do Greenpeace
A empresa franco-britânica Perenco deu início à exploração de petróleo na
zona de maior biodiversidade do Atlântico Sul. Greenpeace manda seu recado do
alto
O Greenpeace mandou uma mensagem contundente à Perenco, primeira empresa à
perfurar poços de petróleo em Abrolhos (©Greenpeace / Marizilda Cruppe / EVE)
A mensagem projetada na fachada da Torre do Rio Sul, um dos mais antigos shoppings da capital fluminense, onde se localiza a sede brasileira da empresa anglo-francesa, era um protesto contra o início da exploração de óleo no maior santuário marinho do Atlântico Sul, localizado no litoral baiano.
Esta é a segunda vez que o Greenpeace protesta contra
a empresa. Em agosto passado, os ativistas
se fantasiaram de baleias e bateram na porta da Perenco cobrando uma
resposta sobre o fim da exploração de óleo em Abrolhos. A empresa, porém, jamais
se pronunciou.
A Perenco recebeu em novembro passado autorização do Ibama
(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e os Recursos Naturais Renováveis) para
iniciar a perfuração de oito poços em alto mar. A operação teve inicio pela
perfuração de dois poços nos blocos BM-ES-37 e BM-ES-38, ambos localizados
dentro da área de moratória exigida pelo Greenpeace em Abrolhos.
No primeiro poço, a perfuração atingiu 4.894 metros e no
segundo 5.100 metros. A viabilidade econômica dos dois poços ainda está em
avaliação.
O licenciamento ambiental foi aprovado sem um plano de ação
específico para casos de acidente. O IEA (Estudo de Impacto Ambiental)
apresentado pela Perenco ao Ibama para conseguir a licença de perfuração
identifica um risco alto e moderado de vazamento de óleo em uma zona de
movimentação de baleias jubarte e de quelônios.
O mesmo documento mostra que 19,4% da área de reprodução de
baleias, dentro da área de moratória , poderá ser impactada por um eventual
vazamento durante qualquer uma das etapas da exploração dos blocos.
“A aprovação para perfuração em Abrolhos é um grande erro e
vai na contramão dos avanços que se espera do governo brasileiro para a proteção
de Abrolhos, esta zona de extrema importância ecológica”, disse Leandra
Gonçalves, da campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.
“A Perenco sempre ignorou nosso pedido de moratória da
exploração de petróleo em Abrolhos. A mensagem de hoje, portanto, é um alerta à
empresa de que continuamos atentos a suas movimentações neste santuário marinho.
Também é uma maneira de mostrar à população os riscos que a indústria do
petróleo e gás está levando para a zona de maior biodiversidade do mar
brasileiro.”
Veja outras imagens do protesto:
Licenciamento precipitado
Todo o movimento de licenciamento para a Perenco aconteceu à
revelia de discussões entre o MMA (Ministério do Meio Ambiente), o MME
(Ministério de Minas e Energia), os governos Estaduais e com a Petrobras sobre
maneiras de garantir uma maior proteção ao banco dos Abrolhos.
Em novembro passado, durante reunião entre o Greenpeace com
o então diretor de exploração da Petrobras, Guilherme Estrella, a empresa
garantiu que o entorno de Abrolhos, devido a sua formação geológica e sua
importância em termos de biodiversidade, não era de interesse da empresa.
O mesmo entendimento parece ter a nova presidente da
Petrobras, Graça Foster. Em entrevista à jornalista Miriam Leitão (Espaço
Aberto, Globo News, 8/3/2012), Foster reitera a importância de Abrolhos e afirma
que a empresa vai respeitar os limites de exclusão necessários para proteger sua
biodiversidade.
“Existe uma discussão de que se faça um afastamento de 50 km no entorno de
Abrolhos. Se 50 km é dispor de um distanciamento para a área de proteção
ambiental, que seja. Se for 100 km, também. Se não puder [explorar em Abrolhos],
também... [A exploração em Abrolhos] não perturba o resultado da indústria de
petróleo. Não é isso que vai reduzir os resultados de nossos acionistas.”O Banco dos Abrolhos
Criado em 1983, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos ocupa uma área aproximada de 266 milhas náuticas quadradas (91.300 ha). Ele é composto por duas áreas distintas: a parte maior compreende o parcel dos Abrolhos e o arquipélago dos Abrolhos, excluída a ilha Santa Bárbara, sob controle da Marinha. A parte menor corresponde aos recifes de Timbebas.
Veja galeria de fotos da biodiversidade de Abrolhos:
Estudos recentes demonstraram que a extensão da biodiversidade do banco dos Abrolhos está muito além dos limites de proteção definidos pelo parque. O entorno da região, que abriga o maior banco de corais do Atlântico Sul, encontra-se completamente desprotegido. Além disso, a ANP (Agência Nacional do Petróleo) loteou a área, dando concessões a 10 empresas para explorarem óleo e gás em 13 blocos dentro da área para a qual se pede uma moratória. Atualmente, não há restrições legais para que novos blocos sejam ofertados em futuros leilões.
A área de moratória, de aproximadamente 93 mil
quilômetros quadrados, foi estabelecida pelo Greenpeace a partir do estudo
chamado Megadiversidade,
realizado pela ONG Conservação Internacional e por pesquisadores independentes.
A metodologia utilizada foi a dispersão de gotas de óleo em diversas regiões,
levando em consideração o sistema de ventos e correntes marinhas. Daí se definiu
a extensão que um eventual vazamento pode atingir.
Sobre a Perenco
Com operações onshore e offshore em todo o
mundo, a Perenco produz cerca de 250 mil barris de petróleo por dia. A empresa
está presente em 16 países: Austrália, Belize, Brasil, Congo, Camarões, Congo,
Equador, Egito, Gabão, Guatemala, Iraque, Peru, Tunísia, Turquia, Reino Unido e
Venezuela.
Sócia do empresário Eike Batista, a Perenco é ainda uma desconhecida no
Brasil. Seu ingresso no país se deu somente após a 9a rodada de
concessão da ANP, de 2008. Nela a empresa adquiriu cinco concessões, todas de
exploração em águas profundas e duas delas na área de moratória de Abrolhos.
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