terça-feira, 8 de setembro de 2009
AS ENCRUZILHADAS DE OBAMA - OS CAMINHOS DE OBAMA - Laerte Braga
Barack Obama precisa decidir primeiro se é negro ou se é branco. Em seguida se sua vocação é ser garçom de alguma cervejaria em seu país, ou no Haiti. E em terceiro se está na Casa Branca para limpar a sujeira do seu cachorro ou para alguma outra coisa que talvez nem passe pela sua cabeça. Esse negócio de cervejaria é complicado. Anos atrás deu numa baita guerra com milhões de mortos.
Que a chamada correlação de forças seja desigual, tudo bem. Mas daí a arriar as calças, cair de quatro e fingir que condena um golpe militar em Honduras, enquanto sustenta-o, porque patrocinado por seu governo (o presidente, pelo menos em tese, de direito, é ele), vai uma distância muito grande.
Determinar, é necessária a autorização presidencial para isso, uma estratégia de guerra no Afeganistão que implique em bombardeios indiscriminados atingindo alvos civis a pretexto de matar talibãs, é um ato de barbárie que nada o diferencia de George Bush.
Bernard Kouchner, ministro das Relações Exteriores da França, classificou de ”enorme erro”, o bombardeio de forças da OTAN (os EUA disfarçam a intervenção no Afeganistão com o instrumento OTAN). Dezenas de civis morreram e outros tantos ficaram feridos. Em linguagem diplomática “enorme erro” é uma condenação contundente. “Não deveríamos estar bombardeando os afegãos, mas trabalhando com eles”.
Obama assumiu o governo prometendo fechar o campo de concentração em Guantánamo, parte do território cubano ocupado pelos EUA. Tem maioria no Congresso dos EUA e não conseguiu fechar o campo. As decisões a favor dos que estão presos ali têm sido tomadas pelo poder Judiciário, um ou outro juiz independente e agora, pela Suprema Corte (de maioria republicana), de assegurar um julgamento para além das cortes militares. E não foram conseqüência de um súbito ataque de dignidade no Judiciário, mas das pressões populares internacionais.
As denúncias de tortura foram convenientemente esquecidas, a despeito da promessa de apurá-las e punir os responsáveis. Retornaram agora com as revelações feitas pela imprensa que além de afogamentos simulados, tapas nos rostos dos presos e outras humilhações, os “libertadores” e combatentes contra “o terrorismo”, usavam moto serras para os interrogatórios, ameaçando serrar partes dos corpos dos detidos.
Já foram, essas denúncias, jogadas para um canto.
A decisão de usar e ampliar sete bases militares na Colômbia, país governado por um narcotraficante (denúncias do DEA – departamento de combate às drogas nos EUA), com o fim de encurralar, cercar e intimidar a Venezuela, dentro dos objetivos de controle da Amazônia e da América Latina como um todo, vão em direção contrária ao que o candidato Barack Obama disse em sua campanha.
É uma decisão que soa como tomada por um presidente terrorista, o que foi George Bush.
São encruzilhadas de Obama, ou presumo que sejam. Podem ser também o Obama real, ou o Obama incapaz de se impor como presidente do seu país. E se assim o for, o papel que exerce é bem pior que ridículo. Joga por terra o que, nos Estados Unidos, significa a eleição de um presidente supostamente negro. Levando em conta a história da luta pelos direitos civis.
A queda nos índices de popularidade do presidente refletem isso. De repente o cidadão comum nos EUA percebe que não existe essa história de Superman e elegeu apenas um blefe.
Um produto de marketing. David Leterman, um importante jornalista dos EUA (Jô Soares copiou o programa dele in totum, sem tirar nem por), fez críticas pesadas ao plano de saúde de Obama e indicou que o caminho para o cidadão norte-americano poder pagar a saúde pública é o aeroporto. Michael Moore já havia mostrado isso num documentário. Nem um e nem outro são homens de esquerda, ou podem ser chamados de “terroristas”.
As elites venezuelanas referem-se ao presidente Hugo Chávez como “macaco”. Chávez é o que alguns chamam de mestiço, traços de branco e de indígenas. E nem vai aqui nenhum juízo de mérito do governo Chávez. Só um a constatação sobre o caráter das elites venezuelanas, elites econômicas e políticas, que é o mesmo em qualquer país da América Latina. Não difere do preconceito de barões paulistas e latifundiários nordestinos, ou arianos sulistas contra Lula.
No caso específico do brasileiro, Fernando Henrique Cardoso disse quando da eleição de Lula que “ele nem sabe falar inglês”. Uma obra da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders, toda ela montada em cima de documentos oficiais, “quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura”, lançada no Brasil pela editora Record, mostra como a Fundação Ford comprou, literalmente comprou, o ex-presidente do Brasil, o que fala inglês.
Milhões de dólares para um cabo Anselmo com patente de presidente e que vendeu o País a preço de banana.
As decisões de Obama trazem para a América Latina, a América do Sul particularmente, a perspectiva de um processo crescente de militarização e a médio prazo de conflitos armados.
O fracasso da ALCA – ALIANÇA DE LIVRE COMÉRCIO DAS AMÉRICAS –, uma costura fechada entre os ex-presidentes Bil Clinton e FHC, à época que trocavam figurinhas como presidentes de seus países, levou os EUA a uma estratégia simples, dividir para conquistar. Tratados bi-laterais de livre comércio (O NAFTA – México, EUA e Canadá transformou o México numa província de quinta-categoria, pressões sobre governos como o da Venezuela, do Equador, da Bolívia, ações golpistas concretas nesses países e controle absoluto do governo colombiano através do aliado narcotraficante Álvaro Uribe.
A integração latino-americana, a ALBA, a criação de agências fomentadoras de desenvolvimento e programas sociais, ao arrepio das instituições controladas pelos EUA (Banco Mundial e FMI) irritam, vamos dizer assim, os EUA.
A Colômbia hoje não é uma nação soberana. É um país ocupado pelos EUA. Base para operações militares golpistas e intervencionistas em países latino-americanos, a Venezuela como alvo principal.
O golpe em Honduras foi a reação que soa como aviso a países que eventualmente imaginem construírem-se em torno das aspirações de seus povos.
Obama não fez e nem vai fazer nada para modificar essa situação. Republicanos são areia e democratas são vaselina. No caso de Obama nem isso. Aproveita o resto de areia do governo Bush. Mesmo porque não governa coisa alguma, nem mesmo a Casa Branca.
O Brasil é estratégico, de importância capital para os EUA e seu projeto político com vistas a América Latina. Da mesma forma que compraram, ainda no período da ditadura militar, o falso exilado Fernando ANSELMO Henrique Cardoso, montaram toda uma estrutura de ações para controle do nosso País. Vai desde os grandes grupos econômicos, o latifúndio e banqueiros, boa parte das forças armadas cujo compromisso democrático costuma voltar-se para as ordens de Washington, ao varejo, como deputados, senadores (o pastel Eduardo Azeredo é um deles) e preparam-se para disputar as eleições presidenciais com José Serra, doublé de FHC, ora no governo de um país vizinho que fala a mesma língua, São Paulo.
Têm o controle dos principais veículos de comunicação de massa.
Nesse tipo de análise aqui não cabe entrar no mérito do governo Lula. São muitos erros, evidente, mas existe uma reação mínima a esse projeto recolonizador vindo dos EUA.
A decisão tomada pelo governo brasileiro sobre o pré-sal é um exemplo disso. Equilibra aqui, equilibra ali, mas assegura o controle dessa riqueza.
A propósito, no Fórum Social Mundial de 2003, pouco antes da invasão do Iraque, uma freira católica, iraquiana, irmã Sherine, disse o seguinte numa fala a mais de quinze mil pessoas: “a nossa maior riqueza é a nossa maior desgraça, pois traz a cobiça dos nossos piores inimigos, o demônio capitalista”. Falava do petróleo, verdadeiro motivo da ocupação do Iraque.
O Brasil, hoje, é um alvo. Pelo petróleo e pelo seu significado, sua importância na América Latina.
Ao que tudo indica Obama já se rendeu às suas encruzilhadas e contenta-se em servir cerveja, limpar a sujeira do cachorro e tirar férias numa ilha paradisíaca. Vai seguir, está seguindo, os caminhos brutais e dominadores do império. De qualquer império, historicamente é uma realidade. Os britânicos, antes de serem colônia dos EUA, diziam que “no império britânico o sol não se põe”.
As bases militares na Colômbia, o golpe em Honduras, o cerco a Chávez e as tentativas de desestabilização de governos soberanos e populares, o bloqueio, mantido, contra Cuba, todo esse conjunto de operações (são fatos, mas decorrentes de operações golpistas), culminam no propósito de dominar e controlar o governo brasileiro, como no tempo de FHC. José Serra é o homem de Washington.
É a etapa final dos caminhos de Obama. O retrocesso latino-americano. A volta da América Latina como latrina. Não foi por acaso que ingleses mandaram lixo para cá, nos consideram como tal.
É uma luta de resistência a que tem que ser travada. Não passa pelo institucional, esse é mero instrumento e em determinados momentos, pois está, no seu todo, a serviço de Washington, mas não passa também por entregar o executivo a José ANSELMO Serra. Essa é uma decisão que cabe aos brasileiros.
E passa, muito importante, por perceber, que como em 1964, temos aqui uma elite econômica e política podre e apátrida. E um desafio gigantesco. O da comunicação. Controlam os veículos mais importantes do Brasil, de vários países latino-americanos (Chávez começou a neutralizar essa invasão). Transformaram a comunicação numa espécie de fábrica de Homer Simpson, como disse um dos agentes deles.
Essa percepção é outro caminho. É o caminho da luta popular.
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