segunda-feira, 20 de abril de 2009

Mundo - OBAMA E A CÚPULA DAS AMÉRICAS por Laerte Braga


O documento final da Cúpula das Américas realizada em Trinidad Tobago é o reflexo das dificuldades da política vaselina do presidente Barak Obama, dos Estados Unidos.


O documento final da Cúpula das Américas realizada em Trinidad Tobago é o reflexo das dificuldades da política vaselina do presidente Barak Obama, dos Estados Unidos. A tentativa de resgatar o controle norte-americano sobre a América Latina, perdido nos desvarios do presidente terrorista George Bush. Novo ídolo da mídia, Obama insiste no mesmo erro da maioria dos governantes supostamente bem intencionados de seu país. Tenta tratar a questão como se fosse problema de caixa. Anunciou a liberação de 100 milhões de dólares para essa parte do mundo. Equivale a mais ou menos 0,28% de todo o dinheiro dado a bancos quebrados na tal crise gerada exatamente pelo sistema financeiro dos EUA e de países da Comunidade Européia.

América Latina continua a não valer nada para os EUA em termos de integração das Américas num plano político e econômico de respeito e compreensão da realidade de cada país latino-americano.

Obama quer gestos de Cuba para prosseguir no diálogo com o governo daquele país. Lula foi claro ao dizer que o norte-americano não deve esperar nenhum gesto do governo cubano, mas deve prosseguir nas conversações, já que o bloqueio contra Cuba foi uma decisão dos EUA e é condenado por todos os governantes da América Latina. Puro exercício de prepotência.

Mais ou menos como alguém dar um tapa em alguém e esperar que o esbofeteado peça desculpas. Isso é que Obama propõe.

Como o mundo hoje é de espetáculos, a impressão que o norte-americano passa é que está ganhando tempo nesses primeiros meses de governo, até achar uma alternativa que lhe permita superar dificuldades internas e colocar em prática políticas efetivas. Em relação a América Latina e ao mundo de um modo geral, passam pela compreensão de uma nova realidade que não passa nem pela vaselina, nem pela areia de Bush.

Não basta o sorriso de Hilary Clinton e nem a “magia” do primeiro negro presidente dos EUA. Pelé também é negro e nem por isso significa ou significou algum avanço na luta dos negros brasileiros e do mundo, à medida que um dia declarou pomposamente que “o povo brasileiro não está preparado para votar”. E como disse Romário, “Pelé seria um gênio completo se fosse mudo.”

Obama não tem a menor percepção da realidade venezuelana sob o governo Chávez, a não ser aquela que lhe passa CIA, que é a mesma que a agência passava ao presidente Bush. E assim a da Nicarágua, a de El Salvador, a da Bolívia, do Equador, do Paraguai, muito menos da brasileira. É só ficar atento ao noticiário da principal rede de comunicação brasileira, a GLOBO, para verificar que a linguagem continua a mesma.

Terrorista para lá, ditador para cá e coisa e tal.

Como a história do “piratas” da Somália. Não existem. Mas cidadãos somalis indignados com a pesca predatória e a utilização de seu litoral, de suas águas territoriais para as grandes nações despejarem lixo nuclear, lixo industrial, lixo hospitalar, como se a Somália fosse lixo.

Falar em gestos voltados para os direitos humanos é ridículo para um país que nos oito anos de Bush violou sistemática e deliberadamente todos os direitos de iraquianos, afegãos, colombianos, de povos africanos, asiáticos, que tentou golpes na Venezuela, na Bolívia, que seqüestrou e construiu prisões secretas, usou e usa navios como prisões sem amparo legal, no país de Guantánamo, centro de terror e tortura.

E cobrar atitudes assim do governo terrorista de Israel?

Uma coisa é o governo, outra coisa é o poder. Obama é o presidente dos EUA. O poder nos EUA não. Basta ler as declarações do presidente sobre a situação no Oriente Médio. Continua sendo parceiro do genocídio praticado por Israel contra o povo palestino. Não mudou nada. Submete-se ao lobby sionista tranquilamente, como antes, no período eleitoral, foi lá e disse que estava às ordens dos senhores.

Como vai tocando o barco Obama dá a sensação de ser um produto que breve estará jogado no canto das prateleiras do supermercado mundial de shows e espetáculos. As mágicas têm um limite. As piruetas para chamar atenção da platéia têm um ponto máximo, se tentar ousar numa espécie de vôo estilizado cai e se esborracha.

Precisa, primeiro, perceber a realidade do mundo nos dias atuais e historicamente compreender que o império norte-americano começou o período de declínio. Obama talvez seja o último César com coroa de louros. E depois dele administradores de massa falida.

O que sua política para a América Latina mostra é isso. Não sabe por onde começar e nem por onde terminar. Quem prestar atenção na foto em que o presidente da Venezuela aparece entregando um livro de Eduardo Galeano ao norte-americano vai perceber que se há sinceridade na expressão de Chávez, há pose de estrela no rosto de Obama.

Corre o risco de acabar numa dessas séries que a tevê dos EUA exporta para o resto do mundo.

Em Trinidad Tobago encontrou uma América Latina diferente. A despeito dos presidentes do Peru, Colômbia e Chile ainda em posição de quatro, o resto dos líderes latinos se mostrou coeso e disposto a um novo tipo de diálogo com o antigo dono.

Não é mais aquele negócio de espelho por ouro. Índio ficou esperto e na Bolívia, por exemplo, elegeu o presidente da República.

É ridículo quando o presidente dos EUA fala que a Venezuela e Cuba devem mostrar mais que palavras, devem mostrar atos.

O que o presidente dos Estados Unidos pensa que é, ou quem pensa que é? O dono que quer enquadrar governos legítimos? Como se para viver seja necessária a aprovação de Washington?

Barak Obama corre o risco de terminar todo esse show debaixo de vaias, pois de sua cartola não estão saindo os coelhos que achou que tivesse.

A sensação que causa é que é só casca. Uma grande jogada de marketing. Parece tucano.

O presidente que pretendia revolucionar o mundo e criar uma nova era, o jovem que foi criado pela avô, negro, de origem muçulmana, não vai a uma conferência da ONU em Genebra sobre racismo. O tom do encontro não agrada ao estado terrorista de Israel e Obama não quer cair em desgraça junto aos sionistas.

Obama pelo andar da carruagem ainda chega ao milésimo gol pedindo pelas criancinhas pobres do mundo. E acaba anunciando o creme dental colgate. O desespero disso é que quem paga o cachê é Homer Simpson.

A Cúpula das Américas deveria ter sido um mea culpa de Obama pelas políticas seculares dos norte-americanos em relação à América Latina. Foi apenas um exercício de arrogância, show de estrela de Hollywood.

Bush gostava de vestir o blusão de couro dos aviadores e fingir que pilotava aviões de guerra – fugiu do serviço militar –. Já Obama é outro departamento. É “luzes, câmeras, ação”. Como vai ser a montagem e a edição do filme não sei. As cenas gravadas até agora dão a sensação que na hora agá Rambo vai ressurgir impávido e colossal, a única linguagem real dos Estados Unidos para o que chama de democracia e direitos humanos.

Ah! O cara ressuscitou a conversa de ALCA. Olho vivo, vão apostar tudo na eleição de José Serra. É um funcionário exemplar e o Brasil é de extrema importância para o show de Obama.

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