terça-feira, 17 de novembro de 2009

EU AJUDEI A DESTRUIR O RIO. - Laerte Braga

Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília , critica o "cinismo" dos jornalistas, artistas e intelectuais ao defenderem o fim do poder paralelo dos chefes do tráfico de drogas. Guedes desafia a todos que tanto se drogaram nas últimas décadas que venham a público assumir : "Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro".
Leia o artigo na íntegra.
D"Eles ajudaram a destruir o Rio".
É irônico que a classe artística e a categoria dos jornalistas estejam
agora na, por assim dizer, vanguarda da atual campanha contra a violência
enfrentada pelo Rio de Janeiro. Essa postura é produto do absoluto cinismo
de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo
declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de
drogas.

Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá
pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente. Pela classe média,
pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barezinhos
de Ipanema e Leblon.

Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob
o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.

Quanto mais glamoroso o ambiente, quanto mais supostamente
intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando
carreiras e carreiras do pó branco.

Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe artística (que
tanto se orgulham de serem, ambas, formadoras de opinião) de fato
contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da
cocaína, se disseminasse no seio da sociedade carioca e brasileira, por
extensão.

Achavam o máximo; era, como se costumava dizer, um barato.

Festa sem cocaína era festa careta. As pessoas curtiam a comodidade
proporcionada pelos fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a
necessidade de inconvenientes viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos
aos edifícios ricos do asfalto.

Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica de mercado
terminou. Onde há demanda, deve haver a necessária oferta.

E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua
dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das
drogas.

Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastacuera,
que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império,
tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de
quem ousa-lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da
impunidade.

Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em
que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é,
digamos assim, tolerado.

São doentes os que consomem. Não sabem o que fazem. Não têm controle
sobre seus atos. Destroem famílias, arrasam lares, destroçam futuros.

Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas
três últimas décadas, venham a público assumir:
*

*"Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro."*


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