segunda-feira, 20 de abril de 2009
REDE GRUMIN DE MULHERES INDÍGENAS - Por Vanderley Caixe
I Sarau das Poéticas Indígenas
Promoção: CASA DAS ROSAS
Realizado em Dia 19 de abril.
A idéia do I Sarau das Poéticas Indígenas foi reunir índios, escritores indígenas e de outras origens, clássicos e contemporâneos, cuja obra tenha inspiração indígena de alguma região do Brasil. Poéticas, pois aqui não cabe apenas uma única poética, a ocidental ou aristóteleana, mas sua diversidade que vive nos cânticos, na história oral, no ritual indígena, tendo em comum a inventividade e o encantamento com a palavra e suas possibilidades. Essa reunião de poetas e poéticas pretende dar projeção e ânimo a este ainda singelo movimento intercultural e literário que é o da literatura indígena.
REGIÃO NORDESTE
1. Apresentação dos índios Pataxó do Sul da Bahia Manoel Santana e Zé Fragoso.
Sobre o povo Pataxó: Os Pataxó são o povo que travou o primeiro contato com os portugueses na região de Porto Seguro há 509 anos. Sua trajetória é admirável e demonstra grande adaptabilidade frente às adversidades, capacidade de união em prol de seus direitos e resistência cultural. Hoje, com parte de suas terras reconquistadas, fala-se de uma ressurgência Pataxó, na qual índios idosos e jovens buscam resgatar sua cultura ancestral e reviver sua língua nativa.
Sobre os índios que se apresentam: Manoel Santana é um contador de histórias Pataxó da Aldeia Boca da Mata, próximo à cidade de Itamarajú no Sul da Bahia. Segundo o antropólogo Guga Sampaio é “um proseador desinibido, eloqüente e imaginativo”. Zé Fragoso é cacique da aldeia e escritor indígena da Aldeia Tibá, no Prado, Sul da Bahia.
2. Apresentação do índio Pankararu de São Paulo Bino Pankararu
Sobre o índio: Bino Pankararu é uma liderança dos índios Pankararu que vivem no Real Parque, São Paulo, e cumpre função religiosa em sua cultura. Nascido na Aldeia Brejo dos Padres em Pernambuco, ele é um dos muitos índios imigrantes que vieram para a metrópole num pau de arara fugindo da seca, das invasões de suas terras, em busca de novas alternativas de vida.
3. Apresentação e leitura da escritora indígena Eliane Potiguara*
Sobre a escritora: Indicada em 2005 para o Prêmio Nobel da Paz (Projeto Mil Mulheres do Mundo), Eliane é escritora, autora de METADE CARA, METADE MÁSCARA (Global Editora), professora e ativista indígena. É remanescente Potiguara, coordenadora e fundadora da Rede Grumin de Mulheres Indígenas / Rede de Comunicação Indígena,organização que ganhou o Prêmio Cidadania Internacional da Comunidade Bahai/IRÃ e diretora do INBRAPI (Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual). Sites: www.elianepotiguara.org.br e www.grumin.org.br.
4. Leitura da poeta Graça Graúna, de Pernambuco
Sobre a poeta: Graça é descendente dos índios Potiguara do Rio Grande do Norte e escritora de ensaios, crônicas e poemas. Atualmente, reside em dois lugares: no litoral e no agreste pernambucano. É graduada, tem especialização, mestrado e doutorado em Letras, tendo dedicado-se aos temas de mitos indígenas na literatura infantil e literatura indígena contemporânea no Brasil. Tem vários livros publicados, o mais recente chama-se Tear da Palavra, de 2007. Mantém um blogue.
REGIÃO NORTE
1. Apresentação do antropólogo Pedro Cesarino sobre os índios Marubo
Sobre os índios Marubo: Os Maurbo vivem no Vale do Rio Javari, próximos à fronteira do Amazonas com o Peru. Algumas de suas aldeias são ainda isoladas, enquanto outras vêm sofrendo interferência da população regional. Têm uma vasta tradição oral identificada por antropólogos. Seus “saitis”, narrativas míticas cantadas, que tratam da formação do cosmos, chamam a atenção pelo seu valor poético.
Sobre o antropólogo: Pedro de Niemeyer Cesarino é graduado em filosofia pela Universidade de São Paulo, mestre e doutor em antropologia social pelo Museu Nacional (UFRJ). Especialista em etnologia e tradições orais ameríndias, vem realizando pesquisas junto aos Marubo do Vale do Javari (AM) desde 2004. É também co-editor da revista literária Azougue e colaborador da Companhia Livre da Cooperativa Paulista de Teatro. Atualmente, é pós-doutorando no Departamento de Letras da Universidade
de São Paulo.
2. Apresentação dos índios Eurico Baniwa e Juju Murá de São Paulo
Sobre os índios Baniwa: Os Baniwa são índios do Amazonas que vivem no Alto Rio Negro, tendo como ponto de apoio a cidade de São Gabriel da Cachoeira, cidade brasileira com maior população indígena. A arte Baniwa, particularmente sua cestaria, é conhecida internacionalmente.
Sobre o índio que se apresenta: Eurico Baniwa nasceu na aldeia Baniwa do Rio Içna, do Alto Rio Negro. Formou-se em Filosofia em Manaus, trabalhou com saúde e educação entre os índios Ianomami. Desde 2004 está em SP, aonde estuda Direito e atua no IDET (Instituto das Tradições Indígenas).
Sobre os índios Mura: Os Mura são índios do Amazonas. Contatados nos Século XVIII por uma missão jesuítica que visava se assentar às margens do Rio Madeira e pelo sistema colonial do Grão Pará, os Mura registram longa convivência com a sociedade nacional, história marcada pela escravidão no período colonial e o trabalho semi-escravo para os patrões que monopolizavam o extrativismo da castanha-do-pará na área indígena. Em 1996 a FUNAI deu início à demarcação de suas terras. O povo Mura vive hoje em fraternidade, na margem do Rio Madeira, em harmonia com a mãe terra, cultivando a tradição milenar.
Sobre a índia que se apresenta: Juju Mura nasceu no Amazonas, na comunidade Manaquiri, e veio para São Paulo em 2001 para realizar seus estudos. Formou-se em pedagogia na FAAC, fez docência de ensino superior, é professora e divulga a cultura indígena em Cotia-SP.
3. A declamadora Tatiana Fraga lê obras dos poetas Joaquim Sousândrade e Raul Bopp
Sobre o poeta Joaquim Sousândrade: Joaquim Sousândrade foi um poeta maranhense que viveu no Século XIX que recorreu ao multilinguismo para incorporar o elemento indígena amazônico ao seu poema épico O Guesa Errante (1874). Morreu em São Luis, na miséria e sendo considerado louco. Sua obra veio ser reconhecida por Haroldo de Campos na década de 60.
Sobre o poeta Raul Bopp: Raul Bopp, nasceu no Rio Grande do Sul viveu no início do Século XX. Formado em direito, viajou o Brasil e escreveu sua obra prima, Cobra Norato, sobre a Amazônia. Integrou o grupo paulista do modernismo, cujas correntes verde-amarelas (Pau Brasil) e antropofágicas fez parte.
Sobre a declamadora: Tatiana Fraga é poeta e coordenadora de arte da Casa das Rosas.
4. Leitura da escritora Deborah Goldemberg
Sobre a escritora: Deborah Goldemberg, paulistana, é formada em antropologia e é escritora. Tem diversas publicações de crônicas, poemas e artigos em coletâneas e jornais. É atuante no movimento literário paulistano e curadora do I Sarau das Poéticas Indígenas da Casa das Rosas. Seu primeiro livro, Ressurgência Icamiaba, é uma novela baseada na lenda amazônica das guerreiras Icamiabas, uma neo-lenda multiétnica e transbrasileira. Mantém o blog literário ressurgenciaicamiaba.blogspot.com
SUL E SUDESTE DO PAÍS
Introdução geral aos índios do Sul/Sudeste: Os índios Guarani são naturais do Sul e Sudeste do Brasil, vivendo ao longo do litoral desde o Sul de São Paulo até Santa Catarina. Havia um caminho chamado Pearibu, que os ligava ao Paraguai, aonde viviam seus parentes. Com o avanço da escravidão portuguesa, eles recuaram mais para o Oeste, concentrando-se no Paraguai (Benedito Prezia, 2001). A experiência das Missões Jesuíticas do Século XVII, reduções cristãs criadas nas fronteiras do Brasil com a Argentina e Paraguai, deram margem à uma troca cultural inusitada, pois a arte e a música eram ali altamente valorizadas. Após a destruição das missões, muitos índios foram trazidos para São Paulo como escravos, influindo na cultura mestiça. No início do Século XIX, famílias Guarani começaram a voltar para São Paulo e hoje há três comunidades estabelecidas com cerca de 800 índios vivendo nelas. O Guarani é a língua indígena mais falada no Brasil, com 50 mil falantes. Há 4 dialetos: kaiowá, nhandeva, m’bya e tupi-guarani. No Paraguai, cerca de 3 milhões de pessoas falam o guarani paraguaio.
1. Apresentação dos índios Guarani Nhandeva
Sobre a índia: Poty Porã é professora indígena, estudou na PUC e na Universidade de São Paulo.
Sobre o índio: William Macena é uma liderança indígena e monitor do CECI, Centro Educacional de Cultura Indígena de São Paulo.
2. Leitura do escritor indígena Olivio Jekupe
Sobre o escritor: Olívio Jekupe escreve poesia desde os 15 anos, cursou filosofia na PUC Paraná e na USP. É escritor de diversos livros indígenas e é muito requisitado para palestras sobre a temática, inclusive fora do Brasil. Atualmente vive na Aldeia Krukutu, em Parelheiros, São Paulo, com sua esposa e quatro filhos.
3. A declamadora Nicole Cristófalo lê o escritor José de Alencar e o poeta Gonçalves Dias.
Sobre o poeta: Gonçalves Dias, 1823-1864 é considerado o poeta nacional por excelência, tendo conseguido dar vida ao tema do índio na poesia brasileira.
Sobre o escritor: José de Alencar, nascido em Fortaleza, viveu o Brasil Imperial do Século XIX no Rio de Janeiro e é o grande nome da prosa romântica brasileira. Sua obra tem uma forte linha indigenista que inclui alguns de seus romances mais famosos, tal como O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1870).
Sobre a declamadora: Nicole Cristofalo é poeta, estudante de Letras da Universidade de São Paulo e colaboradora da revista literária Zunái. Desenvolve uma pesquisa sobre o poeta argentino Oliverio Girondo.
4. O declamador João Pedro Ribeiro relembra o modernismo brasileiro, em parceria com os poetas maloqueiristas Caco Pontes e Berimba de Jesus.
Sobre o poeta modernista: Oswald de Andrade, paulistano, foi líder do movimento modernista brasileiro e promotor da Semana de Arte Moderna em 1922. É de sua autoria o Manifesto Antropofágico de 1928, que criticava o academicismo da arte brasileira e buscava valorizar a cultura brasileira.
Sobre o poeta modernista: Mário de Andrade, paulistano, foi líder do movimento modernista brasileiro e promotor da Semana de Arte Moderna em 1922. Pesquisador de etnografia e folclore, seu romance Macunaíma reelabora temas da mitologia indígena com visões folclóricas da Amazônia e do resto do Brasil; é considerado uma das obras capitais da narrativa brasileira no Século XX e o fundamento de uma nova linguagem literária.
Sobre o declamador: João Pedro Ribeiro é descendente de índios Kaingang do Rio Grande do Sul e italianos. Atualmente, cursa lingüística na Faculdade de Letras da USP, escreve e é um grande entusiasta da literatura indígena. Os poetas Caco Pontes e Berimba de Jesus do movimento maloqueirista participarão da declamação.
5. Leitura do escritor Douglas Diegues, de Assunción
Sobre o escritor: Douglas Diegues é escritor, vive na fronteira do Brasil com o Paraguai e escreve numa linguagem que ele auto-denominou como Portunhol Selvagem, misto de português, espanhol e Guarani, inspirada na linguagem que é de fato falada no contexto intercultural do território em que vive. Tem diversos livros publicados, inclusive uma coletânea de poesias Guarani M’Bya, e mantém um blog.
6. Leitura do poeta Pedro Tostes
Sobre o poeta: Pedro Tostes nasceu no Rio de Janeiro e é poeta do movimento paulistano de “Poesia Maloqueirista” Segundo Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, professor da FFLCH-USP, “Os maloqueristas são originais assim: um negro, um branco e um índio; mas não são as três raças tristes, nem pretendem afastar as contribuições da cultura Holandesa no Brasil.” Mantém um blog.
7. O declamador indígena Emerson de Oliveira Souza lê um texto do Pajé Florêncio Portillo de 1993.
Sobre o declamador indígena: Emerson de Oliveira Souza é um índio Guarani Nhandeva, residente em São Paulo.
Sobre o pajé: Pajé Florêncio Portillo é do povo Avá Guarani, ou Guarani Nhandeva. O texto Para Deus somos Todos Iguais foi uma apresentação oral dele para os participantes fizeram no Encontro Nacional de Lideranças Indígenas, em Benjamin Aceval, Paraguai. Diante da diversidade étnica, havida naquele encontro, o pajé Florencio fez uma reflexão sobre a diversidade, que deve encontrar uma unidade em Deus, pai de todos.
Sobre o texto: A tradução do guarani para o espanhol foi feita pelo paraguaio Eri Daniel Rojas e a versão portuguesa foi feita por Benedito Prezia, antropólogo e escritor de diversos livros sobre povos indígenas.
Crédito das fotos: Dede Fedrizzi, fotógrafo, e Alikrim Pataxó, modelo.
Sobre o fotógrafo: Dede Fedrizzi já viveu na Espanha, Grécia, Suiça, Alemanha e os Estados Unidos. Hoje, passa a maior parte do tempo em São Paulo, Brasil. É mestre em Artes Plásticas, pela Universidade de Nova Iorque e tem fotografado publicidade e moda em todo o planeta. www.dedefedrizzi.com
Sobre o modelo: Alikrim Pataxó, reside na Aldeia Olho do Boi, Caraíva, Bahia.
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* Escritora, professora e ativista indígena coordenadora do GRUMIN e Diretora do INBRAPI
· www.grumin.org.br
· www.elianepotiguara.org.br
· www.inbrapi.org.br
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