terça-feira, 19 de maio de 2009

Galibi do Oiapoque - Gilberto Adamatti


Estado: AP.
População: 67
Nome
Como já se disse anteriormente, o nome Galibi era uma designação genérica utilizada pelos europeus para se referir aos povos de fala Caribe do litoral das Guianas.
Atualmente Galibi é a autodenominação do grupo que vive no rio Oiapoque e dos índios do mesmo povo que vivem na Guiana Francesa, nos rios Maroni e Mana. Os Galibi do Oiapoque designam os Galibi do Uaçá como Maroani (ou Marwôrno, Marawana).

Língua
Os Galibi mantém sua língua original, do tronco Caribe. Falam também o patoá, língua geral, utilizada nos contatos com a população regional da Guiana e com outros povos indígenas da área. Falam o português fluentemente e usam esta língua também para contatos externos, embora estes quase sempre sejam feitos em patoá.

Localização
A aldeia São José dos Galibi permanece onde foi instalada em 1950, quando o grupo chegou na área. Localiza-se na margem direita do rio Oiapoque, logo abaixo da cidade de St. Georges. Fica distante, em viagem com motor de 25 HP, cerca de 30 minutos de St. Georges. A distância até a cidade de Oiapoque é de uma hora e até Clevelândia de uma hora e meia.

A aldeia situa-se em um trecho de terra firme cercado de mata e próxima de uma pequena enseada de solo argiloso. Ocupa uma área de aproximadamente 250 por 400 metros, onde se encontram as casas, um pomar e as instalações do Posto e escola. Atualmente a aldeia é constituída de 7 casas familiais, habitadas em média por 4 a 6 pessoas.

População
Os Galibi do Oiapoque provém de uma das aldeias Galibi do rio Mana, na Guiana Francesa, de onde emigraram em 1950.

O grupo que se instalou no Brasil, compunha-se de 38 pessoas. Em 1964, aumentara para 64 pessoas. No decorrer dos primeiros 14 anos de estada no Brasil, se integraram nesta comunidade uma família Galibi do rio Mana, um índio Galibi do rio Uaçá, um índio Arawak da Guiana e um brasileiro, os dois últimos por motivo de casamento.

Em 1968, o mesmo grupo somava 68 pessoas e em 1973, 61.

A evolução da população Galibi do Oiapoque continuou, até o início dos anos 70, ligada às migrações entre o Oiapoque e o Mana, como também à entrada de estranhos e à saída de alguns jovens, da comunidade para os núcleos urbanos da área. Posteriormente, a tendência da saída dos jovens se acentuou.

Assim, atualmente, todos os filhos do líder Geraldo estão fora: 5 em Belém, um em Brasília e outra no ramal do Curipi, onde é professora. O irmão e a irmã de Geraldo, que residem na aldeia, também tem filhos fora, em Macapá. Na prática, os jovens que saíram para completar os estudos não voltaram à aldeia para morar.

Atualmente, vivem na aldeia do Oiapoque 5 famílias, num total de 23 pessoas, sendo 6 homens e 6 mulheres adultas, e 11 crianças.

Histórico do contato
A história antiga dos Galibi se encontra delineada no box "Os Galibi na Guiana Francesa". Os antepassados do atual grupo do Oiapoque viviam na Guiana Francesa, numa das aldeias do rio Mana. A migracão para o Oiapoque foi reconstituída por E. Arnaud (1966).

O grupo migrado provem da aldeia denominada Kuaxi, situada na foz do rio Mana onde, em 1941, havia uma população de aproximadamente 100 pessoas, distribuídas entre 22 famílias.

O atual grupo de São Jose dos Galibi, formado originalmente por 38 indivíduos, emigrou em agosto de 1950 para o território brasileiro, em conseqüência de dissenções internas ligadas ao xamanismo. Os dissidentes eram liderados por Geraldo Lod e empreenderam a viagem pela costa oceânica em 4 canoas e vela. "Primeiramente aportaram na cidade francesa de St. Georges. Mas logo no dia subseqüente à chegada, havendo obtido permissão do prefeito de Oiapoque, foram se estabelecer em uma gleba e margem direita do citado rio, entre os igarapés Morcego e Belle Cri" (Arnaud: 1966, 4). Permanecem até hoje nesta área, onde se instalaram há quase 30 anos; mantém relações constantes com a populacão regional, em St. Georges e Oiapoque, e também com a aldeia de negros de Saramaká na vila Tampak.

Mantêm contatos eventuais com os Galibi do Uac6. Por exemplo, deram apoio na época da demarcação da Reserva do Uac6, tendo o líder Geraldo Lod participado das assembléias indígenas do Kumarumã.

Modo de vida
Não há estudo aprofundado especificamente sobre o sistema social dos Galibi do Oiapoque. Encontram-se algumas considerações rápidas sobre os mecanismos de lideranca em Arnaud (1966). Há alguns estudos de maior f6lego, sobre aspectos da organização social dos Galibi na Guiana Francesa, de onde vieram os do Oiapoque.

O xamanismo continuava vivo ate a década de 60, sendo os pajés Galibi reputados e conhecidos entre todos os povos indígenas do Amapá, inclusive os Waiãpi do rio Amapari. Atualmente, entretanto, não há mais pajé atuante no grupo.

Com a evasão dos jovens, vários mecanismos tradicionais de reprodução da cultura se alteraram. A dança do turé -comum a todos os grupos da área Oiapoque/Uacá e tradicionalmente realizada na época da abertura das roças - é realizada atualmente no Ano Novo e na festa de São Pedro.

A subsistência provém basicamente da agricultura, os índios plantando mandioca, cará, batata, macacheira, banana, abacaxi, milho e tomate. As roças das várias famílias são abertas num mesmo lugar, a derrubada feita coletivamente e, posteriormente, são separados lotes para o plantio de cada família. Na aldeia há um grande laranjal para o consumo próprio e eventual venda.

A caça e a pesca compõem o resto da dieta alimentar, acrescidas de frutas de palmeira e outros produtos de coleta, como o cacau.

Os Galibi mantém também um pequeno rebanho de gado bovino, com 14 cabeças, doação de governo do território do Amapá. A farinha de mandioca constitui-se no principal produto comercializado sob encomenda, nas cidades de Oiapoque e Clevelândia.

O artesanato (trançados e pouca cerâmica) é feito apenas para uso do próprio grupo. do Amapa. A farinha de mandioca constitui-se no principal produto comercializado, sob encomenda, nas cidades de Oiapoque e Clevelândia.

O artesanato (trancados e pouca cerâmica) e feito apenas para use do próprio grupo.

Tutela e assistência
A aldeia São Jose dos Galibi é também sede do P. I. Galibi. A presença da FUNAI na área foi intermitente até 1978. Atualmente há um funcionário permanente, chefe do Posto, e não há atendente de enfermagem contratado. A infra-estrutura da FUNAI é composta da casa-sede, motor de luz, motor de popa, radiofonia e enfermaria.

Em 1981, a FUNAI implantou um "projeto de desenvolvimento", com roças comunitárias (de arroz, feijão e milho) a ser administrado pelos índios. A verba inicial foi de Cr$ 1.800.000,00 e a FUNAI forneceu também as sementes, os instrumentos agrícolas e mantimentos. O objetivo do projeto era promover a independência da comunidade. Avaliando o projeto, Geraldo criticou o fato dele ter vindo pronto de Brasília, sem consultar os índios. Segundo ele, esses projetos acabaram prejudicando o andamento das roças "particulares". Em 1981, o feijão apodreceu, o milho deu pouco e o arroz, cinco sacos.

A verba prevista para 1982, de Cr$ 3.200.000,00, saiu em janeiro de 1983 para melhorias na infra-estrutura do Pl. Entre todas as áreas indígenas do Oiapoque, essa foi a única a receber a verba prevista.
A FUNAI tem ainda planos de melhoria e reformas das instalações do P.I., incluindo um campo de pouso, e conclusão da canalização de água na aldeia, abertura de um poço e reforma da casa de farinha.Contudo as verbas para 82 não foram liberadas.

O líder da comunidade, Geraldo Lod, tem mantido firmes as reivindicações de autonomia diante da FUNAI local, o que implicou várias trocas de chefes de posto nos últimos anos, Ele reclama o direito de escolher e avaliar os funcionários. Além disso, não aceitou, juntamente com sua comunidade, participar do movimento de cooperativas iniciado pelo CIMI em 1975, apesar de participar de algumas assembléias de líderes em Kumarumã.

Os Serviços de Saúde entre os Galibi são desempenhados em parte pela FUNAI e em parte pela Secretaria da Saúde do território. A FUNAI remete periodicamente medicamentos e anualmente a EVS visita a aldeia. Mas foi o governo do território quem realizou, em1981, as vacinações Sabin, tríplice e antivariólica.

A doença mais freqüente que atinge o grupo é a gripe, não sendo possível detalhar o número de casos.
Não há muita malária na área, segundo informa G. Lod. A borrifação antimalárica é realizada de seis em seis meses, pela SUCAM.

A educação escolar é fornecida aos índios desde 1958, quando a Secretaria da Educação do território construiu uma escola na aldeia, mandando também professores. Um novo prédio foi construído em 1981. As crianças podem cursar nessa escola até o 2° ano primário.

Situação atual das terras
As terras ocupadas pelos Galibi, correspondendo basicamente ao território onde se instalaram em 1950 foram demarcadas recentemente e constituem a "Reserva Galibi", com uma superfície de 6.689,1928 ha, conforme portaria n° 1.369/E, de 24 de agosto de 1962, assinada pelo presidente da FUNAI. Posteriormente a demarcação foi homologada pelo decreto presidencial n° 87.845, de 22/11/1982, publicado pelo Diário Oficial de 24/11/82.

Embora o líder da comunidade Geraldo Lod faça questão de afirmar que, uma vez demarcada, essa área corresponde aos interesses dos Galibi, pode-se apurar que permanecem algumas pendências, com cinco famílias de lavradores que vivem na beira do igarapé Taparabu, dentro da reserva. No passado recente, em meados dos anos 70, o INCRA titulou as terras dos Galibi como propriedade particular em nome de Geraldo Lod. O imposto territorial a pagar, segundo Geraldo Lod, deveria ser dividido com as demais famílias de lavradores da área, o que originou desentendimentos. Em 1978, por ocasião de uma visita à área, o delegado da FUNAI na época, cel. Nogueira intercedeu junto ao INCRA e retirou a inscrição do "imóvel".

Anulada a questão a o imposto e demarcada a reserva, permanecem, entretanto, as famílias de lavradores (alguns casados com índias Karipuna) dentro da área indígena. Elas tinham prazo, dado pela Policia Federal, até o final de 82, para deixarem a área, embora Geraldo Lod aceite que duas delas permaneçam, como a de velho Gabriel, que ali vive há 50 anos.



Fonte:
- CENTRO ECUMÊNICO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO. Povos Indígenas no Brasil. São Paulo, 1983. p. 89-93.



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