domingo, 3 de maio de 2009

Ibope - Eduardo Guimarâes

Se eu fosse o presidente Lula, colocaria as barbas de molho no que tange aos institutos de pesquisa, porque, no ano que vêm, irão desempenhar a missão crucial de transmitir ao eleitorado a quantas anda a corrida eleitoral para os cargos de presidente da República, governador, senador, deputado federal e estadual, e o que relato a seguir mostrará que os institutos “da praça” são suspeitos.
http://edu.guim.blog.uol.com.br/

O blogueiro Ricardo Kotscho (linkado aqui neste blog) publicou, na última quarta-feira, detalhes de conversa que teve com Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope. A reprodução dessa conversa mostra comportamento para lá de partidário de quem dirige aquele instituto.

Notem que os dois maiores institutos de pesquisa do país (o próprio Ibope e o Datafolha, do grupo Folha) estão ligados à candidatura de José Serra à Presidência da República

Para ficarmos só no caso do Ibope, Montenegro, seu presidente, deu declarações absolutamente políticas a Kotscho. Declarações absurdamente facciosas e sem qualquer base científica. Reproduzo, a seguir, o relato do blogueiro sobre as declarações politiqueiras de Montenegro e, depois, teço meus comentários sobre elas.



* Dilma deve, num primeiro momento, manter os mesmos índices anteriores. A transferência de votos do presidente Lula para ela chegará mais adiante a um patamar de 15%. A partir daí, será difícil conquistar cada ponto a mais.

* O mesmo vale para qualquer outro candidato do governo na lista que será pesquisada para saber quem teria mais chances na eleição, caso Dilma seja obrigada a desistir da campanha, e Lula tenha que buscar outro nome. Tarso, Ciro, Palocci, Patrus, Haddad, qualquer um deles receberia o mesmo índice de transferência de votos e teria a mesma dificuldade para crescer a partir daí.

* A campanha de 2010 deverá mesmo ficar polarizada entre o candidato do governo e o candidato da oposição. Sem candidato, mais uma vez, o PMDB se dividiria meio a meio entre os dois lados da disputa. Ciro Gomes só seria candidato, em caso de desistência de Dilma, se for apoiado por Lula. Heloísa Helena e Cristovam Buarque desta vez não teriam espaço para suas candidaturas.

* O candidato da oposição será o tucano José Serra, do PSDB, que mantém seu amplo favoritismo na corrida presidencial e tem chances de vencer já no primeiro turno. As prévias do PSDB cobradas por Aécio Neves devem mesmo ficar para fevereiro, quando as pesquisas já devem apontar uma clara definição no quadro sucessário.

* A análise é a mesma feita antes das eleições municipais de 2008: assim como em 2002 era “a vez de Lula”, em 2010 será “a vez do Serra”, segundo Montenegro, e nada indica uma mudança brusca no cenário.

* Para ele, a “Era do PT” acabou no episódio do mensalão, que engoliu suas principais lideranças, embora o presidente Lula tenha mantido e até ampliado seu prestígio de lá para cá. Por isso, acredita que em 2010 não haverá nenhum nome do partido capaz de impedir a vitória de José Serra. Confrontado com os números das pesquisas em fevereiro de 2010, Aécio poderia escolher entre ser seu vice ou se candidatar ao Senado por Minas.

* Qualquer que seja o resultado da eleição e o efeito da crise econômica mundial no país, ele acredita que Lula deixará o Palácio do Planalto pela porta da frente, festejado pela população. “Ele já entrou para a História como um dos nossos três maiores presidentes da República, ao lado de Getúlio e Juscelino. Ninguém tem uma história igual à dele e a vida da maioria da população melhorou no governo do Lula, o país mudou”.



Até 2002, o Ibope tinha uma outra teoria político-eleitoral, de que Lula teria um “teto” de 30% do eleitorado que o impediria de chegar algum dia à Presidência da República. Essa teoria, veiculada pelo mesmo Montenegro, espalhou-se rapidamente e perdurou até que Lula a desmentisse elegendo-se com votação esmagadora sobre o mesmo José Serra.

Não há nada de científico na tese de Montenegro. Suas declarações são políticas. Está fazendo campanha para Serra valendo-se de profecias. Falta um ano e meio para a eleição presidencial. Tudo pode acontecer até lá. Até porque, a grande maioria do eleitorado ainda não tomou qualquer decisão eleitoral.

Os ataques incessantes da mídia a Lula e a Dilma Rousseff, a provável candidata do presidente à própria sucessão, revelam, inclusive, desespero de causa, com a divulgação de documentos falsos sobre a ministra, o que prova que a “certeza” da vitória do governador facistóide de São Paulo na eleição presidencial está muito longe de ser o o fato consumado que tentam criar.

Dizer que o PT acabou por causa do escândalo do mensalão é uma irresponsabilidade, partindo de alguém de quem se esperaria análise sóbria e científica dos fatos. Aliás, o crescimento do PT nas eleições municipais do ano passado desmoralizam completamente a tese delirante de Montenegro.

O presidente do Ibope se converteu em mero cabo eleitoral. Se fosse jornalista ou cientista político, tudo bem dar declarações como essa, ainda mais num cenário em que a imprensa se tornou um partido político. Só que ele dirige uma instituição da qual se exige total isenção política.

Como se não bastasse o Ibope, o Datafolha pertence à Folha de São Paulo, jornal que dispensa apresentações em termos de facciosismo político e sabugismo relativo a Serra.

Outro instituto de pesquisa de renome, o Sensus, faz pesquisas para a CNT (Confederação Nacional dos Transportes), dirigida por Clésio Andrade, político que já foi vice-governador ao lado do ex-governador tucano Eduardo Azeredo, outro que também dispensa apresentações por ter sido o precursor do uso dos favores de Marcos Valério.

Resta, de instituto de pesquisa renomado, o Vox Populi, que nos últimos anos saiu de cena por razões pouco explicadas.

Se o presidente Lula e seu partido não começarem a se mexer já, as pesquisas de intenção de voto serão usadas para tentar materializar essa absurda situação de fato consumado que Montenegro tenta criar.

Notem que ele antecipar que a divulgação da doença de Dilma Rousseff não mudará nada no cenário eleitoral é conduta de uma irresponsabilidade incompatível com alguém que dirige um instituto de pesquisas científicas. Ela pode, inclusive, ter sido prejudicada pela divulgação de sua doença. Montenegro pode estar certo, mas ele antecipa o que não se sabe cientificamente, ainda.

Mas o que o presidente da República e o PT podem fazer?, perguntarão vocês. É óbvio que podem – e devem – tratar não só de estimular a entrada em cena de algum instituto de pesquisa desvinculado de partidos (o Vox Populi?) como também de denunciar as ligações do Ibope e do Datafolha com o PSDB.

Quero lembrá-los de que, no fim de 2005, as pesquisas Ibope e Datafolha anunciavam sucessivas e pronunciadas quedas da popularidade de Lula “devido ao mensalão”. De repente, na mesma época, sai uma pesquisa CNT/Sensus que desmente os dois institutos e mostra a popularidade do presidente lá nas alturas. Meses depois, Lula se reelege com mais de 60% dos votos.

Contudo, dada a demora de Lula e de seu partido de rebaterem as acusações do PPS de que o governo federal pretenderia confiscar a poupança, vejo com preocupação a entrada explícita do Ibope na campanha eleitoral antecipada de José Serra, campanha que já conta com os maiores jornais, revistas e tevês do país.


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