quinta-feira, 23 de abril de 2009

Índios Ticuna têm delegacia própria para combater crimes - Terra Sem Males


Armas usadas pelos "policiais" são palmatórias, chicotes e cassetetes.

Há quatro meses, indígenas da etnia ticuna tem sua própria delegacia para combater o crime na aldeia Umariaçu, em Tabatinga, a 1.105 quilômetros de Manaus.

As armas usadas pelos "policiais" indígenas são palmatória, chicotes, cassetetes e os detidos são levados a uma prisão de um metro e meio quadrados. Os policiais usam fardamento com logotipo de dois cassetetes e um facão do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), design e nome criados pelos indígenas.

"Estavam cansados da omissão do poder público e resolveram tomar a iniciativa para proteger sua gente e suas terras", defende o dirigente da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo Sateré.

Na semana passada, Jecinaldo foi a Tabatinga para reunir-se com pajés da aldeia Umariaçu. "Pediram apoio para a delegacia e ontem (20) encaminhamos a carta com o pedido ao Ministério da Justiça e ao governo do Amazonas", conta.

Os indígenas, homens e mulheres, são ex-soldados do Exército e usam essa experiência para coibir o crime. Com o avanço do alcoolismo na aldeia, principalmente os jovens da aldeia estão se envolvendo com drogas e violência.

Dentro da aldeia, foi proibida a entrada de bebidas alcoólicas, desde o início da delegacia. Segundo Jecinaldo, não há providências do poder público em espaços de lazer e esporte para os jovens, que muitas vezes entram no alcoolismo ou se suicidam.

Os "policias" também fazem serviço de ronda na área da aldeia, controlando o fluxo de veículos e pessoas que entram e saem. Na ronda, usam crachás pendurados em camisetas pretas com o logotipo e a sigla SPI. Os cerca de 60 "policiais" que trabalham em três turnos, carregam algemas e cassetetes.

"Eles (os ticuna) têm um levantamento que mostra que houve uma queda em 80% dos crimes causados especialmente por embriaguez, no balanço desses quatro meses de delegacia", destaca Jecinaldo. Nesse período, já foram presos e depois liberados 40 ticunas. "Até agora, há quase nenhuma reincidência".

Na carta ao Ministério da Justiça e ao governo do Estado, os indígenas pedem a legitimação da delegacia, treinamento para os "policiais" e pagamento, já que todos são voluntários.

Em contato com a assessoria da Secretaria de Segurança do Estado, a informação é que a posição atual é de "não reconhecimento da delegacia, que é uma forma de milícia e está fora da lei". A reportagem procurou a assessoria de imprensa do Ministério da Justiça ontem (20) e hoje, mas não obteve resposta

A delegacia, contudo, é aprovada por um parecer da procuradora da República em Tabatinga, Maria Clara Barros Noleto, assinado em dezembro do ano passado. No documento, a procuradora considera a criação da SPI "legítima e plenamente aplicável dentro os membros daquele grupo social e no território indígena"



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