domingo, 3 de maio de 2009
O PRESIDENTE DO IRÃ - Laerte Braga
Com 110 pessoas em sua comitiva chega ao Brasil na quarta-feira o presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad. Vem a convite do governo do presidente Lula. A visita de Ahmadinejad desagrada a norte-americanos e a israelenses. O governo de Israel convocou o embaixador brasileiro para “explicar” o que isso significa.
Há anos atrás, poucos meses antes do golpe de 1964, o ministro Celso Furtado foi a Moscou negociar acordos comerciais com o governo da antiga União Soviética. O embaixador dos Estados Unidos na URSS deu uma bronca pública no brasileiro, alegando, entre outras coisas, que “você não tem nada o que fazer aqui”.
Furtado reagiu e assinou os acordos comerciais. Poucos meses depois os militares brasileiros e sua estranha vocação nacionalista para entregar o País derrubaram o governo de Goulart.
Permaneceram vinte anos no poder cometendo toda a sorte de abusos, corrupção e barbárie possíveis e não deram ao Brasil uma cara brasileira. O tal nacionalismo e a democracia deles foi a transformação do País em sub produto do imperialismo norte-americano. E são nacionalistas. Imagine se não fossem.
A revolução islâmica deu ao Irã a perspectiva de encontrar-se como país soberano, senhor de seu destino e não cabe julgar valores intrínsecos do islamismo, nem extrínsecos, do contrário se dá o direito de julgar o estranho prazer de norte-americanos por armas de fogo como distração e lazer no final de semana. E nos dias de semana um monte de corpos estendidos nas escolas em vários cantos do país.
No Brasil os militares, militares é bom não se esquecer, venderam a idéia de transformar o país numa potência sob todos os aspectos, nas se resignaram e assinaram todos os acordos propostos pelos EUA. Ou impostos. Depende da ótica de quem vê. O golpe foi fomentado, organizado e patrocinado pelos donos do mundo.
O Oriente Médio historicamente tem sido de suma importância para potências imperialistas. A Grã Bretanha, a França e agora os Estados Unidos. As constantes intervenções militares na região têm um único objetivo. Eliminar governos “inimigos” e controlar o petróleo.
O fim da Segunda Grande Guerra trouxe um ingrediente novo. O estado terrorista de Israel. De principal base militar do imperialismo norte-americano transformou-se em importante fator de decisão dos destinos dos Estados Unidos. Grupos sionistas constituem-se em lobbies de tal força que detêm o controle das políticas chaves no governo de Washington.
As intervenções norte-americanas no Irã começam em 1941 quando os aliados forçaram o xá a abdicar em favor de seu filho Mohammad Reza Pahlavi, no pressuposto que esse lhes seria mais favorável. E foi. Em 1953 a intervenção foi descarada e aberta quando o xá desentendeu-se com Mohammed Mossadegh, primeiro-ministro, que havia nacionalizado o petróleo no país. A Anglo-American Oil Company. Mossadegh foi deposto, o petróleo continuou com ingleses e norte-americanos e o regime de Reza Pahlavi transformou-se numa ditadura escancarada. Era dissimulada. Esse era o propósito real dos que o sustentavam.
Na ótica ocidental o xá modernizava o país. Na visão dos iranianos o xá entregava o país e esmagava religiosos e defensores da democracia. O conceito capitalista de modernizar é o de predação.
A revolução islâmica de Khomeyni trouxe o estado islâmico, mas o direito do povo escolher seus governantes. Foi-se o petróleo de norte-americanos e ingleses. A riqueza nacional passou a pertencer ao povo do Irã.
Desde o primeiro momento norte-americanos insuflaram a ditadura de Saddam Hussein, aliado de Washington à época. A guerra montada e financiada pelos norte-americanos contra o Irã custou milhões de vidas a iraquianos e iranianos. Foi ali que Saddam usou armas químicas e biológicas contra iranianos e fornecidas por seus aliados, os EUA.
Quando achou que poderia voar por conta própria teve as asas cortadas. As mesmas armas químicas e biológicas que já não existiam mais foram o pretexto para a invasão do Iraque no governo terrorista de George Bush.
Saddam, confiando nos EUA, tentou desenvolver um programa nuclear em seu país e as usinas foram bombardeadas por aviões de Israel.
O Irã é uma potência regional. Está situado estrategicamente no centro dos interesses dos norte-americanos e o programa nuclear desenvolvido pelo governo islâmico pode vir a ser o fator de desequilíbrio no Oriente Médio, onde até então Israel tem sido o braço terrorista dos EUA. As políticas de “salvação da democracia” cabem aos norte-americanos. Ou invadem e ocupam, ou compram governos (Arábia Saudita, Jordânia, Egito, Emirados Árabes, etc). O serviço sujo, o terrorismo fica para Israel (tem “tecnologia” de matar dois com um tiro).
A América Latina e particularmente a América do Sul vive um momento de extrema importância em sua história. Começa a perceber-se como bloco de grande força. Governos eleitos pelo voto popular como o do presidente Chávez na Venezuela, Morales na Bolívia, Corrêa no Equador, Lugo no Paraguai, Ortega na Nicarágua e agora El Salvador, transformam-se em pesadelos para os norte-americanos.
Já não é possível mais gritar “você não tem nada o que fazer aqui”.
O presidente Lula encarregou o embaixador Celso Amorim de dirigir e comandar a política externa brasileira. Um notável diplomata e desde a deposição de João Goulart é a primeira vez que o Brasil assume sua cara, suas feições e coloca-se como país soberano. As limitações decorrentes da política econômica de Lula têm sido sabiamente contornadas pelo chanceler Amorim. Os arroubos “modernistas” do PT em busca de cargos e outras coisas mais, da mesma forma, não impediram que o Brasil se transformasse num dos protagonistas principais no mundo de hoje.
O Brasil não tem que explicar nada a Israel sobre a visita do presidente do Irã. A constituição do Irã garante liberdade religiosa a judeus e cristãos. Muçulmanos são tratados como animais no estado terrorista de Israel.
Os EUA são hoje um império em franco declínio. Não significa que estejam batidos ou vencidos em suas políticas escravagistas mundo afora. Em termos de história o declínio de um império não é como um tombo de uma ex-BBB que vira manchete nacional na política de informação e comunicação para Homer Simpson.
A economia do país do negro de olhos azuis já não tem mais a força que tinha e o poder dos ianques está na força militar. A mesma que segundo a revista ÉPOCA – grupo GLOBO – mostra que soldados mulheres dos EUA são vítimas de assédio e estupro por parte de companheiros de farda quando no serviço militar no exterior. Típico de militares norte-americanos e israelenses.
As críticas corretas e precisas ao governo Lula não obscurecem a política externa desenvolvido pelo ministro Celso Amorim. Se na ótica do modelo político e econômico vigente Lula não mudou coisa alguma, mas conseguiu um assento de destaque junto ao resto do mundo, isso se deve menos à economia e mais ao trabalho de Amorim. Mata um leão por dia levando em conta os setores desvairados do governo e principalmente do partido do presidente e dos aliados. Foi a opção de Lula, um capitalismo brasileiro. Ou o neoliberalismo populista.
A visita de Mahmoud Ahmadinejad consolida a posição do Brasil no que chamam concerto das nações.
Se o alinhamento do Brasil não é absoluto com as posturas do Irã, reforça a posição de países como a Venezuela, a Bolívia, a Nicarágua, o Equador que hoje, ao lado da Rússia somam-se no apoio às pretensões iranianas em seu programa nuclear e na construção da nação islâmica democrática.
É uma nova realidade surgindo diante de um modelo estraçalhado pela sua própria gênese de barbárie. É uma luta que vem sendo travada e enormes são os obstáculos. Imensa é a força dos adversários, os donos dos arsenais nucleares.
Não existe atraso e nem volta a tempos medievais no Irã. Existe um novo Irã sendo moldado segundo a vontade de seu povo. Há quem acredite que hambúrguer seja símbolo de modernidade e cultue o semi deus McDonalds. O deus é o mercado.
Com todos os erros que possa ter cometido o presidente Mahmoud Ahmadinejad é a cara desse novo Irã. E certamente Lula haverá de compreender que é preciso avançar mais ainda e dar ao Brasil uma feição que até hoje não fomos capazes de dar. Mas que hoje se mostra possível, factível.
É lógico que os meios de comunicação – braços dos EUA, dos latifundiários, dos grandes empresários/sonegadores, banqueiros – vão tratar o iraniano como ameaça, vão dar destaque aos protestos de governos terroristas como o de Israel e falar das “preocupações” de Obama. Tentam vender esse bicho papão que William Bonner – a face mais visível desse modo mentiroso de ser – chama de Homer Simpson. São pagos para isso e como toda e qualquer elite econômica não têm pátria e nem escrúpulos. Têm interesses.
Mahmoud Ahmadinejad é um dos líderes desse novo mundo que começa a surgir. É natural que venha ao Brasil. Parte desse mundo. É um engano achar que o presidente do Irã vem tentar tirar uma lasquinha no prestígio internacional de Lula. Vem não. Entre os povos árabes Mahmoud Ahmadinejad é um “Lula” bem maior.
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