quinta-feira, 7 de maio de 2009

A REFORMA POLÍTICA – O ESTATUTO DO “CLUBE” - Laerte Braga

Você não começa uma casa pelo telhado. Pelo menos é o que aprendemos desde meninos nas escolas. Há uma ordem natural para se fazer uma casa. Você não reforma um prédio com as estruturas podres. Ele vai cair. Não há como fazer árvore corroída por cupins e morta dar frutos. Ou flores.

As instituições no Brasil estão falidas. É uma conseqüência dentre outros fatores da ditadura militar. Da nossa história de 509 anos. Houve um corte brutal e estúpido no processo político nacional, previsível se olhado com atenção outro processo, maior, mais amplo, o histórico.



A conversa fiada que a História está morta serviu apenas para exibir a nova ordem política econômica, no duro mesmo a grande desordem da globalização. Ou os novos adjetivos dos senhores do mundo.



Reformar o quê? Sequer tivemos uma Assembléia Nacional Constituinte. Mas um Congresso Nacional Constituinte. E um golpe dentro de um outro processo, esse fictício, o da redemocratização. O tal “Centrão”.



A História do Brasil parece que vem a galopes e não difere da outros povos tanto latino-americanos, como de países de outros cantos do mundo. Às vezes o galope é interrompido por uma pedra.



Tanto pode ser um estado novo fascista com Getúlio Vargas. Como um estado novo fascista com os militares, o de 1964. A diferença? O de Vargas não era udenista. Só isso. E de repente a vocação para acreditar em milagreiros e um bêbado corrupto chamado Jânio Quadros eleito presidente da República.



O poder no Brasil sempre foi das elites. E mesmo quando o presidente era Vargas, no período de 1951 até seu suicídio em 1954, ou João Goulart, entre 1961 e 1964. A diferença estava na sensibilidade de Vargas – nesse período – e de Jango diante da realidade social do País. Eram reformistas. E numa época em que reformas significavam avanços.



Hoje os donos se apropriaram da palavra para transformá-la em instrumento de perpetuação no poder.



Lista fechada é isso. Um jeito de manter todo e qualquer Sarney da vida seja de que partido for, eternamente, no poder. O argumento de consciência partidária, de voto partidário não se presta a um País onde os partidos carecem do que defendem ao falar em reforma política – consciência partidária –. São instrumentos de lideranças aqui e ali, um clube de amigos e inimigos cordiais.



É como a disputa entre dois jogadores pela posição de titular. Tanto faz que seja para a lateral esquerda ou para a lateral direita, ou ainda para o meio.



São todos excelências.



A construção da democracia no Brasil não passa por reformas como a proposta ao Congresso Nacional.



Imagine uma lista fechada do partido controlado por Edir Macedo e seus sicários? Ou por Michel Temer? Ou por FHC? Ou por qualquer desses caciques petistas perdidos no ideário de esquerda isso, esquerda aquilo e até não tanto esquerda assim isso, não tanto esquerda assim aquilo.



Lula disse a jornalistas que para governar teve que passar por cima do PT.



Todos eles passam por cima do povo.



Não há um processo político de formação. É de alienação, de culto à personalidade. De lideranças carcomidas e repletas de plásticas, botox, estica aqui e estica ali que geram figuras como Gilmar Mendes e transformam um sujeito desses em ministro do suposto Supremo Tribunal Federal, na prática STF DANTAS INCORPORATION LTD.



Discutindo por dentro, ou seja, estritamente o mérito dessa ou daquela reforma, o financiamento público de campanhas aliado a um programa de debates e ampla participação popular é correto.



O modelo montado e calcado em cima das estruturas partidárias vigentes é a ressurreição das capitanias hereditárias.



Somos um País de corporações. Que sequer segmentos são. Estamentos isso sim. À parte do todo. Um conglomerado em que amigos e inimigos cordiais repartem o poder. O governo Lula aos trancos e barrancos – mais barrancos que trancos – começou a traçar aqui e ali um pálido retrato para dar ao Brasil uma cara. Mas não conseguiu fugir dos limites do clube.



E já existe a ameaça de um novo Jânio, o governador de São Paulo José Serra. Ou um novo Collor, o governador de Minas Gerais Aécio Neves.



Somos um País transformado pela mídia num grande espetáculo onde uma cantora que mal saber cantarolar vira capa de revista e promove noite de autógrafos para o gáudio de todos os que se encantam com o modelo sanduíche com molho escorrendo por todos os cantos da boca e nem temos John Wayne para limpar essa boca com as costas da mão.



A proposta de reforma política com lista fechada vem embrulhada em modernidade, expressão que os donos adoram e traz dentro da caixa todo o repertório de múmias de cada um dos estados brasileiros na esteira do sonho de poder perpétuo de pai para filho.



Por aqui os donos fretam um avião levam repórteres dos principais meios de comunicação do País para anunciar ao cidadão comum (o que Bonner chama de Homer Simpson) a ação “terrorista” de trabalhadores rurais sem terra, enquanto promovem um massacre.



E o presidente da tal corte suprema ameaça chamar o presidente da República “às falas”. Seus interesses e os interesses que representa são contrariados.



Temos um preso político – refugiado – Cesare Battisti –. O embaixador de um governo de fancaria, o do Itália, entra pela porta dos fundos do presidente dessa tal corte e põe e dispõe. Sabe-se lá o que, mas não é tão difícil assim adivinhar sendo Gilmar Mendes quem é.



O presidente do Congresso não tem a menor idéia de quantos diretores existem na casa que preside e que chamam de Câmara Alta, embora esteja por lá desde tempos imemoriais. O da Câmara, a quem chamam de representação popular, não tem a menor idéia do que fazer com a turma dos castelos de viagens ao redor do mundo.



O da República equilibra-se aqui e ali para segurar as pontas e pontos, os nós do governo anterior, um caos absoluto, na tentativa de minimamente avançar um ou outro passo e o faz aos trancos aqui, mas nem tanto ali.



Não tem como reformar uma casa cujos alicerces estão tomados por cupins.



É que nem espingarda de cano torto. Você faz que vai eliminar o bandido e acerta cá embaixo no povo. Tipo assim os israelenses fazem com palestinos em câmaras de tortura. Ou os norte-americanos com civis afegãos em nome de combater o terrorismo.



Aí é um corre corre por conta de uma gripe suína que enche as burras de dois laboratórios enquanto milhões morrem na África. Fome, abandono total, a malária permanece impávida e altaneira até que GLAXO, ou ROCHE tenham cumprido as metas do balanço e possam avançar mais um pouco.



Nessa proposta o cidadão passa ao largo, não há progresso algum e muito menos consolidação da democracia.



É só um jeito de continuar a jogar o jogo sempre com o mesmo time. É lógico, eles não perdem nada, quem perde é sempre a classe trabalhadora.



Estão é fingindo que reformam o estatuto do grande clube de amigos e inimigos cordiais para manter a todos no status de excelências.

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