sábado, 18 de abril de 2009

Menina Ianomâmi continua no hospital


Continua no hospital mesmo contra a vontade da tribo e da Funai...

Atendendo pedido do Ministério Público do Amazonas, a Vara da Infância e Juventude de Manaus determinou ontem que uma menina ianomâmi com hidrocefalia, pneumonia e tuberculose continue sendo tratada no Hospital Infantil Dr. Fajardo, contra a vontade da própria tribo e da Funai (Fundação Nacional do Índio).
Os índios e a Funai defendem que a criança --de um 1 ano e 6 meses-- volte à sua aldeia, mesmo sem a alta do hospital. Para os índios, a menina deve ser tratada pela medicina indígena e pela medicina convencional.
A direção do hospital diz que a menina, que está respondendo ao tratamento, pode morrer se isso acontecer. A aldeia fica 639 km ao norte de Manaus.
A mãe da criança recebeu da Funai, na segunda-feira, autorização para remover a menina do hospital com apoio da ONG Secoya (Serviço e Cooperação com o Povo Yanomami), conveniada da Funasa (Fundação Nacional de Saúde).
Mas, no despacho de ontem, um mandado de intimação, a juíza Carla Reis determinou que a direção do hospital mantenha a criança internada até que ela obtenha alta. O MP foi provocado pelo Conselho Tutelar da Zona Rural de Manaus.
Na terça-feira, dois índios ianomâmis tentaram retirar a criança da enfermaria, segundo a Polícia Federal.
Em nota à imprensa, o administrador da Funai em Manaus, Edgar Fernandes Rodrigues, afirma que em uma maloca ianomâmi as atividades domésticas competem à mulher e que, se ela gerar um filho deficiente, é permitido o infanticídio.
"Gerar um filho defeituoso, que não terá serventia [...], é um grave 'pecado', pois este não poderá cumprir o 'seu destino ancestral", diz a nota.
Rodrigues afirma que a"Funai respeita e acata a decisão da mãe da criança ianomâmi de interromper o tratamento médico de sua filha e levá-la para maloca. Perderemos uma vida, sim, mas temos a certeza de que outra será gerada."
Em entrevista ontem, no entanto, integrantes da ONG Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia), que defendem a remoção da menina do hospital, disseram que não vai haver infanticídio. Segundo eles, as seguidas internações da criança agravaram seu estado de saúde e ela deveria voltar à aldeia, onde seria tratada também por enfermeiros capacitados.
Há uma semana, a mãe da criança arrancou os soros pelos quais a menina se alimenta e tentou impedir que as enfermeiras fizessem o atendimento, diz a direção do hospital. A mãe foi retirada do prédio.
Hidrocefalia

A hidrocefalia é causada pelo aumento anormal do volume de liquor no cérebro, o que pode provocar pressão dele contra o crânio. O quadro pode ser causado por doenças como a tuberculose. O tratamento exige a retirada do líquido do cérebro com o auxílio de uma válvula que transporta o excesso para a região do abdômen ou por meio de um endoscópio.
A neurocirurgiã pediátrica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Nelci Collange afirma que a maioria dos casos envolve crianças e que a demora do tratamento pode provocar um estado de coma. Realizado a tempo, a expectativa de vida não é afetada e a pessoa pode chegar à vida adulta.



Fonte: Folha Online UOL

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