domingo, 23 de agosto de 2009

[Carta O BERRO] Os Arns: o virtuoso e o sandeu - O PT é um partido sem mídia. O PSDB é uma mídia com partido - Mauro Carrara

Conheci o virtuoso pessoalmente, na década de 70. Eu era clandestino aqui e fingia ser ninguém na Itália.
Eu tinha muito nomes, utilizados para manter a integridade numa época em que eletrochoques, afogamentos e assassinatos faziam parte da disputa política.
Dom Paulo Evaristo Arns me pareceu um sujeito prático, menos místico do que eu imaginava. Resolvia as coisas com rapidez, movido por um evoluído senso de “redução de danos”.
Quanto menos gente morresse, melhor.
Arns, o virtuoso, aprendera muito com o Concílio Vaticano II e com o altruísmo pragmático de João XXIII.
Meu interesse, à época, era jornalístico. Procurava divulgar no Exterior a resistência à Ditadura na América Latina.
Nas duas entrevistas, acabamos por falar muito sobre nossa paixão comum, o Corinthians, que nos Anos de Chumbo simplesmente não ganhava nada.
Arns, o virtuoso, tinha uma paixão pelo povo sofrido, que ele via erguer a bandeira do clube dos operários, imigrantes e migrantes.

Nessas ocasiões, convenci-me de que o bom Arns era um homem de valores, ético de verdade. Nem de longe, todavia, me pareceu um moralista.

Por meio da Comissão Justiça e Paz e de outros movimentos, entabulou inúmeras conversações com os cafajestes que mantinham o regime de exceção.

Para poupar vidas, o arcebispo ofereceu mais que absolvição. Prometeu aos verdugos até mesmo o silêncio estratégico.

Como bom negociador, tirou muitas almas das garras do implacável general Milton Tavares de Souza, o Miltinho, homem forte do Centro de Informações do Exército (CIE) e Comandante do II Exército.

O Arns virtuoso (e inteligente) soube negociar com o general Golbery do Couto e Silva. Obviamente, efetuou trocas necessárias, táticas e que certamente seriam aprovadas pelo insurreto de Nazaré.

Ora, mas temos agora outro Arns na cena política. Este, o sandeu, já demonstrou inúmeras vezes que pouco conhece da história do tio.

Politicamente, o parlamentar paranaense, camarada de Álvaro Dias, mistura a vaidade e a ingenuidade. Adora o elogio fácil e a confetaria midiática.

Ao contrário do parente nobre, o discurso de Arns sandeu é ralo, pobre e tem como alicerces os clichês da ética ongolóide.

O Arns sandeu pouco conhece de estratégia política e pratica o moralismo hipócrita dos carolas pré-conciliares.

Não é à toa que esse Arns menor aninhou-se logo entre os rapineiros tucanos. Sua mísera cultura política obteve ali.

Um de seus grandes amigos é o bandalho Arthur Virgílio, o mais imundo dos representantes da Câmara Alta, que costuma santificar em seus discursos de sintaxe torta.

O sandeu moralista faz de conta que seu “chapa” nunca meteu a mão no bolso do contribuinte. Ao mesmo tempo, recusa-se a comentar a intervenção de Virgílio para salvar o comparsa Omar Aziz na CPI da exploração sexual de crianças e adolescentes.

Em Julho, pelos serviços prestados ao anti-lulismo, o Arns sandeu chegou a ser indicado pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra, para ocupar o lugar de Sarney na presidência do Senado, episódio decisivo para convertê-lo em um dos protagonistas do movimento golpista.

Arns, o sandeu, faz de conta que Lina não é pau-mandado, que Agripinos e Tassos são vestais e que a fonte de todos os males do Brasil é o partido (mudo) do operário.

Talvez, o Arns duas caras não seja apenas sandeu, mas também cínico. Saudações à crise, que nos revela o melhor e o pior das pessoas. Saudações ao Arns virtuoso, e que este reserve uma oração ao sandeu.

O caso Lina: as mentiras insinceras



Luis Nassif



Estou para ver episódio mais surreal do que esse super-factóide criado pela mídia em torno da ex-Secretária da Receita, Lina Vieira - que afirmou ter mantido um encontro reservado com a Ministra Dilma Rousseff, onde lhe teria sido solicitado apressar o inquérito sobre o filho do senador José Sarney.

A Casa Civil é o órgão mais importante de qualquer governo, porque é por lá que passam todos os projetos de lei, portarias, medidas administrativas, para que sejam avaliadas sua legalidade, sua relevância para o governo etc.

A primeira coisa que Lina fez, quando indicada Secretária, foi providenciar uma visita à Casa Civil, não para uma audiência com Dilma, mas com secretarias de lá, com as quais teria que conviver. Por aí pode-se entender o peso de qualquer pedido emanado da Casa Civil.

O episódio do suposto encontro entre ela e Dilma foi tão insólito, que desenvolveram-se duas versões sobre o caso.

A primeira, dos que achavam que qualquer pedido de informação da Casa Civil - mesmo não sendo uma interferência no processo (como a própria Lina admitiu), configuraria alguma espécie de irregularidade.

A segunda, dos que acham que é tão normal a Casa Civil pedir informações sobre processos internos que Dilma Rousseff deveria admitir que o encontro ocorreu e que seu procedimento foi absolutamente normal e legal.

Só tem um pequeno detalhe: e se o encontro não ocorreu? Dilma deveria endossar metade da mentira para desqualificar a segunda metade, a de que teria feito pedidos indevidos à ex-Secretária?

É a pátria de macunaíma.

Quais são os elementos que permitem sustentar que o encontro não ocorreu?

Quando Dilma desafiou Lina a indicar dia e hora, encerrou a questão. É como se fosse um jogo de poker em que um dos jogadores - Dilma - colocou todas as suas fichas na mesa, abriu suas cartas e desafiou o outro lado a mostrar as suas. E o outro lado recolheu suas fichas e não bancou a aposta, porque, com as cartas abertas, não podia mais blefar.

Se o encontro tivesse ocorrido, e a mídia acreditasse mesmo no que escreve, estaria feito sarna atrás de Lina para que mostrasse das seguintes cartas na manga:

1. Indicar dia e hora do encontro.

2. Indicar o nome do funcionário a quem ela pediu que levantasse os dados supostamente solicitados por Dilma.

3. Indicar o nome do motorista e o carro que a levou até o Palácio. Todo carro público tem um mapa com as viagens feitas.

4. Indicar nomes de pessoas que souberam, à época, da tal reunião.

No depoimento ela disse que não pediu para nenhum funcionário levantar as informações, não deu retorno a Dilma, não informou sequer seu marido dessa reunião absolutamente insólita.

Nenhum jornalista sério - e mesmo aqueles que faziam jogadas com Gilberto Miranda - deixaria de ir atrás dessas pistas se tivesse a mínima convicção de que a história é verdadeira.

Eles sabem que mentem. E mentem persistentemente, na frente de uma multidão cada vez maior de leitores que recorrem à Internet para confirmar se o que lêem nos jornais é mentira ou verdade.

Por Jorge

Atenção! Acabam de ser encontrados o grampo do áudio do Gilmar-Veja-Demóstenes e o original de papel da ficha “Dilma terrorista” da Folha: estavam na agenda da Lina.

Comentário

O nível de baboseira que esse episódio está gerando é campeão. Uma colega começa sua análise informando que Lina não apresentou uma evidência sequer de que teria havido o encontro com Dilma. No entanto, falou coisas muito pertinentes, sobre a importância da impessoalidade na atuação pública.

Minha Santa Maritaca, se não conseguiu comprovar que o encontro existiu, para quem foi a mensagem dela?

É ginástica permanente para atingir os objetivos que a empresa se propõe, atropelando a lógica e transformando pessoas inteligentes em seres semi-pensantes.

Fonte: http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/08/19/o-caso-lina-as-mentiras-insinceras/

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