terça-feira, 18 de agosto de 2009
ÍNDIO TEM QUE...- Ademario Ribeiro
Poema parido no constructo do meu sentimento ao participar da Conferência Indígena em Salvador e em outras caminhadas em porandubas e pensamentações com: Graça Graúna, Eliane Potiguara, Juvenal Payayá. Nádia Tupinambá, Jerry Matalawê, Ary Txay, Crisoston Terto Vilas Boas, Natalina e Yã Bomfim Ribeiro, Celene Fonseca, Heitor Kayowá, Oscar Charrúa, entre outr@s caminhantes que tanto me ensinam...
Índio tem que
botar o pé na massa
na estrada
na universidade
na ancestralidade
no tribunal
nas cotas!
Chega de pés em suas costas
ou de lhe virarem às costas
ou de lhe negarem as cotas
Índio tem que
botar p’ra correr
os que lhe roubam
- a mulher
- o filho
- as plantas
- as aves
- os bichos
- a terra
- a língua
- o sagrado
- o profano
- o sangue...
Índio tem que
se representar
não só se apresentar
como artistas natos
suas plumagens e pinturas e artesanatos...
índio tem que
sair da mata
fazer acontecer
porque senão
não vai acontecer...
Só vai acontecer
se índio
botar o pé
meter a borduna
botar o saber p’ra circular
contextualizar
retomar os rituais
a antropofagia
e meter a cara
a boca
dar a louca...
“Eles” meteram o pé
meteram a cruz
meteram as doenças
meteram o canhão
meteram o machado
meteram o trator
meteram as multinacionais
meteram a transposição
e são cheios de nhen-nhen-nhen!!!
Não somos a favor da revanche
nem à favor do desmanche
mas sabemos que o que era tudo teu
agora é de “todos” que aqui estão
e têm alguns que
já meteram a mão no rio,
no mar, na terra,
na lei, na bíblia, nos planaltos
e estão fazendo de tudo
para que “tudo” seja só deles
e há outros que deveriam ser
aliados como no passado de Pindorama
mas estão confusos pensando que
“a farinha é pouca...”
que é “tempo de murici...”
Mas eu digo que ainda é tempo
de mojar cecê! “unir o que foi cortado!”.
Nda s-ar-i abati ranhé!
“a espiga ainda não tem milho!”
Mas estamos no potyrõ:
nos adjutórios, mutirões
e é possível (ainda)
um pedaço p’ra tua gente
p’ra teu guri, curumim, mitã, kunhãtaí,
kybyra, anama, anakã ou ramuia!
Se um dia todos acordarem
deste sono que a serpente atiçou
ou da ganância voraz que a serpente envenenou
entenderemos que não precisamos partir,
apartar - e aí, virá o reino da yby mara-e’yma:
“a terra sem males” de todos os povos!
Índio tem que meter
Então que meta a sua meta
meta apito
meta borduna
meta o que puder
afinal, “eles” nunca tiveram pena de você.
Você até vestia e ainda veste pena
e pode despenar “eles”
e fazer um dabacuri
em pleno século XXI
ou você incorporou a pena cristã?!?!?!
A terra sem males está
para todos, enfim,
p’ra você,
p’ra “eles” e “elas”,
para juntos construirmos
os sonhos sonhados de todos os povos
do mundo inteiro!
este mundo é possível!
Não espere
não desespere
é só você continuar
neste movimento de pé ante pé
por aí, por aqui, por lá
em todo lugar
afirmando quem você é
o que você quer
porque você sabe quem você é
e sabe aonde quer chegar!
Índio tem que!
Abá am-iõ-te!
“Indio vai continuar de pé!”
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