Eu estive com Dom Eugênio - Vanderley Caixe
Antônio Canuto
Jornalista e Secretário da Coordenação Nacional da
CPT - Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Adital
Nestes dias muito se tem escrito sobre Dom Eugênio de Araujo Salles;
sobretudo, muito se tem falado sobre sua ação em defesa de perseguidos
políticos. Na esteira deste debate eu também quero participar, pois estive com
ele, em dezembro de 1975, enviado por Dom Pedro Casaldáliga e toda a equipe de
pastoral da Prelazia de São Félix do Araguaia que estava reunida para tentar me
avistar com o Pe. Francisco Jentel que estava preso, aguardando o decreto de sua
expulsão do Brasil. Dom Eugênio era a única pessoa que tinha acesso a ele.
Cheguei ao Rio de Janeiro no dia 15 de dezembro e no final da tarde, começo da noite, estive em sua residência. Apresentei-me como enviado pelo bispo de São Félix e a equipe de pastoral e lhe manifestei o desejo de encontrar-me com o Pe. Jentel para dizer-lhe que a Prelazia toda o estava acompanhando naquele momento. Sua resposta:
- Vou telefonar para o ministro da Justiça dizendo-lhe que o senhor está me acompanhando.
Como naquele tempo se caçavam até fantasmas, ponderei que talvez não fosse o melhor eu tentar ver Jentel pessoalmente. Então lhe disse:
- Vou escrever uma carta a ele dizendo que estou aqui no Rio, em nome da Prelazia e que todos o acompanham com preocupação e orações.
Ele disse:
- Vou telefonar para o ministro da Justiça para dizer-lhe que estou levando esta carta.
Então lhe perguntei se tinha que dar satisfação ao Ministro da Justiça do que conversava com o preso. Acenou que não. Então, pedi-lhe para que desse o recado de que a Prelazia havia me enviado para de certa forma acompanhá-lo naquela hora.
Naquela mesma noite foi assinado o Decreto de Expulsão e Jentel foi embarcado de volta para a França, no dia seguinte, 16 de dezembro de 1975.
Quem era o Pe. Francisco Jentel?
Era um padre francês, que veio ao Brasil no final de 1954. Viveu 10 anos com os índios Tapirapé, em sua aldeia, e a partir de 1964, em Santa Terezinha, um pequeno povoado de sertanejos, no nordeste de Mato Grosso. Era o tempo em que se instalavam as grandes empresas agropecuárias, apoiadas pela Sudam e que dispunham dos recursos dos incentivos fiscais para seus "projetos de desenvolvimento”. Em Santa Terezinha estabelecia-se a Codeara, do Banco de Crédito Nacional, que tentou expulsar as famílias de posseiros de suas terras e impôs um plano de urbanização do povoado, desconhecendo o que existia. Estava armado o conflito. O Pe. Jentel posicionou-se ao lado das famílias sertanejas na defesa de seus direitos. Por isso foi muitas vezes denunciado como agitador e comunista. Em 1972, houve um enfrentamento da fazenda, apoiada pela Policia Militar do Mato Grosso com os posseiros. Alguns jagunços da empresa saíram feridos. A repressão foi grande e o Pe. Jentel foi denunciado por atentar contra a Segurança Nacional. Foi julgado pela Justiça Militar de Campo Grande, MS, e condenado a 10 anos de reclusão. Ficou preso um ano. No julgamento da apelação o Superior Tribunal Militar, STM, se declarou incompetente, por não se tratar de crime contra a Segurança Nacional. Mas foi feito um conchavo de tal forma que o STM absolveria o padre, mas este deveria espontaneamente deixar o país. Foi o que aconteceu.
No final de 1975, Jentel regressou ao Brasil. Para demonstrar que não era nenhum clandestino, desembarcou em Brasília, e foi a Fortaleza para se avistar com o presidente da CNBB, Dom Aloísio Lorscheider. Na manhã do dia 12 de dezembro, ao sair da casa do arcebispo, foi sequestrado na rua e embarcado para o Rio de Janeiro, onde ficou aguardando o decreto de expulsão. Neste período em que esteve no Rio é que Dom Eugênio tinha contato com ele.
É importante destacar neste caso, que o juiz civil da Justiça Militar, Plínio Barbosa Martins. em seu voto vencido disse textualmente: "Não me importam as pressões dos que ditam caminhos a ser seguidos... Na maneira de se conduzir do Pe. Jentel, entrevejo um exemplo cristão a ser seguido... Jentel merece um prêmio, não a prisão”.
No contato com Dom Eugênio, não vi nenhum gesto, nenhum sinal, nenhuma palavra que demonstrasse contrariedade, muito menos inconformidade com a situação do padre que estava para ser expulso. Mais que isso. No rápido diálogo que tivemos demonstrou seu desagrado com os escritos de Pedro Casaldáliga. (Não fazia muito tempo, havia sido lançado um livro de poemas do Pedro, prefaciado por Ernesto Cardenal, que a certa altura dizia que o Brasil era "governado por decrépitos generais”). Dom Eugênio me disse:
- Se fosse eu o presidente, o teria expulso
Cheguei ao Rio de Janeiro no dia 15 de dezembro e no final da tarde, começo da noite, estive em sua residência. Apresentei-me como enviado pelo bispo de São Félix e a equipe de pastoral e lhe manifestei o desejo de encontrar-me com o Pe. Jentel para dizer-lhe que a Prelazia toda o estava acompanhando naquele momento. Sua resposta:
- Vou telefonar para o ministro da Justiça dizendo-lhe que o senhor está me acompanhando.
Como naquele tempo se caçavam até fantasmas, ponderei que talvez não fosse o melhor eu tentar ver Jentel pessoalmente. Então lhe disse:
- Vou escrever uma carta a ele dizendo que estou aqui no Rio, em nome da Prelazia e que todos o acompanham com preocupação e orações.
Ele disse:
- Vou telefonar para o ministro da Justiça para dizer-lhe que estou levando esta carta.
Então lhe perguntei se tinha que dar satisfação ao Ministro da Justiça do que conversava com o preso. Acenou que não. Então, pedi-lhe para que desse o recado de que a Prelazia havia me enviado para de certa forma acompanhá-lo naquela hora.
Naquela mesma noite foi assinado o Decreto de Expulsão e Jentel foi embarcado de volta para a França, no dia seguinte, 16 de dezembro de 1975.
Quem era o Pe. Francisco Jentel?
Era um padre francês, que veio ao Brasil no final de 1954. Viveu 10 anos com os índios Tapirapé, em sua aldeia, e a partir de 1964, em Santa Terezinha, um pequeno povoado de sertanejos, no nordeste de Mato Grosso. Era o tempo em que se instalavam as grandes empresas agropecuárias, apoiadas pela Sudam e que dispunham dos recursos dos incentivos fiscais para seus "projetos de desenvolvimento”. Em Santa Terezinha estabelecia-se a Codeara, do Banco de Crédito Nacional, que tentou expulsar as famílias de posseiros de suas terras e impôs um plano de urbanização do povoado, desconhecendo o que existia. Estava armado o conflito. O Pe. Jentel posicionou-se ao lado das famílias sertanejas na defesa de seus direitos. Por isso foi muitas vezes denunciado como agitador e comunista. Em 1972, houve um enfrentamento da fazenda, apoiada pela Policia Militar do Mato Grosso com os posseiros. Alguns jagunços da empresa saíram feridos. A repressão foi grande e o Pe. Jentel foi denunciado por atentar contra a Segurança Nacional. Foi julgado pela Justiça Militar de Campo Grande, MS, e condenado a 10 anos de reclusão. Ficou preso um ano. No julgamento da apelação o Superior Tribunal Militar, STM, se declarou incompetente, por não se tratar de crime contra a Segurança Nacional. Mas foi feito um conchavo de tal forma que o STM absolveria o padre, mas este deveria espontaneamente deixar o país. Foi o que aconteceu.
No final de 1975, Jentel regressou ao Brasil. Para demonstrar que não era nenhum clandestino, desembarcou em Brasília, e foi a Fortaleza para se avistar com o presidente da CNBB, Dom Aloísio Lorscheider. Na manhã do dia 12 de dezembro, ao sair da casa do arcebispo, foi sequestrado na rua e embarcado para o Rio de Janeiro, onde ficou aguardando o decreto de expulsão. Neste período em que esteve no Rio é que Dom Eugênio tinha contato com ele.
É importante destacar neste caso, que o juiz civil da Justiça Militar, Plínio Barbosa Martins. em seu voto vencido disse textualmente: "Não me importam as pressões dos que ditam caminhos a ser seguidos... Na maneira de se conduzir do Pe. Jentel, entrevejo um exemplo cristão a ser seguido... Jentel merece um prêmio, não a prisão”.
No contato com Dom Eugênio, não vi nenhum gesto, nenhum sinal, nenhuma palavra que demonstrasse contrariedade, muito menos inconformidade com a situação do padre que estava para ser expulso. Mais que isso. No rápido diálogo que tivemos demonstrou seu desagrado com os escritos de Pedro Casaldáliga. (Não fazia muito tempo, havia sido lançado um livro de poemas do Pedro, prefaciado por Ernesto Cardenal, que a certa altura dizia que o Brasil era "governado por decrépitos generais”). Dom Eugênio me disse:
- Se fosse eu o presidente, o teria expulso
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