segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A REVISTA VEJA E O MST - Laerte Braga


Entender o papel que a revista (com o perdão da palavra) VEJA cumpre dentro dos “negócios” no Brasil é simples. Assim como receber a tarefa de escrever sobre o martírio de Cristo na sexta-feira santa e ficar aguardando a determinação do dono sobre se é para ser contra ou a favor.
Revistas como VEJA, ÉPOCA e jornais como O GLOBO, FOLHA DE SÃO PAULO, ou redes de tevê nacionais, a grande mídia de um modo absoluto, são instrumentos da classe dominante. Não importam os fatos, mas a versão. E quem paga. São sempre os donos que pagam.

Esse não é um fenômeno só do Brasil. Governos latino-americanos como o do presidente Hugo Chávez enfrentam o desafio de vencer essa batalha, a maior dentre todas na luta popular. A da comunicação.

A revista VEJA dedica-se em sua última edição a tentar transformar o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) numa versão brasileira da Al Qaeda. Não é a primeira vez que faz isso. Em 1999, com os recursos que a tecnologia permite, publicou a foto do líder do movimento, João Pedro Stedille sugerindo-o um demônio.

Estão ali acusações de desvio de recursos de programas do Governo Federal para assentamentos, denúncias de fartos recursos a partir de fartas transferências do governo Lula, tudo num único objetivo, o de evitar a discussão e o debate de questões fundamentais como a reforma agrária, a política agrícola de favorecimento ao agronegócio e agora, especificamente, a revisão e atualização dos índices de produtividade. É uma determinação legal e deve ser feita de dez em dez anos.

Quando o delegado Protógenes Queiroz prendeu o banqueiro Daniel Dantas, parceiro de FHC e patrão de Gilmar Mendes (que já cobrou, de forma intempestiva do governo providências contra o MST) VEJA tratou de desmoralizar a ação do delegado afirmando que havia uma série de escutas ilegais feitas no gabinete de Gilmar e revelou uma delas, uma suposta conversa com o senador Heráclito Fortes, um dos integrantes da grande quadrilha tucano/DEMocrata. As gravações nunca apareceram pelo simples fato que nunca existiram. Foi só uma denúncia infundada, mentirosa e com o objetivo de desviar a atenção da opinião pública de todo o emaranhado de trapaças de Dantas. Por extensão, das arbitrariedades de Gilmar à frente do STF DANTAS INCORPORARION LTD (antiga suprema corte).

À época do acidente com o Airbus da TAM que matou centenas de pessoas, ao perceber que a tática da GLOBO de incriminar e culpar o governo por conta de “irregularidades” nas pistas do aeroporto de Congonhas falhara, estavam começando a aparecer as irregularidades sim, mas na aeronave, na manutenção, nos cuidados da empresa com seus aviões, saiu com uma capa sórdida atribuindo a culpa ao piloto. “O PILOTO É O CULPADO”.

É óbvio, a TAM é uma das co-proprietárias da mídia brasileira. Vale dizer patrocinadora. Tem aquele negócio de jornalistas amigos voarem de graça, ganhar passagem para si e família em reconhecimento aos “serviços prestados”, essas coisas assim, corriqueiras no mundo dos “negócios”.

Como o emprego que Gilmar Mendes deu a Heraldo Pereira (que aparece com pinta de jornalista sério, íntegro nos noticiários da GLOBO) em troca do silêncio sobre um monte de coisas.

Kátia Abreu é uma senadora do DEM do estado de Tocantins. Latifundiária, defensora do trabalho escravo e especialista em desviar recursos públicos para suas campanhas eleitorais. É alvo de investigações da Polícia Federal sobre isso. Recursos desviados da Confederação Nacional da Agricultura para custear sua eleição.

Chantagista. Fez ver ao governo Lula que se o governo fizer a revisão dos índices de produtividade como prometido ao MST e em obediência à lei, perderia o voto dos deputados da chamada bancada ruralista (latifundiários) no Congresso Nacional.

Como o governo Lula não é de ferro, sentou em cima. Nem lá e nem cá. Kátia Abreu foi mais longe. Quer uma CPI do MST. Um palco onde possa exibir a farsa do agronegócio, do latifúndio, do trabalho escravo transformados em progresso, em gerador de empregos, de riquezas e o MST como o grande monstro do atraso ávido de devorar verbas publicas, comer criancinhas e matar idosos.

Faz parte do jeito da senhora em questão achar que todo mundo é igual a ela, ou que todos os brasileiros são senadores e vivem de atos secretos.

VEJA é parte do processo. Entra em seguida no palco e num folhetim de quinta categoria, apresenta o “bandido” da novela, o MST. Com certeza verbas públicas da Confederação Nacional da Agricultura (dos latifundiários) ou outra organização dessas especializadas em lavar dinheiro vão pagar a matéria “jornalística”.

É o modelo de vida onde o espetáculo funciona como fator determinante de tudo e em função do mercado, um deus inventado e cultuado desde o primeiro momento da vida, quando se instalou a luta de classes – opressores e oprimidos, exploradores e explorados –. O que varia é a forma. O jeito e isso é uma decorrência do aperfeiçoamento dos garrotes do latifúndio.

O que incomoda essa gente é que revistos os índices de produtividade, como determina a lei, cai por terra a grande mentira do agronegócio como mola propulsora da economia e prosperidade do País. Essa revisão traz como conseqüência a perspectiva de ações de governo no campo da reforma agrária que contrariam interesses do latifúndio, logo de VEJA, um dos porta-vozes dessa máfia.

Essa impostura esconde uma outra realidade para além do trabalho escravo, do uso da terra como fator de especulação. A que os responsáveis pelo alimento sadio que vai à mesa dos brasileiros no dia a dia são os pequenos e médios produtores rurais.

Para o agronegócio a questão não é saber se a porcaria transgênica mata a soberania nacional na agricultura, no campo alimentar e “alimenta” pessoas. É atender a interesses da MONSANTO, uma das principais acionistas do Estado brasileiro e assegurar o modelo político, econômico e social perverso e cruel que o latifúndio e esse conjunto de “negócios” geram no Brasil e nos chamados países emergentes.

O papel de VEJA, beneficiária de vários contratos fraudulentos no fornecimento de livros didáticos a governos como o de FHC e agora José Serra em São Paulo, é vender essa mentira travestida de espetáculo de falsa indignação (muito bem remunerada).

Não importa que centenas de milhares de trabalhadores rurais trabalhem em condições escravas. Não importa que a concentração da terra em mãos de gente como Kátia Abreu gere fome, transforme o País numa república de banana (lógico, elites econômicas são apátridas), levam em conta apenas e tão somente os “negócios”. O “negócio” de
VEJA é transformar um crime em ação legal, patriótica (“último refúgio dos canalhas”) e fazer crer que a luta popular é ação corrupta e terrorista.

O alvo preferencial é o MST. Ignoram, porque lhes convém que seja assim, o trabalho do movimento no campo da educação. Os resultados limpos dos muitos assentamentos produzindo alimentos limpos e condições de existência, coexistência e convivência dignas e humanas a trabalhadores e pequenos proprietários rurais.

E aí a mais importante tarefa de VEJA. A de desinformar, mentir, alienar, principalmente alienar, seja pelo medo que infunde as pessoas, ou pelo espetáculo que o deus mercado proporciona transformando a todos em escravos de um modelo político e econômico falido.

E quando VEJA é insuficiente matam. Como fizeram com Chico Mendes, com a irmã Dorothy e centenas de líderes e trabalhadores rurais. Muitas vezes massacram o que fizeram em Eldorado do Carajás.




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