Enrique Ortez Colindres, ministro das Relações Exteriores do governo golpista de Honduras, três ou quatro dias depois do golpe, em julho, referiu-se de forma jocosa e ofensiva ao presidente norte-americano Barack Obama como “el negrito”. Obama havia condenado de público o golpe contra o governo constitucional de Manuel Zelaya e Ortez Colindres estava, a seu juízo, colocando “el negrito” em seu devido lugar, ou seja, afirmando que em Honduras ele não mandava, mandava John McCain, republicano e candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2008 por Obama.
McCain foi um dos articuladores do golpe e é um dos mais radicais defensores do processo que se seguiu e culminou ontem nas eleições/fraude para a escolha de um novo presidente.
Está claro que se é não é McCain quem manda de fato como disse Colindres, com certeza Obama não apita nada. Só serve cerveja e pronto.
Hugo Llorens, embaixador dos EUA em Honduras (o mesmo que era embaixador na Venezuela quando da tentativa frustrada de golpe contra Chávez em 2002) permaneceu todo o domingo, dia das eleições, no mesmo hotel onde estavam os ministros do tribunal eleitoral superior hondurenho. E hoje continua lá, neste momento, tentando resolver o impasse em torno da fraude ser ou não anunciada diante do elevado índice de não comparecimento dos eleitores, mais de 70%. E outras coisas mais.
Um grupo de ministros resolveu entender que a fraude está de tal ordem, em tal tamanho, que vai ficar difícil descer goela abaixo, até pela mídia assim tipo GLOBO, que gosta de perguntar via William Bonner ser alguém quer bom dia, para em seguida pedir que escolham a gravata a ser usada no noticiário da noite.
É possível que se o impasse persistir convoquem a “especialista” Miriam Leitão e um jeito seja achado de imediato. A senhora em questão é cobra criada nesse negócio de matar milhões de gripe suína em função dos interesses de laboratórios fabricantes de medicamentos.
Hugo Llorens, com certeza, em canal direto com a base militar do seu país em Honduras, EUA, está vendo como fazer para legitimar a farsa/fraude e “convencer” os reticentes que qualquer problema os “mariners” garantem, de quebra uma grana extra para o futuro de todo o tribunal.
“El negrito” que, na verdade é “el branquito” descansa hoje. A Cervejaria Casa Branca não abre às segundas, exceto se os pedidos forem muitos, aí a demanda é favorável. Ou então em caso de emergência, para evitar redução no estoque de colônias. Em todo caso se 40 mil caixas de “mariners” foram enviadas ao Afeganistão para “completar o serviço”, acredita-se que além dos que já estão em Honduras, mais umas dez mil caixas dessa cerveja prá lá de amarga possam ir lá fazer o mesmo.
A defesa da legalidade constitucional não implica, necessariamente, na defesa de Manuel Zelaya. Zelaya é o presidente constitucional deposto por um golpe militar financiado, armado e planejado por elites econômicas, políticas do país e norte-americanos. A devolução do poder a Zelaya, a convocação de novas eleições, inclusive do referendo sobre se os hondurenhos desejam ou não uma nova constituição, transcende a Zelaya diante da evolução dos fatos e não o autoriza a nenhum acordo com golpistas em troco de anistia. O povo não se levantou e nem os elevados índices de ausentes ao pleito significam que se queira exclusivamente a volta de Zelaya.
A luta dos movimentos populares, da resistência hondurenha é mais ampla, muito maior, escora-se na busca de mudanças estruturais decisivas para que o país possa se por de fé diante do colonizador (norte-americanos), reafirmar sua independência de fato e direito e construir-se segundo a vontade popular.
A decisão de “el branquito” de assentar em cima de outras “decisões”, daquelas de quem de fato manda, tira a máscara de nação defensora de democracia, direitos humanos e mostra a face real do capitalismo com todos os seus cânceres, dentre eles o maior de todos, a exploração e a escravização de trabalhadores, a criação de uma nova Idade Média montada na tecnologia e no terror militar do capitalismo.Em todos os momentos, por lugar comum que seja, Fernando Pessoa tem sempre razão – “navegar é preciso, viver não é preciso”.
Honduras hoje é a síntese da luta popular na América Latina como um todo. Diz respeito a todos os povos dessa parte do mundo. A época dos golpes de estado ou dos governos corrompidos pelo capitalismo só vai se encerrar com luta popular permanente e sem medo de confrontos, que acabam sendo indispensáveis.
Numa eleição democrática o esquerdista e ex-tupamaro, preso político e torturado por treze anos, José “Pepe” Mujica, participante ativo da guerrilha contra a ditadura militar venceu o candidato de direita. Soma-se a Chávez, Evo Morales, Corrêa, Fuenes, Ortega, Lugo, igualmente de esquerda e a Lula e Cristina Kirchnner, de centro-esquerda. Tem sido o rumo desejado e manifesto pelos povos da América Latina em eleições normais. Completa e fortalece a resistência do povo cubano há 50 anos longe do capitalismo, a despeito do bloqueio desumano dos EUA.
Não há acordo possível com golpistas sob pena de se perder a referência da luta e transformar-se numa espécie de PT da vida, colocando em risco o processo de avanço e conquistas (não significa que não tenham e nem estejam acontecendo com Lula, a decisão de abrigar Zelaya é de coragem e é um exemplo) que permitam à América Latina integrar-se e refazer-se longe do tacão nazista do capitalismo norte-americano. Em todos os sentidos.
E se me refiro a um “capitalismo norte-americano”, não excluo ou diferencio-o do capitalismo em si, mas especifico aquele que transforma-se na chamada nova ordem mundial num império de proporções e dimensões mundiais, num espectro de barbárie sem precedentes na História, presumindo que de fato estejamos no século XXI e não nos primórdios da civilização.
Não se luta por eleições que legitimem farsas, mas pela construção democrática de um processo socialista que nos conduza, a nós latino-americanos, a independência e soberania reais e não só de papel.
É como aquele artigo da constituição que afirma que todos os brasileiros são iguais perante à lei”. Será que Daniel Dantas é igual a um trabalhador na ótica do “justiceiro” Gilmare Mendes (com dupla nacionalidade, brasileira e italiana)?
Zelaya é o centro de uma luta num determinado momento, se deixar de encarnar o espírito e a determinação do povo hondurenho, manifesto ontem na ausência em massa aos locais de votação, nos protestos e nas manifestações desde julho, nos muitos presos, torturados, nas mulheres estupradas e nos assassinados pelo regime de bestas/feras militares e elites econômicas, deixa de ser um símbolo, um momento, vira apenas um deles.
A luta, no entanto, essa não. É maior que ele, pois os hondurenhos neste momento lutam por toda a América Latina e povos oprimidos do mundo e é por eles que todos os lutadores continuam a lutar.
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