risco a viabilidade da nossa civilização. Um aumento de 3º C siginifica devastação na África e o possível colapso de ecossistemas do qual dependem bilhões de humanos. Esse documento deveria funcionar como um alerta para os líderes mundiais. Eles têm um dia apenas para reverter esse quadro, sob o risco de serem lembrados para sempre como as pessoas que enviaram o mundo rumo aos caos”.
[Carta O BERRO] " Apocalipse agora." por Frei Betto - Vanderley Caixe
Escrito por Frei Betto
O fim do mundo sempre me pareceu algo muito longínquo. Até um contra-senso. Deus haveria de destruir sua Criação? Hoje me convenço de que Deus nem precisa mais pensar em novo dilúvio. O próprio ser humano começou a provocá-lo, através da degradação da natureza.
Os bens da Terra tornaram-se posse privada de empresas e oligopólios. A causa de 4 bilhões de seres humanos viverem abaixo da linha da pobreza, e 1,2 bilhão padecerem fome, é uma só: toda essa gente foi impedida de acesso à terra, à água, à semente, às novas técnicas de cultivo e aos sistemas de comercialização de produtos.
A decisão dos EUA e da China de ignorarem a Conferência de Copenhague sobre Mudanças Climáticas torna mais agônico o grito da Terra. Os dois países são os principais emissores de CO2 na atmosfera. São os grandes culpados pelo aquecimento global. Ao decidirem boicotar Copenhague e adiar o compromisso de reduzirem suas emissões, eles abreviam a agonia do planeta.
Felizmente, a 25 de novembro o presidente Obama, sob forte pressão, voltou atrás e desdisse o que falara em Pequim. Os EUA, responsáveis por 23% das emissões mundiais de CO2, prometerão em Copenhague reduzir, até 2020, 17% das emissões de gases de efeito estufa; 30% até 2025; e 42% até 2030.
Por que o recuo? Além da pressão dos ecologistas, Obama deu-se conta de que ficaria mal na foto ignorar Copenhague e comparecer em Oslo, dia 10 de dezembro – quando se comemora o 61º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos – para receber o prêmio Nobel da Paz. Portanto, na véspera estará na capital da Dinamarca.
Curioso, todos os prêmios Nobel são entregues em Estocolmo, exceto o da Paz. Por uma simples e cínica razão: a fortuna da Fundação Nobel, sediada na Suécia, resulta da herança do inventor da dinamite, Alfred Nobel (1833-1896), utilizada como explosivo em guerras. Como não teve filhos, Nobel destinou os lucros obtidos por sua patente a quem se destacar em determinadas áreas do saber.
Há uma lógica atrás da posição ‘ecocida’ dos EUA e da China. São dois países capitalistas. O primeiro abraça o capitalismo de mercado; o segundo o de Estado. Ambos coincidem no objetivo maior: a lucratividade, não a sustentabilidade.
O capitalismo, como sistema, não tem solução para a crise ecológica. Sabe que medidas de efeito haverão de redundar inevitavelmente na redução dos lucros, do crescimento do PIB, da acumulação de riquezas.
Se vivesse hoje, Marx haveria de admitir que a crise do capitalismo já não resulta das contradições das forças produtivas. Resulta do projeto tecnocientífico que beneficia quase que exclusivamente apenas 20% da população mundial. Esse projeto respalda-se numa visão de qualidade de vida que coincide com a opulência e o luxo. Sua lógica se resume a "consumo, logo existo". Como dizia Gandhi, "a Terra satisfaz as necessidades de todos, menos a voracidade dos consumistas".
Exemplo disso é a recente crise financeira. Diante da ameaça de quebra dos bancos, como reagiram os governos das nações ricas? Abasteceram de recursos as famílias inadimplentes, possibilitando-as de conservar suas casas? Nada disso. Canalizaram fortunas – um total de US$ 18 trilhões - para os bancos responsáveis pela crise. Eduardo Galeano chegou a pensar em lançar a campanha "Adote um banqueiro", tal o desespero no setor.
O planeta em que vivemos já atingiu os seus limites físicos. Por enquanto não há como buscar recursos fora dele. O jeito é preservar o que ainda não foi totalmente destruído pela ganância humana, como as fontes de água potável, e tentar recuperar o que for possível através da despoluição de rios e mares e do reflorestamento de áreas desmatadas.
Ecologia vem do grego "oikos", significa casa, e "logos", conhecimento. Portanto, é a ciência que estuda as condições da natureza e as relações entre tudo que existe - pois tudo que existe co-existe, pré-existe e subsiste. A ecologia trata, pois, das conexões entre os organismos vivos, como plantas e animais (incluindo homens e mulheres), e o seu meio ambiente.
Essa visão de interdependência entre todos os seres da natureza foi perdida pelo capitalismo. Nisso ajudou uma interpretação equivocada da Bíblia - a idéia de que Deus criou tudo e, por fim, entregou aos seres humanos para que "dominassem" a Terra. Esse domínio virou sinônimo de espoliação, estupro, exploração. Os rios foram poluídos; os mares, contaminados; o ar que respiramos, envenenado.
Agora, corremos contra o relógio do tempo. O Apocalipse desponta no horizonte e só há uma maneira de evitá-lo: passar do paradigma de lucratividade para o da sustentabilidade.
Frei Betto é escritor, autor do romance "Um homem chamado Jesus", lançamento da editora Rocco para o Natal 2009.
__._,_.___
[Carta O BERRO] INVASÕES AMERICANAS NO MUNDO - Organizado por Alberto da Silva Jones (professor da UFSC): - Vanderley Caixe
1846 - 1848 - MÉXICO - Por causa da anexação, pelos EUA, da República do Texas
1890 - ARGENTINA - Tropas americanas desembarcam em Buenos Aires para
defender interesses econômicos americanos.
1891 - CHILE - Fuzileiros Navais esmagam forças rebeldes
nacionalistas.
1891 - HAITI - Tropas americanas debelam a revolta de operários
negros na ilha de Navassa, reclamada pelos EUA.
1893 - HAWAI - Marinha enviada para suprimir o reinado independente anexar o Hawaí aos EUA.
1894 - NICARÁGUA - Tropas ocupam Bluefields, cidade do mar do Caribe, durante um mês.
1894 - 1895 - CHINA - Marinha, Exército e Fuzileiros desembarcam no país durante a guerra sino-japonesa.
1894 - 1896 - CORÉIA - Tropas permanecem em Seul durante a guerra.
1895 - PANAMÁ - Tropas desembarcam no porto de Corinto, província Colombiana.
1898 - 1900 - CHINA - Tropas dos Estados Unidos ocupam a China durante a Rebelião Boxer.
1898 - 1910 - FILIPINAS - As Filipinas lutam pela independência do país, dominado pelos EUA (Massacres realizados por tropas americanas em Balangica, Samar, Filipinas - 27/09/1901 e Bud Bagsak, Sulu, Filipinas
11/15/1913) - 600.000 filipinos mortos.
1898 - 1902 - CUBA - Tropas sitiaram Cuba durante a guerra hispano-americana.
1898 - Presente - PORTO RICO - Tropas sitiaram Porto Rico na guerra hispano-americana, hoje 'Estado Livre Associado' dos Estados Unidos.
1898 - ILHA DE GUAM - Marinha americana desembarca na ilha e a mantêm como base naval até hoje.
1898 - ESPANHA - Guerra Hispano-Americana - Desencadeada pela misteriosa explosão do encouraçado Maine, em 15 de fevereiro, na Baía de Havana. Esta guerra marca o surgimento dos EUA como potência capitalista e militar mundial.
1898 - NICARÁGUA - Fuzileiros Navais invadem o porto de San Juan del Sur.
1899 - ILHA DE SAMOA - Tropas desembarcam e invadem a Ilha em conseqüência de conflito pela sucessão do trono de Samoa.
1899 - NICARÁGUA - Tropas desembarcam no porto de Bluefields e invadem a Nicarágua (2ª vez).
1901 - 1914 - PANAMÁ - Marinha apóia a revolução quando o Panamá reclamou independência da Colômbia; tropas americanas ocupam o canal em 1901, quando teve início sua construção.
1903 - HONDURAS - Fuzileiros Navais americanos desembarcam em Honduras e intervêm na revolução do povo hondurenho.
1903 - 1904 - REPÚBLICA DOMINICANA - Tropas norte americanas atacaram e invadiram o território dominicano para proteger interesses do capital americano durante a revolução.
1904 - 1905 - CORÉIA - Fuzileiros Navais dos Estados Unidos desembarcaram no território coreano durante a guerra russo-japonesa.
1906 - 1909 - CUBA -Tropas dos Estados Unidos invadem Cuba e lutam contra o povo cubano durante período de eleições.
1907 - NICARÁGUA - Tropas americanas invadem e impõem a criação de um protetorado, sobre o território livre da Nicarágua.
1907 - HONDURAS - Fuzileiros Navais americanos desembarcam e ocupam Honduras durante a guerra de Honduras com a Nicarágua.
1908 - PANAMÁ - Fuzileiros Navais dos Estados Unidos invadem o Panamá durante período de eleições.
1910 - NICARÁGUA - Fuzileiros navais norte americanos desembarcam e invadem pela 3ª vez Bluefields e Corinto, na Nicarágua.
1911 - HONDURAS - Tropas americanas enviadas para proteger interesses americanos durante a guerra civil, invadem Honduras.
1911 - 1941 - CHINA - Forças do exército e marinha dos Estados Unidos invadem mais uma vez a China durante período de lutas internas repetidas.
1912 - CUBA - Tropas americanas invadem Cuba com a desculpa de proteger interesses americanos em Havana.
1912 - PANAMÁ - Fuzileiros navais americanos invadem novamente o Panamá e ocupam o país durante eleições presidenciais.
1912 - HONDURAS - Tropas norte americanas mais uma vez invadem Honduras para proteger interesses do capital americano.
1912 - 1933 - NICARÁGUA - Tropas dos Estados Unidos com a desculpa de combaterem guerrilheiros invadem e ocupam o país durante 20 anos.
1913 - MÉXICO - Fuzileiros da Marinha americana invadem o México com a desculpa de evacuar cidadãos americanos durante a revolução.
1913 - MÉXICO - Durante a Revolução mexicana, os Estados Unidos bloqueiam as fronteiras mexicanas em apoio aos revolucionários.
1914 - 1918 - PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL - Os EUA entram no conflito em 6 de abril de 1917 declarando guerra à Alemanha. As perdas americanas chegaram a 114 mil homens.
1914 - REPÚBLICA DOMINICANA - Fuzileiros navais da Marinha dos Estados invadem o solo dominicano e interferem na revolução do povo dominicano em Santo Domingo.
1914 - 1918 - MÉXICO - Marinha e exército dos Estados Unidos invadem o território mexicano e interferem na luta contra nacionalistas.
1915 - 1934 - HAITI- Tropas americanas desembarcam no Haiti, em 28 de julho, e transformam o país numa colônia americana, permanecendo lá durante 19 anos.
1916 - 1924 - REPÚBLICA DOMINICANA - Os EUA invadem e estabelecem um governo militar na República Dominicana, em 29 de novembro, ocupando o país durante oito anos.
1917 - 1933 - CUBA - Tropas americanas desembarcam em Cuba, e transformam o país num protetorado econômico americano, permanecendo essa ocupação por 16 anos.
1918 - 1922 - RÚSSIA - Marinha e tropas americanas enviadas para combater a revolução Bolchevista. O Exército realizou cinco desembarques, sendo derrotado pelos russos em todos eles.
1919 - HONDURAS - Fuzileiros norte americanos desembarcam e invadem mais uma vez o país durante eleições, colocando no poder um governo a seu serviço.
1918 - IUGOSLÁVIA - Tropas dos Estados Unidos invadem a Iugoslávia e intervêm ao lado da Itália contra os sérvios na Dalmácia.
1920 - GUATEMALA - Tropas americanas invadem e ocupam o país durante greve operária do povo da Guatemala.
1922 - TURQUIA - Tropas norte americanas invadem e combatem nacionalistas turcos em Smirna.
1922 - 1927 - CHINA - Marinha e Exército americano mais uma vez invadem a China durante revolta nacionalista.
1924 - 1925 - HONDURAS - Tropas dos Estados Unidos desembarcam e invadem Honduras duas vezes durante eleição nacional.
1925 - PANAMÁ - Tropas americanas invadem o Panamá para debelar greve geral dos trabalhadores panamenhos.
1927 - 1934 - CHINA - Mil fuzileiros americanos desembarcam na China durante a guerra civil local e permanecem durante sete anos, ocupando o território chinês.
1932 - EL SALVADOR - Navios de Guerra dos Estados Unidos são deslocados durante a revolução das Forças do Movimento de Libertação Nacional - FMLN -
comandadas por Marti.
1939 - 1945 - SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - Os EUA declaram guerra ao Japão em 8 de dezembro de 1941 e depois a Alemanha e Itália, invadindo o Norte da África, a Ásia e a Europa, culminando com o lançamento das bombas atômicas sobre as cidades desmilitarizadas de Iroshima e Nagasaki.
1946 - IRÃ - Marinha americana ameaça usar artefatos nucleares contra tropas soviéticas caso as mesmas não abandonem a fronteira norte do Irã.
1946 - IUGOSLÁVIA - Presença da marinha americana ameaçando invadir a zona costeira da Iugoslávia em resposta a um avião espião dos Estados Unidos abatido pelos soviéticos.
1947 - 1949 - GRÉCIA - Operação de invasão de Comandos dos EUA garantem vitória da extrema direita nas "eleições" do povo grego.
1947 - VENEZUELA - Em um acordo feito com militares locais, os EUA invadem e derrubam o presidente eleito Rómulo Gallegos, como castigo por ter aumentado o preço do petróleo exportado, colocando um ditador no poder.
1948 - 1949 - CHINA - Fuzileiros americanos invadem pela ultima vez o território chinês para evacuar cidadãos americanos antes da vitória comunista.
1950 - PORTO RICO - Comandos militares dos Estados Unidos ajudam a esmagar a revolução pela independência de Porto Rico, em Ponce.
1951 - 1953 - CORÉIA - Início do conflito entre a República Democrática da Coréia (Norte) e República da Coréia (Sul), na qual cerca de 3 milhões de pessoas morreram. Os Estados Unidos são um dos principais
protagonistas da invasão usando como pano de fundo a recém criada Nações Unidas, ao lado dos sul-coreanos. A guerra termina em julho de 1953 sem vencedores e com dois estados polarizados: comunistas ao norte e um governo pró-americano no sul. Os EUA perderam 33 mil homens e mantém até hoje base militar e aero-naval na Coréia do Sul.
1954 - GUATEMALA - Comandos americanos, sob controle da CIA, derrubam o presidente Arbenz, democraticamente eleito, e impõem uma ditadura militar no país. Jacobo Arbenz havia nacionalizado a empresa United Fruit e impulsionado a Reforma Agrária.
1956 - EGITO - O presidente Nasser nacionaliza o canal de Suez. Tropas americanas se envolvem durante os combates no Canal de Suez sustentados pela Sexta Frota dos EUA. As forças egípcias obrigam a coalizão franco-israelense-britânica, a retirar-se do canal.
1958 - LÍBANO - Forças da Marinha americana invadem apóiam o exército de ocupação do Líbano durante sua guerra civil.
1958 - PANAMÁ - Tropas dos Estados Unidos invadem e combatem manifestantes nacionalistas panamenhos.
1961 - 1975 - VIETNÃ. Aliados ao sul-vietnamitas, o governo americano invade o Vietnã e tenta impedir, sem sucesso, a formação de um estado comunista, unindo o sul e o norte do país. Inicialmente a participação americana se restringe a ajuda econômica e militar (conselheiros e material bélico). Em agosto de 1964, o congresso americano autoriza o presidente a lançar os EUA em guerra. Os Estados Unidos deixam de ser simples consultores do exército do Vietnã do Sul e entram num conflito traumático,
que afetaria toda a política militar dali para frente. A morte de quase 60 mil jovens americanos e a humilhação imposta pela derrota do Sul em 1975, dois anos depois da retirada dos Estados Unidos, moldou a estratégia futura de evitar guerras que impusessem um custo muito alto de vidas americanas e nas quais houvesse inimigos difíceis de derrotar de forma convencional, como os vietcongues e suas táticas de guerrilhas.
1962 - LAOS - Militares americanos invadem e ocupam o Laos durante guerra civil contra guerrilhas do Pathet Lao.
1964 - PANAMÁ - Militares americanos invadiram mais uma vez o Panamá e mataram 20 estudantes, ao reprimirem a manifestação em que os jovens queriam trocar, na zona do canal, a bandeira americana pela bandeira e seu país.
1965 - 1966 - REPÚBLICA DOMINICANA - Trinta mil fuzileiros e pára-quedistas norte americanos desembarcaram na capital do país São Domingo para impedir a nacionalistas panamenhos de chegarem ao poder. A CIA conduz Joaquín Balaguer à presidência, consumando um golpe de estado que depôs o presidente eleito Juan Bosch. O país já fora ocupado pelos americanos de 1916 a 1924.
1966 - 1967 - GUATEMALA - Boinas Verdes e marines americanos invadem o país para combater movimento revolucionário contrario aos interesses econômicos do capital americano.
1969 - 1975 - CAMBOJA - Militares americanos enviados depois que a Guerra do Vietnã invadem e ocupam o Camboja.
1971 - 1975 - LAOS - EUA dirigem a invasão sul-vietnamita bombardeando o território do vizinho Laos, justificando que o país apoiava o povo vietnamita em sua luta contra a invasão americana.
1975 - CAMBOJA - 28 marines americanos são mortos na tentativa de resgatar a tripulação do petroleiro estadunidense Mayaquez.
1980 - IRÃ - Na inauguração do estado islâmico formado pelo Aiatolá Khomeini, estudantes que haviam participado da Revolução Islâmica do Irã ocuparam a embaixada americana em Teerã e fizeram 60 reféns. O governo americano preparou uma operação militar surpresa para executar o resgate, frustrada por tempestades de areia e falhas em equipamentos. Em meio à frustrada operação, oito militares americanos morreram no choque entre um helicóptero e um avião. Os reféns só seriam libertados um ano depois do seqüestro, o que enfraqueceu o então presidente Jimmy Carter e elegeu Ronald Reagan, que conseguiu aprovar o maior orçamento militar em época de paz até então.*
1982 - 1984 - LÍBANO - Os Estados Unidos invadiram o Líbano e se envolveram nos conflitos do Líbano logo após a invasão do país por Israel - e acabaram envolvidos na guerra civil que dividiu o país. Em 1980, os americanos supervisionaram a retirada da Organização pela Libertação da Palestina de Beirute. Na segunda intervenção, 1.800 soldados integraram uma força conjunta de vários países, que deveriam restaurar a ordem após o massacre de refugiados palestinos por libaneses aliados a Israel. O custo para os americanos foi a morte 241 fuzileiros navais, quando os libaneses explodiram um carro bomba perto de um quartel das forças americanas.
1983 - 1984 - ILHA DE GRANADA - Após um bloqueio econômico de quatro anos a CIA coordena esforços que resultam no assassinato do 1º Ministro Maurice Bishop. Seguindo a política de intervenção externa de Ronald Reagan, os Estados Unidos invadiram a ilha caribenha de Granada alegando prestar proteção a 600 estudantes americanos que estavam no país, as tropas eliminaram a influência de Cuba e da União Soviética sobre a política da ilha.
1983 - 1989 - HONDURAS - Tropas americanas enviadas para construir bases em regiões próximas à fronteira, invadem o Honduras
1986 - BOLÍVIA - Exército americano invade o território boliviano na justificativa de auxiliar tropas bolivianas em incursões nas áreas de cocaína.
1989 - ILHAS VIRGENS - Tropas americanas desembarcam e invadem as ilhas durante revolta do povo do país contra o governo pró-americano.
1989 - PANAMÁ - Batizada de Operação Causa Justa, a intervenção americana no Panamá foi provavelmente a maior batida policial de todos os tempos: 27 mil soldados ocuparam a ilha para prender o presidente panamenho, Manuel Noriega, antigo ditador aliado do governo americano. Os Estados Unidos justificaram a operação como sendo fundamental para proteger o Canal do Panamá, defender 35 mil americanos que viviam no país, promover a democracia e interromper o tráfico de drogas, que teria em Noriega seu líder na América Central. O ex-presidente cumpre prisão perpétua nos Estados Unidos.
1990 - LIBÉRIA - Tropas americanas invadem a Libéria justificando a evacuação de estrangeiros durante guerra civil.
1990 - 1991 - IRAQUE - Após a invasão do Iraque ao Kuwait, em 2 de agosto de 1990, os Estados Unidos com o apoio de seus aliados da Otan, decidem impor um embargo econômico ao país, seguido de uma coalizão anti-Iraque (reunindo além dos países europeus membros da Otan, o Egito e outros países árabes) que ganhou o título de "Operação Tempestade no Deserto". As hostilidades começaram em 16 de janeiro de 1991, um dia depois do fim do prazo dado ao Iraque para retirar tropas do Kuwait. Para expulsar as forças iraquianas do Kuwait, o então presidente George Bush destacou mais de 500 mil soldados americanos para a Guerra do Golfo.
1990 - 1991 - ARÁBIA** SAUDITA - Tropas americanas destacadas para ocupar a Arábia Saudita que era base militar na guerra contra Iraque.
1992 - 1994 - SOMÁLIA - Tropas americanas, num total de 25 mil soldados, invadem a Somália como parte de uma missão da ONU para distribuir mantimentos para a população esfomeada. Em dezembro, forças militares norte-americanas (comando Delta e Rangers) chegam a Somália para intervir numa guerra entre as facções do então presidente Ali Mahdi Muhammad e tropas do general rebelde Farah Aidib. Sofrem uma fragorosa derrota militar nas ruas da capital do país.
1993 - IRAQUE -No início do governo Clinton, é lançado um ataque contra instalações militares iraquianas, em retaliação a um suposto atentado, não concretizado, contra o ex-presidente Bush, em visita ao Kuwait.
1994 - 1999 - HAITI - Enviadas pelo presidente Bill Clinton, tropas americanas ocuparam o Haiti na justificativa de devolver o poder ao presidente eleito Jean-Betrand Aristide, derrubado por um golpe, mas o
que a operação visava era evitar que o conflito interno provocasse uma onda de refugiados haitianos nos Estados Unidos.
1996 - 1997 - ZAIRE (EX REPÚBLICA DO CONGO) - Fuzileiros Navais americanos são enviados para invadir a área dos campos de refugiados Hutus onde a revolução congolesa ?Marines evacuam civis? iniciou.
1997 - LIBÉRIA - Tropas dos Estados Unidos invadem a Libéria justificando a necessidade de evacuar estrangeiros durante guerra civil sob fogo dos rebeldes.
1997 - ALBÂNIA - Tropas americanas invadem a Albânia para evacuarem estrangeiros.
2000 - COLÔMBIA - Marines e "assessores especiais" dos EUA iniciam o Plano Colômbia, que inclui o bombardeamento da floresta com um fungo transgênico fusarium axyporum (o "gás verde").
2001 - AFEGANISTÃO - Os EUA bombardeiam várias cidades afegãs, em resposta ao ataque terrorista ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Invadem depois o Afeganistão onde estão até hoje.
2003 - IRAQUE - Sob a alegação de Saddam Hussein esconder armas de destruição e financiar terroristas, os EUA iniciam intensos ataques ao Iraque. É batizada pelos EUA de "Operação Liberdade do Iraque" e por Saddam de "A Última Batalha", a guerra começa com o apoio apenas da Grã-Bretanha, sem o endosso da ONU e sob protestos de manifestantes e de governos no mundo inteiro. As forças invasoras americanas até hoje estão no território iraquiano, onde a violência aumentou mais do que nunca.
Na América Latina, África e Ásia, os Estados Unidos invadiam países ou para depor governos democraticamente eleitos pelo povo, ou para dar apoio a ditaduras criadas e montadas pelos Estados Unidos, tudo em nome da "democracia" (deles).
ROBERT MUSIL do quarteto com Franz Kafka, Marcel Proust e James Joyce: grupo dos grandes pensadores do século XX - Bismarck Frota de Xerez
Conheçam MUSIL.
Um autor na janela
A vida e a obra de Robert Musil num instantâneo panorâmico
Marcelo Backes
Sessenta anos depois de sua morte – lembrados em 15 de abril –, Robert Musil continua ganhando em importância; ano a ano, ensaio a ensaio.
Quando o segundo milênio dava seus últimos suspiros a Alemanha fez o que todo mundo fez... Atendendo à necessidade dos registros – que é interessante e polêmica – e explorando o fim do milênio na justificativa de preservar a memória – e aproveitando para armar debates e aquecer as vendas –, a Alemanha também listou suas obras-primas... O resultado? O melhor romance alemão do século XX – na opinião de 33 autores, 33 críticos e 33 germanistas dos mais conhecidos e importantes do país; que votaram, cada um, em três títulos – é O homem sem qualidades (Der Mann ohne Eigenschaften) de Robert Musil.
Setenta e seis romances receberam voto. E o romance de Musil apareceu em primeiro lugar, com uma vantagem confortável sobre o segundo colocado: O processo, de Kafka. Pausa para a curiosidade... O terceiro da lista – e não vou promover contendas, apenas mencionar resultados – foi A Montanha Mágica, de Thomas Mann. Desculpem, mas não posso me furtar ao questionamento; o Doutor Fausto é muito mais romance, embora tenha aparecido apenas em décimo lugar, depois de Os Budenbrook, inclusive, sétimo colocado, também de Thomas Mann... Em quarto lugar ficou Berlim Alexanderplatz, de Alfred Döblin; o quinto colocado foi O tambor, de Günter Grass; o sexto, Aniversários (Jahrestage), de Uwe Johnson – 2000 páginas inéditas no Brasil.
Mas voltemos a Musil, primeiro na lista e foco desse texto...
A vida
Robert Edler von MUSIL (1880-1942) nasceu em Klagenfurt, na Áustria, e morreu pobre – quase esquecido e dependendo da ajuda de amigos – em Genebra, na Suíça, em plena II Guerra Mundial.
Aos dez anos Musil entrou para a Escola Militar em Eisenstadt, destinado à carreira de oficial. Estudou durante mais de cinco anos em instituições do exército até chegar à Academia Militar de Viena, em 1897. Um ano depois, Musil decidiu largar a carreira de oficial e passou a estudar Engenharia em Brünn, obtendo o diploma da graduação em 1901. Depois de uma temporada em Stuttgart, cursou Filosofia e Psicologia experimental na Universidade de Berlim, doutorando-se em 1908 com tese sobre Ernst Mach (1838-1916),[1] físico e filósofo austríaco. Os estudos de Mach sobre o fenômeno da descontinuidade e da dissociação, assim como suas teses a respeito do “eu condenado” (unrettbares Ich), seriam decisivos na formação de vários escritores vienenses, entre eles Arthur Schnitzler e o próprio Musil.
De 1914 a 1918, Musil participou ativamente da I Guerra Mundial na condição de oficial de Infantaria do exército austríaco. Ao final dos combates chegou a capitão, condecorado com a principal ordem de guerra do moribudo império (Ritterkreuz des Franz-Josephs-Ordens). Só a partir de 1923, e já morando em Berlim, é que Musil passaria a viver exclusivamente de sua condição de escritor.
A ascensão do nazismo, em 1933, obrigou o autor a se mudar para Viena e, mais tarde – depois de se sentir numa ratoeira, conforme ele mesmo chegou a escrever em seu diário –, para Genebra, onde veio a falecer em 15 de abril de 1942.
A arte
A publicação da primeira obra de Musil – O jovem Törless (Die Verwirrungen des Zöglings Törless, 1906) – só foi levada a cabo através do incentivo do crítico berlinense Alfred Kerr. O sucesso posterior, e também a aprovação da crítica, foi imediato. No romance, Musil detém-se – com admirável agudeza psicológica – na consciência de um estudante de internato, às voltas com situações que antecipam – de maneira genial e visionária – o sadismo e a opressão nazistas. O filme baseado no livro, realizado sessenta anos depois da publicação da obra, foi um grande êxito na Alemanha envolvida com a expurgação de um passado tenebroso.
As reuniões, de 1911 – duas novelas – e Três mulheres, de 1924 – três contos esticados –, foram as outras duas obras ficcionais publicadas por Musil antes de O homem sem qualidades. O drama Os entusiastas (Die Schwärmer, 1921) e a comédia Vicente ou A amiga dos homens importantes, de 1923, provaram que a pena de Musil também era afiada no teatro. O espólio literário do autor ainda revelaria várias obras de qualidade, entre elas o conto O melro (Die Amsel).
O homem sem qualidades é a síntese final, tanto da obra quanto da vida de Robert Musil. Todas as obras anteriores do autor são uma espécie de preparação ao Homem sem qualidades, toda sua vida parece ter sido direcionada para a escritura final do romance. Contando apenas o tempo ativo, Musil trabalhou em sua obra-prima durante cerca de 15 anos, de 1927 até o dia da morte. A primeira parte foi publicada em 1930. Logo depois de ter sido lançada a segunda parte – em 1933 –, a obra foi proibida tanto na Alemanha quanto na Áustria. A terceira parte, ainda organizada pelo autor, seria publicada em 1943, na Suíça. A edição de 1952, traria o acréscimo de um quarto volume, organizado por Adolf Frisé e baseado nas notas deixadas pelo autor.
A ação de O homem sem qualidades transcorre na Áustria imperial, dissimulada sob o nome de Kakânia. O romance constitui um vigoroso painel da existência burguesa no início do século XX e antecipa, de certa forma, as crises que a Europa viveria apenas na segunda metade daquele mesmo século. A obra é – em suma – o retrato ficcional apurado de um mundo em decadência.
Elaborado com fortes doses de sátira e humor, O homem sem qualidades é uma bola de neve de ações paralelas, que rola pela montanha do século abaixo, abarcando tempo e espaço, para ao fim engendrar um romance inteiriço, ainda que multiabrangente, pluritemático e panorâmico. Ulrich – o homem sem qualidades – faz três grandes tentativas de se tornar um homem importante. A primeira delas é na condição de oficial, a segunda no papel de engenheiro (vide a carreira do próprio Musil) e a terceira como matemático, exatamente as três profissões dominantes – e mais características – do século XX. Os três ofícios são essencialmente masculinos e revelam o semblante de uma época regida pelo militarismo, pela técnica e pelo cálculo que, juntos, acabaram desmascarando o imenso potencial autodestrutivo da humanidade. O relato acerca da busca “desencantada” de Ulrich lembra a velha busca – ainda sagrada – do Santo Graal.
A compreensão da realidade característica da obra e do pensamento de Musil é rematadamente satírica. A índole “ensaística” do autor arranca máscaras e sua ficção trabalha na confluência dos gêneros. Musil é um escritor “contemplativo”, de “postura clássica”, situado à janela do mundo e atento a seus movimentos. (Tanto que, em várias situações de suas obras, seus personagens aparecem à janela). Ao utilizar vários elementos do ensaio, e inclusive ensaios inteiros no corpo da ficção, além de fazer uso livre do discurso falsamente científico – ainda carregado de poesia – na compleição do romance, Musil dá vida à hibridez de sua narrativa. A frialdade da linguagem, a formalidade da postura do narrador são apenas superficiais. Se à primeira vista o olhar do narrador é marcado pelo intelectualismo – frio e impessoal –, logo se descobre que isso é apenas um meio apolíneo contra o perigo dionisíaco do mundo, e que a indiferença gelada da superfície apenas mascara a paixão ardente do interior.
Adotando uma atitude fundamentalmente irônica diante da sociedade, e decidido a lutar contra a estultice do século – contra “a imensa raça das cabeças medíocres e estúpidas” –, Musil muitas vezes foi compreendido como utopista, ou até místico, por alguns críticos, decididos a dinamitar o vigor de sua obra. O autor que foi tão corrosivo ao representar o mundo em sua realidade distorcida e deformada na figura mítica de uma Kakânia caquética, é transformado assim num sujeito extravagante e pouco afeito à realidade. Um leão sem garras nem dentes...
Já em 1972, Helmut Arntzen – crítico da obra de Musil – dizia que os críticos pareciam fazer gosto em apresentar o autor na condição de animal exótico, místico e de movimentos graciosos. Dessa forma, o escritor combativo e heróico – conforme Musil se compreendia – era transfigurado num metafísico dócil, no homme de lettres que ele sempre renegou, num autor distanciado da realidade, provido de alguns requintes matemáticos na linguagem e de outros tantos talentos psicológicos na análise da alma humana.
A postura “contemplativa” de Musil foi entendida como passiva, a “utopia do ensaísmo” pregada por Ulrich – seu personagem – como uma visão utópica do mundo. Na verdade, Musil fez apenas lutar pela recuperação da atividade de mensurar melhor, quantitativa e qualitativamente, os sentimentos e o “volume espiritual” das relações humanas; sem a ingenuidade do romantismo, mas sem a secura do realismo bruto. De quebra, deu nova fisionomia ao sujeito, nova potência ao “eu”, tornando-o estética e radicalmente consciente, ainda que fazendo-o perambular no âmbito daquilo que um outro crítico – Wolfgang Lange – chamou de “loucura calculada” ou “suspensão calculada da razão”.
A intuição poética de Musil, enriquecida por seu aguçado espírito científico, proporcionou ao autor a capacidade de traçar um vasto panorama ficcional de sua terra e da Europa do século XX. Postado à janela do mundo, Musil examina, em última instância, o valor da inteligência objetiva do homem diante das casualidades mundanas.
--------------------------------------------------------------------------------
[1] Ernst Mach inventou também aquele que conhecemos por “número de Mach” ou “número Mach”: o quociente da velocidade dum corpo que se move num fluido pela velocidade do som no mesmo fluido.
O CASO CESARE BATTISTI - Laerte Braga
Sessenta e um presos políticos suicidaram-se em prisões italianas, só neste ano de 2009, por conta dos maus tratos, das péssimas condições carcerárias, absoluta falta de respeito aos direitos humanos, lembrando os piores tempos do fascismo de Mussolini.
Ao contrário das festas com prostitutas nos palácios do banqueiro proprietário da antiga república italiana, os presos por crimes de opinião são tratados como animais. Fosse vivo o jurista Sobral Pinto iria requerer ao STF tratamento compatível com o que diz a Sociedade Internacional de Proteção aos Animais, como o fez em relação a Luís Carlos Prestes nas prisões da ditadura Vargas, levando em conta que nenhum direito do preso era respeitado.
O governo Berlusconi é uma ditadura fascista e o embaixador da Itália no Brasil é apenas alguém que entra com fundos pela porta dos fundos do gabinete do ministro presidente do STF BERLUSCONI INC (acumula a presidência do STF DANTAS INC LTD). Trata-se da execrável figura de Gilmar Mendes.
A alegação do representante da empresa Itália é que existe um tratado de extradição entre o Brasil e a extinta república e Lula não pode se eximir de entregar Battisti, ainda que o direito de decidir seja seu. O parceiro de Gilmar Mendes e Cezar Peluzzo (de dupla nacionalidade, brasileira e italiana) esquece-se que o tratado fala em motivo justificado para recusar a extradição. E com um país, a Itália. Não existe mais, é só uma grande fazenda de Berlusconi.
As condições em que vivem os presos políticos italianos em cárceres e masmorras da propriedade de Sílvio Berlusconi, por si só, são mais que motivo justificado para que Battisti não seja extraditado. E existem muitos outros.
Em dois de novembro deste ano o jornal LA REPUBBLICA, falando do suicídio da prisioneira Diana Blefari Melazzi, afirma que a despeito da necessidade de tratamento médico especializado, foi mantida em solitária, negado a ela qualquer direito básico, fundamental e vai mais além, acentuando que fosse uma prisioneira por crime comum teria sido tratada normalmente. Como presa política foi largada à sua própria sorte e terminou suicidando-se.
O ministro Marco Aurélio Mello ao tomar conhecimento do pleito do empregado de Berlusconi disse que o que “a Itália pretende é uma virada de mesa”. Baseia-se numa firula jurídica, o voto do ministro Eros Grau, que dá ao presidente o direito de decidir, mas obrigaria o presidente a cumprir o tratado. É necessário repetir que pelo tratado Lula pode negar a extradição, ou conceder asilo se for o caso, levando em conta motivos justificados.
E o fato principal. O tratado foi firmado com o governo de uma república, a Itália. Está extinta hoje. É apenas uma grande propriedade, espécie de balneário do banqueiro Sílvio Berlusconi.
A Europa, aliás, como um todo, vive um processo de decadência e extinção. Os produtores do BB da Alemanha, diante dos baixos índices de audiência do bordel televisivo resolveram colocar uma atriz pornô em companhia de um brother num quarto da casa alemã, isolar os demais e gravar as cenas de sexo explícito entre o casal. A justificativa é que se tratava de atender a um “clamor público”.
Está formado um novo Eixo, dessa vez sem o Japão, mas com a Grã Bretanha.
Deixa a GLOBO saber disso. Vai montar a casa num dos palácios de Berlusconi com direito a sessão de fotos na revista CARAS.
A pretensão do funcionário de Berlusconi é pura arrogância, tentativa de coação d
governo brasileiro, presunção de ter recebido o espírito de Calígula ou Nero, caso de imediata expulsão do suposto diplomata de nosso País, afinal, pelo menos até que se prove o contrário isso não é nem casa da mãe Joana, ou do pai Serra, é Brasil ainda, não conseguiram até agora mudar para BRAZIL.
O capataz que nominalmente responde pelo que ainda chamam de Ministério da Justiça da extinta Itália, Angelino Alfano, confrontado com o número de suicídios nas prisões italianas, as más condições, desumanas dos presídios, tratou de tirar o corpo fora, só cuida de agenciar as participantes das “reuniões” nos palácios de Berlusconi e liberar os fundos para as portas dos fundos de Gilmar Mendes e quejandos, a responsabilidade pelos suicídios é do “poder judiciário”. Segundo o cafetão, quer dizer, ministro.
Com a goela maior sua competência, o ministro italiano Cezar Peluzzo, animado com a nova contenda a partir da porta dos fundos já disse que se Lula negar é preciso estudar o assunto.
A escola tucano/DEM prospera risonha e franca, no quem pagou passou, quer dizer, quem paga está solto (Daniel Dantas) e quem não paga fica preso (Cesare Battisti). A lei para essa turma está no tamanho da mala e no conteúdo.
·