Está o Brasil a passar por uma quadra de grandes dificuldades
que, não nos iludamos, trarão conseqüências muito amargas para o povo
brasileiro, e muito desastrosas para a soberania nacional.
Assiste-se, através dos meios de comunicação de massa, ao
desfile permanente de atos e fatos que ferem nossos sentimentos, chocam a moral
comum, agridem os direitos do cidadão, ofendem o Estado e escarnecem da Justiça
- e a nação se assusta.
Policiais formam quadrilhas, juízes atribuem DAS às suas
cozinheiras, políticos vendem seus votos, governantes criam esquemas de
corrupção - e o país se choca.
A transgressão se torna hábito, é elogiada e, por vezes, é
premiada; a certeza da impunidade anima até mesmo os covardes a transgredirem a
lei, e a chamada "Lei de Gerson" não diferencia os marginais dos honestos, mas
os espertos dos panacas - e a moral declina.
Grupos de assassinos dominam os presídios, o tráfico de drogas
chega a níveis absurdos e quadrilhas controlam as favelas, onde a polícia não
ousa entrar - e o Brasil treme.
Jovens tornam-se mães solteiras com idades cada vez mais
baixas, crianças vão para as ruas em número cada vez maior, pivetes assaltam em
impunidade cada vez mais debochada e pobres morrem à falta de remédios cada vez
mais caros - e a nação se debilita.
Gangues fazem "arrastões" nas praias e nos centros comerciais;
sensação de segurança desaparece atrás das grades que se multiplicam ao longo
das calçadas, invertendo a ordem social e enclausurando o homem de bem; o
cidadão comum não sai à rua e o turista não vem ao Brasil - e o país se
envergonha.
Agricultores perdem parte das colheitas por falta de
transporte; estradas esburacadas levam a portos obsoletos controlados por uma
estiva que só quer ganho absurdo sem suor; navios brasileiros são arrestados no
estrangeiro e o comércio internacional procura outros parceiros - e o Brasil
fica mais pobre.
O Governo cede às pressões de organismos estrangeiros e
atropela a Constituição para criar reservas indígenas de características
temerárias; grupos internacionais, dominados pelas grandes potências,
estabelecem controles e impõem acordos que tolhem o nosso desenvolvimento
tecnológico - e o Brasil se apequena.
As Forças Armadas sofrem um processo de desprestígio e de
esvaziamento moral e material: os navios não se fazem ao mar, os aviões não
voam, a tropa não se exercita - e perdemos a operacionalidade.
O Primeiro Mundo evoca doutrinas como a "Nova Ordem Mundial" e a "Soberania Limitada" ou "Soberania Compartilhada"; ganham corpo as idéias de redução dos efetivos militares e de emprego das Forças Armadas no combate ao narcotráfico - o Brasil enfraquece. Nossa soberania está ameaçada!
Sabemos todos que a Soberania de um país é garantida pelo seu
Poder Nacional, figura que integra as expressões política, econômica,
psico-social e militar. Dentro deste conceito, analisemos friamente o momento
nacional. A conclusão é óbvia: nem uma só dessas expressões está sequer
medianamente saudável; pior, o Brasil está vulnerável.
Parte das elites apodreceu pela corrupção, aprofunda-se a recessão econômica, o povo não confia e tem medo, as Forças Armadas perderam a capacidade de dissuasão. Nossa soberania está ameaçada!
O Estado se faz cada vez mais ausente; o Congresso elegeu a
semana de três dias um costume eticamente correto; o Judiciário, moroso, mais
defende os direitos humanos dos bandidos, do que garante a Justiça para os
homens de bem. Aqueles que deveriam dar exemplo não o fazem. E o homem do povo,
aturdido, se pergunta por que só ele tem que ser honesto.
Não nos iludamos: o Brasil vai mal. E não fiquemos a imaginar que virá ajuda de fora. Precisamos acordar para o fato de que, por ser muito grande e muito rico, o Brasil sempre foi visto pelos países mais desenvolvidos como uma ameaça potencial. Muitas nações poderosas veriam com alívio a desintegração do nosso Poder Nacional e a nossa viagem sem volta ao Quarto Mundo. Precisamos reagir! Precisamos reafirmar a nossa Soberania!
Editorial da Revista do Clube Militar nº 307, de
1992
Cel. Eri Maia Gonçalves
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quarta-feira, 18 de julho de 2012
Soberania Ameaçada - Haroldo Oliveira
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